O Fenômeno Donald
Trump
Talvez o número exagerado de
pré-candidatos republicanos – dezesseis
hoje com o governador do Ohio, John Kasich – já seja uma das causas
da súbita revelação de Donald Trump.
Depois de
patinar nos 4%, e caracterizado como mais um patético intento do magnata e
bilionário Trump, de repente o eleitorado do GOP começou a gostar da irreverência e da franqueza de Trump.
Hoje ele tem 24% nas preferências, seguido de longe
pelo governador do Wisconsin Scott Walker (13%) e o badalado Jeb Bush (12%), ex-governador da Flórida, da dinastia dos Bush, que já tem
dois presidentes, o pai George Herbert
Walker Bush, de um só mandato
(1989-1993) e George W. Bush, com
dois mandatos, e principal responsável pela desastrosa guerra do Iraque.
No entanto, o
seu violento ataque contra o Senador John
McCain, candidato (derrotado) em 2008 por Barack Obama repercutiu mal no
meio republicano, eis que McCain é político respeitado e que serviu no Vietnam,
tendo caído prisioneiro, e sido torturado pelos comunistas. Especula-se que essa investida será o princípio
do fim da pré-candidatura de Trump, mas
tal ainda está longe de ser confirmado.
Os pundits (entendidos) comparam, por ora, a sua trajetória a um voo de galinha, destinado a ser breve,
como é o exemplo de tantos outros pré-candidatos em eleições do passado que
luziram com brilhantes e inesperadas performances, para em seguida
desaparecerem na raia miúda.
De toda maneira,
Trump continua com os seus 24% e a
corrosiva franqueza, com que intenta desconstruir os seus (muitos) adversários
pré-candidatos. Na maioria dos casos, o
pelotão republicano está formado por comovente associação de has-beens (já foram), como os
pré-candidatos Mike Huckabee, Rick
Santorum e Bobby Jindal, que comparecem sempre para darem chabu em seguida...
Ao contrário da
eleição de 2008, em que a sua candidatura acabou naufragando nas primárias,
depois de titânica luta com um rival até então quase desconhecido, de nome
Barack H. Obama, Hillary Clinton continua
praticamente sozinha no campo democrático, eis que o Vice Joe Biden não
aparenta decolar e a Senadora Elizabeth Warren não está interessada por ora em
pleitear a Presidência.
Como todo front runner ( corredor dianteiro),
Hillary tem o problema de manter a própria vantagem e evitar as armadilhas que
perseguem os favoritos. Na imprensa, os Clinton cultivaram sólidas inimizades,
das quais o New York Times, com todo
o seu peso de maior jornal americano, não é exatamente um dileto amigo da
família Clinton.
A esse
propósito, gostaria de reportar-me a um artigo na New York Review of Books,
datado de 25 de junho, do respeitado articulista político Michael Tomasky, de que passo
a citar trecho com o qual estou de inteiro acordo:
“The New York Times vale a pena nesse contexto tê-lo bem presente (o autor se reporta a possíveis ataques mal-disfarçados da grande mídia
à candidatura de Hillary). Irá endossar (a candidatura) de Hillary, quando
chegar a hora, mas questão muito mais importante será como ele usará suas páginas de noticiário para escrever acerca da
candidata entre agora e na data de então (confirmação de sua candidatura pela
Convenção Democrata). Foi chocante que o
(New York) Times tenha baseado uma reportagem sobre Clinton Cash (o dinheiro
em espécie dos Clinton),um livro com
óbvia motivação política que foi escrito por um antigo assessor de políticos republicanos, alguns deles gente
muito de direita. O jornal que deu muita
força à estória de Whitewater em 1992
(contra o candidato democrata Bill Clinton) e em 1998 publicou uma série de
editoriais caluniando Bill Clinton e elogiando o promotor Ken Starr agora está
aparentemente preparado para continuar nessa tradição. Em semanas recentes o Times publicou mais dois artigos nessa linha, um sobre o irmão de
Hillary, Tony Rodham, e outro sobre o confidente dos Clinton, Sidney
Blumenthal. É de perguntar-se se (The New
York Times) empregará recursos similares para investigar Jeb Bush ou outros
prospectivos candidatos republicanos parece uma pergunta oportuna (fair)’”
É importante
assinalar para que se dê o peso devido à posição de Michael Tomasky, em aval da
advertência por ele feita, está a ponderada e equilibrada análise por ele
feita, eis que não omite no artigo citado aspectos potencialmente negativos para
o casal Clinton.
Acompanhando não de hoje a cobertura do Times à então candidatura de Bill Clinton à presidência, ela sempre
me parecera bastante negativa. Uma vez diante da continuada preferência por um
viés contrário ao candidato democrata, havido então como anti-establishment Bill Clinton (vindo do pequeno estado sulino de
Arkansas), e perguntada dos motivos pela campanha Clinton, a redação do
Times apresentou como resposta que o tratamento corresponderia ao
chamado tough love (amor bandido, em tradução livre)...
Talvez esse apoio merecesse ser
apresentado em outro contexto, com a seguinte frase: com tais amigos, os Clinton não
precisam de inimigos...
( Fontes:
O Globo, The New York Times )
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