Foram concluídas com êxito as longas negociações
nucleares com o Irã. Seis países liderados pelos Estados Unidos – Reino Unido,
Federação Russa, China, França e Alemanha – chegaram a acordo com o Irã.
As negociações
levaram 20 meses para serem ultimadas e a despeito do barulho de Netanyahu (que
chegou a ir ao Congresso americano para apelar contra o Tratado) e das rituais
reclamações do GOP, Barack Obama, com posição consideravelmente reforçada, na
sua apresentação da ultimação do Tratado com o Irã, ladeado pelo Vice-presidente Joe Biden, foi
meridianamente claro que vetará qualquer intento do Congresso de inviabilizar
cláusulas do Acordo.
Quase no fim
do seu duplo mandato, o 44° presidente estadunidense surge consideravelmente
reforçado. Ao quebrar o longo isolamento do Irã, o fez sob condições em que os
interesses do Ocidente são plenamente resguardados. Netanyahu, que mesmo no
próprio país tem a liderança contestada, pelo seu encaminhamento de Israel para
um gueto internacional, e o Partido Republicano, fundado no seu controle
bicameral (tanto na Câmara de Representantes – e tal há de permanecer enquanto
o mal do guerrymander que é o grande fautor da maioria do GOP não for enfrentado
e anulado; quanto no próprio Senado) não hão de prevalecer. Isso se deverá ao
veto presidencial, se os republicanos ousarem tentar barrar com fins
demagógicos o avanço político e diplomático introduzido por essa marcante
negociação.
Obama conseguiu
através de seu principal negociador o Secretário de Estado John Kerry que as
cláusulas do Acordo sejam aprovadas e implementadas, porque o entendimento não
se baseia na confiança, mas sim sobre os poderes de efetiva verificação.
Como o Tratado determina uma nova fase
nas relações internacionais, com a escalonada liberação do Irã das limitações
que lhe eram impostas, a assinatura e a fala de Obama na Casa Branca foram
transmitidas ao vivo para Teerã. Em Viena e na capital dos ayattolahs o Acordo
foi vivamente festejado.
A população
iraniana estava interessada em duas esperadas realizações do Acordo: no fim das
restrições a importações de produtos básicos (entre os quais remédios) e no
golpe vibrado contra a inflação alta, que lhes dificulta sumamente a
existência.
Netanyahu pode
tentar apoiar-se no Partido Republicano, para buscar dificultar ainda a
aprovação pelo Congresso do Tratado. Mas o tal ‘erro histórico’ brandido pelo
porta-voz da direita extremada em Israel, Benjamin Netanyahu, logo se dissipará
quando os seus adversários da vez no Congresso americano se conscientizarem que
não é sensato tentar barrar o acordo como feitor de paz e de progresso.
Mesmo hoje, a
imprensa pode alinhar uma série de tópicos que são suscetíveis de provocar
contestações pelos opositores republicanos. Uma vez o acordo ultimado, haverá
sempre insatisfeitos seja ex-officio (a oposição da extrema direita) que
sinalizarão os pontos por eles julgados
contestáveis.
Não existe, no
entanto, o acordo perfeito, em que as reivindicações de uma das partes sejam
eliminadas, enquanto se mantêm as razões da outra parte. Fora o ‘acordo’
imposto pela derrota militar, todo documento internacional, livremente
contratado, tem que refletir, de alguma forma, os anseios das duas partes. E é meridianamente claro que nessa negociação
um Diktat tipo Versailles não teria a menor possibilidade de êxito. De resto,
se acaso fosse imposto, ele com o tempo cairia, como o seu exemplo.
Para Benjamin
Netanyahu, que preferiria que os iranianos ‘não tenham nenhuma capacidade
nuclear’, o Presidente Barack Obama retrucou que ‘na realidade, envolveria a
eliminação da presença do conhecimento dentro do Irã’. Como isso foge de
qualquer possível realidade, “A questão é, Temos a espécie de regime de
inspeção e salvaguardas e um consenso internacional pelo qual não valeria a
pena para eles desrespeitar tal regime? Com efeito, nós (pelo Acordo)
conseguimos isso”.
Há um outro
campo que à primeira vista semelha propício para ser instrumentalizado pela
oposição republicana. A questão se reporta a um embargo sobre armas
convencionais e mísseis (imposto desde 2006): quando deve ser levantado?
Depois de muito
regatear, o Secretário de Estado Kerry e a sua contraparte, Mohammad Javad
Zarif, dispuseram que as restrições sobre mísseis durariam oito anos, e que uma
similar proibição sobre a compra e venda de armas convencionais seria removida
em cinco anos. No entanto, essas proibições
seriam afastadas se a IAEA (Agência Internacional de Energia Atômica)
chegasse à conclusão definitiva que o programa nuclear iraniano é inteiramente
pacífico, e que não há prova de trapaça no Acordo ou em qualquer outra
atividade que vise a obter secretamente armas.
Dentre as
precauções adicionais ideadas pelos diplomatas está o inusitado procedimento de
que as sanções voltem a ser aplicadas (snap back) contra o Irã, se uma junta de
oito membros determinar que Teerã estaria violando as cláusulas nucleares do
Acordo. Ora, a junta competente no caso se compõe de Reino Unido, China, França, Alemanha,
Rússia, Estados Unidos, a União Européia e o próprio Irã. Se se requer maioria
nesse grupo de oito, fica claro que Rússia, China e Irã não poderiam bloquear a
ação da maioria ocidental.
Todo acordo
com a importância do firmado com o Irã em Viena terá o coro das viúvas
descontentes. Além do conhecido Benjamin Netanyahu, de Israel, repontam as
reclamações da Arábia Saudita e de outros países árabes, que temem a
contribuição do levantamento das sanções que ao fim e ao cabo possam levar a aumentar
o poder de Teerã no Oriente Médio.
( Fonte:
The New York Times )
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