A Folha de S.Paulo noticia
em primeira página que o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva acionou
amigos comuns para contactar o antecessor Fernando Henrique Cardoso.
Nesse contexto, semelha oportuno assinalar que Lula da Silva não manteve, nos
seus oito anos na presidência, qualquer contato
com FHC.
Assim,
quando Dilma Rousseff, em seu
primeiro mandato, convidou Fernando Henrique a Palácio, este ao agradecer-lhe a
gentileza, não deixou de assinalar-lhe a diferença da atitude com a de seu
predecessor na Presidência.
Compreende-se, por isso, tanto a
circunstância de sentir-se obrigado pelo gesto da Presidente, quanto a
estranheza no que tange à frieza do sucessor.
A fortiori,
a despeito da iniciativa de Lula da Silva, o Instituto Lula – a entidade que se
ocupa dos múltiplos contatos e interesses do ex-presidente – apressou-se em
afirmar que o petista ‘não tem interesse em falar com o tucano’.
Esse aparente – e contraditório – recuo de
Lula da Silva, expresso por instituto que representa através de seu diretor o senhor Paulo Tarciso Okamotto
a vontade e os projetos do ex-presidente, poderia ser entendido como eventual
irritação de Lula com o vazamento da notícia, que atribuiria à iniciativa do
seu antecessor no Palácio do Planalto.
Malgrado as
mensagens que se contradizem, FHC fez saber que aceita conversar. Mas – o que
se depreende por não ser ele a parte interessada – vai esperar a
iniciativa do sucessor: “ O Presidente
Lula tem meus telefones.”
Segundo
explica a reportagem da Folha, publicada após a chamada em primeira página, no
espaço interior (pag.4) do Tema ‘Poder’, o móvel da conversação seria a
autorização de Lula a amigos em comum a procurar seu antecessor e propor uma
conversa entre os dois sobre a crise política.
O objetivo imediato é conter as pressões pelo impeachment da presidente
Dilma Rousseff.
Sabedor da iminente viagem de Fernando
Henrique a Europa, Lula disse a aliados que a conversa poderia ser por telefone
e antes de FHC viajar.
O
ex-presidente tucano preferiu evitar seja um contato telefônico, seja mesmo a
definição do encontro, deixando a questão para ser discutida na sua volta ao
Brasil, em agosto.
Não é a
primeira movimentação de Lula da Silva. Encontrou-se, em maio último, com o
Senador José Serra na festa de um amigo comum e o chamou para conversa
reservada.
O
tarimbado Lula tem a intenção, segundo indica a reportagem, de buscar um
conciliador na oposição, para
tentar dissipar, pelo menos dentro do
PSDB, as forças que trabalham pelo impeachment da presidenta.
Por
e-mail, segundo revela a Folha, Fernando
Henrique assim se expressou:“ O presidente Lula tem meus telefones e não
precisa de intermediários. Se desejar discutir objetivamente temas como a
reforma política, sabe que estou disposto a contribuir democraticamente. Basta
haver uma agenda clara e de conhecimento público.”
O
ex-presidente Lula vem debatendo com seus auxiliares durante meses a decisão de
buscar reaproximação com os tucanos. Os
petistas sabem que a radicalização da campanha presidencial de 2014, em que
Dilma atacou o Presidente Fernando Henrique Cardoso, tornou mais difícil o diálogo com o PSDB.
Por
outro lado, decerto não surpreende que entre os tucanos há muitas dúvidas sobre
a eventual conveniência de conversa que tenha como tema a governabilidade de Dilma. Até mesmo tucanos moderados, que
hoje ainda são contra o impeachment, temem, com fundadas razões se pode
acrescentar, que um diálogo com o PT seja visto como conchavo e arranhe a
imagem do Partido.
Além
disso, e nessa altura do campeonato, cabe perguntar a cui prodest[1] dar ouvidos ao canto de sereia de Lula
da Silva. Será que os tucanos já se olvidaram de outra oportunidade perdida
pelo PSDB – na época o candidato era Geraldo Alckmin – quando do estouro do
escândalo do Mensalão, e a chorosa alocução de Lula na tv?
Agora,
na vigésima-quinta hora, Lula bate à porta pronto para conversar e não só
salvar a pupila da enrascada em que está metida, mas também ele próprio das três
Erínias[2]
que buscam vingança pelos seus desatinos.
Mais
parece conversa para boi dormir. Assim,
segundo terá feito divulgar “o ex-presidente debateu com seus auxiliares
durante meses a decisão de buscar reaproximação com os tucanos”. E agora está
arrependido da radicalização de Dilma, nos seus ataques na campanha
presidencial contra FHC...
Lula é
muito esperto, talvez depois de Getúlio o mais hábil político nas rasteiras que
aplica naqueles ou naquelas que se atravessam no seu caminho... Nesse contexto,
o que se tentou fazer contra e o quê efetivamente se fez contra Marina Silva
tanto nos meses anteriores, quanto na própria campanha diante dessa grande
ameaça à candidata petista constitui na verdade um claro enigma que clama por
ser desvendado...
E diante
disso tudo, será mesmo que ainda existe gente que pensa poder sair com algumas castanhas depois de
conversar com ele?
( Fontes: Folha de
S.Paulo, O Globo - apud Ricardo Noblat; Dicionário
Mítico-Etimológico, Junito Brandão, vol. I, Ed. Vozes )
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