Esse falso
apagão dessa cínica guerra de conquista, que não parece saciar-se nem com a
brutal anexação da Crimeia, perpetrada com os ademanes de um furto – eis que a
tropa invasora envergara indumentária descaracterizada, com que assumiu a
clandestinidade dos meliantes – persiste no seu arrogante menosprezo do direito
internacional público.
Tal
postura margeia o cinismo de grande senhor dos exércitos. Na capital, Vladimir V. Putin é anfitrião de mais
uma reunião desse acróstico que virou grupo, embora o momento não semelhe ser o
mais favorável para muitos deles. Na China, despenca a bolsa; no Brasil, paira
sobre a Presidente o fantasma do impeachment;
e a economia russa depende dos maus humores da cotação do petróleo.
Ao sul, a
Ucrânia é chaga aberta diante da consciência do Ocidente. Por motivos mal
elucidados, mas expressos com ênfase – como se os decibéis da afirmação
repetida pudessem substituir o vazio de obstinada negativa - tanto os Estados Unidos quanto a República
Federal da Alemanha se tem sistematicamente recusado a fornecer armamentos
pesados de defesa para o exército ucraniano.
A
motivação, talvez por ofensiva, não vem acoplada a este Não, que semelha para muitos algo farisáico, eis que, ao mesmo
tempo que acoima Moscou de atos contrários ao direito das gentes, não veste as
palavras do retórico apoio com a concretude da única ajuda que faria sentido
nesta hora.
Por certo,
os mensageiros da mídia sóem aditar que o exército ucraniano é corrupto. Desse
modo, tal semelha funcionar como a mão que tira o apoio desejado – com que as
acusações ao Kremlin corresponderiam a um aceno, que o gesto posterior desfaz –
a perplexidade há de ser a companheira destas admoestações tanto de Barack
Obama, quanto da Chanceler Angela Merkel.
Se a corrupção
é um mal ucraniano, cumpre debelá-la, e o quanto mais cedo melhor. Para tanto,
o Ocidente tem meios para defender-se, criando os mecanismos necessários a fim
de que Kiev, nesta hora extrema, seja provida de meios (e assessores)
especialmente constituídos para assegurar que tais práticas desonestas sejam
extirpadas, e os responsáveis punidos.
Assim como
aos ditadores Adolf Hitler e Benito Mussolini, as palavras
candentes de repreensão e até de advertência seriam risíveis e desprovidas de
qualquer peso, se não fossem acompanhadas de medidas e atitudes que melhor
traduzissem o que a temeridade do invasor faz por merecer. Só mesmo para a estultície e a má-fé é que as
promessas do discípulo Vladimir Putin fazem sentido. Esse
imperialismo de fancaria, especializado em atacar países pequenos e até
maiores, desde que com medíocre defesa, se não arrefece caminho com sanções
pontuais, pelo visto carece de medicamentos mais fortes.
E que
significado terá prover os pequenos países bálticos e outros maiorzinhos, com
alguma tropa e equipamento blindado, se se dá essa mostra de fraqueza, ou quiçá
de hipocrisia, ao despojar-se a retórica ocidental dos instrumentos que a
tornariam mais verossímil – e mais custosa para o agressor – de algo que torne
mais árdua e difícil a invasão daquilo que a Federação Russa costuma chamar,
com um ominoso laivo, de o estrangeiro próximo ?
( Fonte:
The New York Times, O Globo )
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