Guerra
esquisita ou engraçada, foi assim que os franceses denominaram o início do
conflito com a Alemanha de Hitler, em setembro de 1939. Enquanto a Wehrmacht acabava com o exército
polonês, o front ocidental se quedava
tranquilo. Aquela pasmaceira não iludia a França, mas enquanto durasse...
Cerca de 76 anos depois, quase que por um
capricho Vladimir V. Putin, abriu uma estranha guerra no continente
europeu.
Esse conflito
não teve declaração formal. Seguiu-se pouco depois da fuga do ex-presidente Viktor Yanukovich, que o Kremlin acreditava
fosse a sua peça mestra para a vinculação da Ucrânia à zona aduaneira
instituída por Moscou.
Derrubado por sublevação
popular, com fortes traços das revoluções de barricada na Paris do século XIX, gospodin Putin ficou sumamente irritado
com a falta de modos da população ucraniana de escorraçar Yanukovich, fiel
servo do presidente russo, por não haver atendido a aspiração nacional de
associação com Bruxelas e a Comunidade Européia.
As diferenças
entre a união aduaneira com Putin e o acordo com Comunidade Europeia eram demasiado
grandes. Enquanto aquela os condenava à servidão do Estrangeiro próximo, essa faixa de países vassalos do Império de
todas as Rússias, a aliança com Bruxelas lhe abria as portas de mais comércio e
de menos penúria, de mais desenvolvimento econômico e tecnológico, e por
conseguinte a perspectiva de uma vida melhor, de futuro mais risonho.
As guerras
podem variar entre si, na amplitude da violência e do sofrimento. Por mais, no
entanto, que diante do atônito Ocidente, o senhor de Moscou acredite factível
que as potências da Europa e os Estados Unidos possam vir a aceitar projeto que
é uma volta à barbárie, com a invasão da Criméia e a descarada
instrumentalização dos rebeldes ditos pró-Rússia
– é empresa insensata.
Tal
insensatez não pode, nem deve perdurar. O povo russo já sofre com as
estreitezas da guerra. Por mais que se pretenda negá-la, as sanções pontuais e
as exigências do conflito tendem a acirrar a inflação e a penúria, pois apesar
de toda a empáfia de gospodin Putin,
a sua Federação Russa tem pés de barro pelos percalços do petróleo e de
cotações despojadas da antiga pujança.
Quanto ao escândalo de uma agressão fria e
com dúbia motivação de o que não passa
de guerra de conquista, será que o regime Putin, com a sua cleptocracia tão bem
investigada pelo livro da professora Karen Dawisha, terá condições de
manter por muito a ficção de uma invasão sem qualquer outro motivo que os
sonhos infantis de uma colossal apropriação indébita?
Superar
contradições internas – sem falar na atmosfera revolucionária do Cáucaso –
através de aventuras externas não é e nunca será solução para os problemas do
vasto reino do Senhor Vladimir Putin.
A reportagem do New York Times alude à zona fronteiriça de Golovinka, uma pequena vila na estepe do sul, próxima da Ucrânia. No
verão passado essa área, no lado ucraniano, era patrulhada por guardas de fronteira ucranianos. Agora esse
espaço limítrofe está aberto: os
comboios militares russos o cruzam sem qualquer interferência. Nesse sentido, o
caminho está aberto para o contrabando de carvão, armas e carros roubados... Os
símbolos da soberania de Kiev sobre esse rincão desapareceram.
( Fonte: The New York
Times, reportagem de Andrew E. Kramer “Cidadezinha russa perto da Ucrânia,
antes tranquila, hoje é só atividade militar” )
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