Afinal o Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan concordou em entrar na coalizão contra o Estado
Islâmico. Com a sua fronteira
sul-oriental lindando com a Síria e, portanto, com toda a sua região norte –
assim como na sua extremidade sul-oriental com o Iraque – avulta a relevância
estratégica da Turquia no combate ao ISIS.
A adesão de
Âncara à coalizão liderada pelos Estados Unidos aumentará a eficácia e a
possível intensidade dos bombardeios aéreos contra Raqqa, a ‘capital’ do ISIS,
assim como no que concerne a outros objetivos dos aviões e drones da
superpotência. Tenha-se presente que a rota de ataque se encurta deveras –
antes as aeronaves da coalizão tinham de
decolar de bases no Golfo Pérsico – e agora partem da base aérea turca de
Diyarbakir, no sul-oriental da Turquia, relativamente próximas de Kobani que é
cidade turca colindeira com a Síria.
A Turquia,
apesar de estar próxima ao ISIS, até o presente só permitia a aterrissagem de drones
(empregados na ofensiva contra o Exército Islâmico) em suas pistas de pouso
nas bases de Incirlik, Diyarbakir e
Batman, no sul do país, próximas de suas
fronteiras com a Síria e o Iraque.
O Presidente
Barack Obama tem enfatizado que os Estados Unidos não lutam sozinhos contra o
ISIS. Formam parte da coalizão, liderada por Washington, além do Reino Unido e da Austrália, no que
tange ao Ocidente, também grupo de países árabes sob domínio do credo sunita
que são Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Jordânia e Qatar.
A essa aliança
se deve agregar agora a Turquia que até o presente mantinha com o Exército
Islâmico uma postura defensiva e, por conseguinte, não beligerante.
Esta adesão de
Âncara não vem, no entanto, de graça para o Ocidente. Na sexta-feira 24 de
julho a Turquia bombardeou alvos do Exército Islâmico em território formalmente
sírio (o E.I. avançou sobretudo na ‘terra de ninguém’ da área oriental síria,
em que atuam o governo Assad, a Liga Rebelde e, agora, com maior ênfase, o
ISIS).
Esse ataque turco ao ISIS teria sido retaliação a
incursão islâmica que matara, na quinta 23, um soldado turco e deixara dois
feridos, em posto de fronteira. Este seria o ‘primeiro passo’ na ofensiva
contra os militantes do E.I., juntamente com o ingresso de Âncara na coalizão,
consoante afirmou Recip Erdogan.
No entanto,
junto com a adesão à coalizão ocidental,
Erdogan afixou um preço à tal iniciativa. O Presidente turco observou
que seria igualmente visado o grupo separatista curdo PKK (Partido dos Trabalhadores
do Curdistão).
Ambiguamente,
Erdogan mencionou que no seu telefonema para Barack Obama – na quarta-feira,
dia 22 de julho – ele “reiterara a determinação na luta contra a organização
separatista e o Estado Islâmico.”
Erdogan, por
certo, está misturando alhos com bugalhos. Não há nenhuma colusão entre curdos
e o ISIS. Muito pelo contrário, os peshmerga estão empenhados em defender o
Estado Curdo (que faz parte, por ora, do Iraque, e que foi parcialmente
invadido pelo E.I., que se apossou inclusive da populosa Mossul). Os soldados
curdos – que são superiores aos iraquianos (talvez com a exceção da milícia
xiita) – não têm qualquer acordo com o E.I., e na medida de suas possibilidades
procuram enfrentá-los.
Por
conseguinte, a postura de Recip Erdogan é duplamente negativa. Não interessa em
princípio à grande minoria curda na Turquia a retomada da confrontação do
passado, embora esta pareça ser o desígnio de Erdogan. Como se sabe, a sua
posição política se enfraqueceu deveras, e o seu propósito de implantar o
presidencialismo na marra deu chabu. A sua iniciativa de atacar os curdos pode
ter, assim, muito da intenção de voltar a demonizar essa importante minoria, de
modo a incrementar, às custas dos curdos, a sua popularidade, e consequente
volta aos respectivos projetos autoritários. Não é um curso que, ao parecer,
aproveite à democracia turca.
( Fonte: Folha de S.
Paulo )
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