Para bem entender o que está
ocorrendo com a economia brasileira, precisamos ter em mente uma série de fatos
incômodos, negativos, mas infelizmente verazes.
O erro
primitivo - e o que se acha na base de tudo - está na escolha por Lula da Silva de sua chefa de gabinete Dilma
Rousseff para sucedê-lo. Infelizmente, o nível do eleitorado brasileiro,
sobretudo aquele ao norte, não tem o discernimento e a liberdade de escolha
própria dos países mais desenvolvidos.
Foi tendo
presente essa precondição, que chamei o Presidente Lula de Coronelão, eis que agiu com a mesma desenvoltura de os Chefes
políticos do Nordeste. Como no antigo ritual mexicano – hoje superado porque lá
não mais existe o predomínio absoluto do antigo Partido Revolucionário
Institucional (PRI) – Lula ‘destapou’ a sua preferida, que, dentre os quadros
do Partido dos Trabalhadores, não era decerto a mais preparada. A sua decisão
se deveu exclusivamente a interesse pessoal, eis que contava com isso assegurar
a própria volta já na eleição de 2010.
Lula terá
sido advertido de que poderia melhor escolher, mas optou por ir em frente, sob
a premissa de que voltaria ao poder em 2011. Se as objeções tinham peso, ele
não computou devidamente a influência de Presidente em exercício. Assim, a
força do cargo, apesar de dados negativos já existentes (os quais, junto com o
escândalo do Petrolão, viriam à tona com mais força depois da reeleição de
Dilma), afastou, com surpreendente facilidade, a pretensão da maior figura do
Partido.
O estelionato
eleitoral funcionou primo para afastar Marina,
a candidata que o PT mais teme, e, em
seguida, para vencer, ainda que por pequena margem o adversário Aécio Neves, no segundo turno e seria
descoberto pós-pleito, com a consequente desestabilização da reeleita
Presidenta, e a sua vertiginosa queda nas preferências de ulteriores pesquisas,
até chegar à casa de um dígito.
Essa casa,
pela fraqueza de seus alicerces, está exposta a toda espécie de intempérie, a fortiori pela compreensível revolta do
Povão em ter sido iludido por dona Dilma
e o feiticeiro João Santana.
A quadra
atravessada pelo Brasil seria ruim sem circunstâncias mitigantes, se o cenário
atual se confinasse ao Dilma II e ao incrível Congresso eleito nos últimos
comícios. Por outro lado, o Supremo Tribunal Federal, com a partida
infelizmente antecipada de Joaquim Barbosa, e de suas últimas aquisições, não
inspira grandes esperanças, com a Presidência de Ricardo Lewandowski, e a
inflacionária proposta de aumento dos vencimentos da Magistratura.
Nesse quadro,
a presença do Ministro Joaquim Levy na Fazenda, se depara com enormes
obstáculos que para resumir se cingem ao Dilma I (ou a herança maldita de
péssima gestão sobretudo nas finanças públicas) e ao Congresso atual, com
chefias que têm suas próprias agendas (que não são decerto as da Nação).
O Ajuste
Fiscal tem sido a vítima da vez. As causas do descalabro são demasiado
evidentes: a incrível fraqueza do Poder da Presidente, incapaz de controlar a
maioria que foi eleita junto com ela, mas que pelo seu interveniente
enfraquecimento e a singular incompetência do principal auxiliar dela para
coordenar as bancadas que nominalmente deveriam apoiá-la, está produzindo criaturas
com um misto de demagogia e de irrealismo econômico financeiro. Assim, o
Ministro Levy assiste, impotente, ao Ajuste Fiscal ser quase transformado pelo
Congresso em bebê de Rosemary.
Dilma foi
buscar um bom quadro, que em ambiente de sanidade político-econômica
principiaria a consertar as loucuras do Dilma I, que, infelizmente, estão na
raiz de todo o drama (que pode transformar-se em tragédia).
Defronte
de uma realidade adversa, o Ministro da Fazenda tem feito o seu papel, com a
habitual dignidade e eficiência. Mas ele não pode fazer milagres.
Com a
recessão a pleno vapor, as notícias são ruins e prometem assim continuar.
Dessarte, o rendimento real do brasileiro, descontada a inflação, caíu de 2,1% de janeiro
a junho em relação ao mesmo período de 2014 (pior semestre desde 2004!); o
número de desempregados cresceu 45%, involuindo para 1,7 milhão. Este maior
desemprego, com a renda encerrando o ano
em baixa de 4%.
Como sói
ocorrer em tais circunstâncias, o desemprego será sempre maior entre os mais
jovens (de 18 a 24 anos). Essa faixa menos experiente deu um salto em um ano de
12,3% para 17,1%. Além disso, o número total de desocupados subiu 44,9% para 1,7
milhão. São as crias da irresponsabilidade fiscal de Dilma Rousseff em seu
primeiro mandato, com os erros na energia (o ‘presente’ de subsídio na conta
elétrica) e na economia em geral, com as renúncias fiscais nos impostos dos
carros (favorecendo as ‘feitorias’, na verdade as sucursais estrangeiras da
empresa automobilística infelizmente desnacionalizada há muito tempo atrás).
Tampouco a inflação – que dona Dilma também trouxe de volta – anima, com 10% no
Rio de Janeiro, o que é uma volta aos dois dígitos que nos relembra um tempo
que pensávamos vencido com o Plano Real.
A
decisão do Governo Dilma de redimensionar o ajuste fiscal, com a renúncia na prática deste ano de
realizar qualquer superávit fiscal
representa um senhor balde de água fria. O mercado, como de hábito, reagiu com
o incremento da cotação do dólar tanto de turismo
(R$ 3,76), quanto o comercial (R$
3,296).
E em
tempos maus, os mouros na costa
aumentam. A agência Fitch, de
classificação de risco, indica que a nova meta fiscal terá influência negativa
na nota de crédito do Brasil (se a divida bruta aumenta, e o superávit fiscal é
baixo ou inexistente, a conclusão da Fitch semelha previsível).
Como se
tal não bastasse, encaminha-se o julgamento pelo Tribunal de Contas da União,
das contas do ano passado do Dilma I. Ao contrário de o que noticia O Globo, o TCU nunca rejeitou contas de Presidente em funções. Há portanto uma
tradição que sinaliza para a aprovação, com observações eventualmente
negativas.
Sem
embargo, o relator do processo das chamadas ‘Pedaladas Fiscais’, o Ministro
Augusto Nardes, tem dado algumas sinalizações negativas, o que poderia
significar recomendação de rejeição. Mas aí entram os demais ministros, com uns
votando a favor de Dilma, e outros, contra.
Esse cômputo só se saberá, uma vez concluído. Dada a realidade política, os diversos
fatores em jogo – de uma parte os ministros governistas, de outra os que se
alinhariam ao voto contrário – nos levam à conclusão de que tudo pode
acontecer...
( Fontes: O
Globo; Folha de S.Paulo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário