quinta-feira, 9 de julho de 2015

Na defesa da Ucrânia, basta a Retórica ?

                                 

             A invasão da Ucrânia pela Rússia de Putin continua, embora poucas notícias atravessem o manto de silêncio colocado pela mídia. Se, em verdade, essa coberta é esgarçada por alguns rasgos de notícia, não passam, muitas vezes, de breves clarões que nos trazem rápidas vistas do continuado ataque que parece refestelar-se na persistente negligência do mundo ao redor.

            Esse falso apagão dessa cínica guerra de conquista, que não parece saciar-se nem com a brutal anexação da Crimeia, perpetrada com os ademanes de um furto – eis que a tropa invasora envergara indumentária descaracterizada, com que assumiu a clandestinidade dos meliantes – persiste no seu arrogante menosprezo do direito internacional público.

            Tal postura margeia o cinismo de grande senhor dos exércitos. Na capital, Vladimir V. Putin é anfitrião de mais uma reunião desse acróstico que virou grupo, embora o momento não semelhe ser o mais favorável para muitos deles. Na China, despenca a bolsa; no Brasil, paira sobre a Presidente o fantasma do impeachment; e a economia russa depende dos maus humores da cotação do petróleo.

            Ao sul, a Ucrânia é chaga aberta diante da consciência do Ocidente. Por motivos mal elucidados, mas expressos com ênfase – como se os decibéis da afirmação repetida pudessem substituir o vazio de obstinada negativa -  tanto os Estados Unidos quanto a República Federal da Alemanha se tem sistematicamente recusado a fornecer armamentos pesados de defesa para o exército ucraniano.

           A motivação, talvez por ofensiva, não vem acoplada a este Não, que semelha para muitos algo farisáico, eis que, ao mesmo tempo que acoima Moscou de atos contrários ao direito das gentes, não veste as palavras do retórico apoio com a concretude da única ajuda que faria sentido nesta hora.

           Por certo, os mensageiros da mídia sóem aditar que o exército ucraniano é corrupto. Desse modo, tal semelha funcionar como a mão que tira o apoio desejado – com que as acusações ao Kremlin corresponderiam a um aceno, que o gesto posterior desfaz – a perplexidade há de ser a companheira destas admoestações tanto de Barack Obama, quanto da Chanceler Angela Merkel.

           Se a corrupção é um mal ucraniano, cumpre debelá-la, e o quanto mais cedo melhor. Para tanto, o Ocidente tem meios para defender-se, criando os mecanismos necessários a fim de que Kiev, nesta hora extrema, seja provida de meios (e assessores) especialmente constituídos para assegurar que tais práticas desonestas sejam extirpadas, e os responsáveis punidos.

           Assim como aos ditadores Adolf Hitler e Benito Mussolini, as palavras candentes de repreensão e até de advertência seriam risíveis e desprovidas de qualquer peso, se não fossem acompanhadas de medidas e atitudes que melhor traduzissem o que a temeridade do invasor faz por merecer.  Só mesmo para a estultície e a má-fé é que as promessas do discípulo Vladimir Putin fazem sentido. Esse imperialismo de fancaria, especializado em atacar países pequenos e até maiores, desde que com medíocre defesa, se não arrefece caminho com sanções pontuais, pelo visto carece de medicamentos mais fortes.

           E que significado terá prover os pequenos países bálticos e outros maiorzinhos, com alguma tropa e equipamento blindado, se se dá essa mostra de fraqueza, ou quiçá de hipocrisia, ao despojar-se a retórica ocidental dos instrumentos que a tornariam mais verossímil – e mais custosa para o agressor – de algo que torne mais árdua e difícil a invasão daquilo que a Federação Russa costuma chamar, com um ominoso laivo,  de o estrangeiro próximo ? 

  

( Fonte:  The New York Times,  O Globo )

 

 

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