Quero crer que os meus leitores se
recordarão das Cartas ao Amigo Ausente, homenagem
por mim prestada neste blog, a
propósito da partida, infelizmente definitiva, do grande amigo e colega Pedro Carlos Neves da Rocha.
Nessa série em correspondência, que
comecei a escrever ainda em Atenas, na qual busco lidar com o luto pela sua
saída à francesa da existência –
porque se houvesse solicitado licença aos amigos, não a teria recebido – bem me
recordo haver assinalado que, em tempos de admiração e quase idolatria ao líder
do Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva, Pedro nunca aderiu ao
então imenso cordão de quem se propunha a nele votar no primeiro pleito do
século XXI.
A grande
maioria da Nação achava que Lula merecia-lhe a confiança, após os três pleitos
em que fora derrotado por Fernando Collor de Mello (1989) e Fernando Henrique
Cardoso (1994 e 1998). No entender da
maioria da Nação, Lula já havia completado o seu duro aprendizado e mereceria a
presidência.
A despeito de
nossas instâncias – de Augusto Rezende e minhas – Pedro sempre se negou a
engrossar esse cordão, e a sua argumentação era simples, e para nós, na época,
parecia demasiado simples. Pedro dizia que para tão alto posto, preferia
sufragar quem tivesse curso superior completo. Então, não compreendíamos tal
postura. Mais tarde, sem embargo, eu entenderia o alcance da restrição posta
por meu velho amigo. E tendo presentes os fastos da Administração petista,
acrescida agora de tantas outras ocorrências,
para mim, hoje, se me afigura muito difícil asseverar que Pedro não tinha razão, que era preconceituoso, etc. e tal...
Por isso, o
que na época nos parecia – ao Rezende e a mim – como simples e, no capítulo, descabido
preconceito, surge agora de modo muito diferente.
E estou mais
do que certo que o meu grande amigo concordaria comigo, e como era de seu
feitio, não tentaria carregar nas tintas, e gabar-se da acertada e fundada previsão.
Ele não viveria para presenciar os grandes erros e os crimes do regime petista,
embora em 2006 já se entremostrassem alguns.
O primeiro
deles, o Mensalão, já estourara. Quem não se recorda do filmete do
diretor corrupto dos correios, embolsando negligente uma propina de três mil
reais? A partida estrepitosa da Casa
Civil de José Dirceu e falando em
discurso de despedida do seu governo
dele! E o pedido de desculpas à Nação do grande líder, de quem a esposa tratara
de obter passaporte italiano?
Nada disso
deteve a vaga do PT, como se fora a nave do futuro. A ponto de que em 2010, por
inépcia tucana e do próprio candidato José
Serra – que, a princípio, julgara até oportuno ligar o seu vagão à
locomotiva petista – não é que, com relativa facilidade, o torneiro mecânico,
ora estadista, emplacou a sua moça de algibeira, que nunca antes concorrera a
pleito algum – e chamada nas imensas plagas do Bolsa Família de A mulher do
Lula –ela mesmo, Dilma Rousseff.
Pela esperteza
canhestra de Lula da Silva – o qual apesar de advertido por figurões do PT –
achou boa a jogada de elegê-la, de modo a ter maior liberdade (e arbítrio) se
desejasse voltar já em 2014. Todos sabemos – até mesmo o personagem da Velhinha
de Taubaté – como isso terminou, com o estelionato eleitoral dos últimos
comícios, não sem a destruição prévia da reconhecida maior ameaça, que era e é
Marina Silva.
Esta, do
primeiro para o segundo turno, foi destruída por mentiras e calúnias que não
podiam ser respondidas dado o aparelhamento do sistema. Conseguiram, dessa
forma, afastá-la do turno decisivo. Não
se tenha qualquer dúvida, de resto, que o PT teme mais Marina do que Aécio, porque nela reconhece a
opositora de caráter, que não nega a própria identidade com o povo, de quem é a
imagem verdadeira, sem arrivismos, da militante honesta e sem manchas.
A sabedoria
popular reza que a mentira tem as pernas curtas. Da dílmica empáfia dos debates de primeiro turno
e das escrachadas mentiras do segundo, e na qual os efeitos do Petrolão apenas
se entreviam, nunca na história republicana houve um desmoronamento tão óbvio
quanto se deparou para o Povão, em que as arrogantes lorotas da propaganda
oficial não mais se sustentavam, e a
Verdade vinha cobrar a sua libra de carne, que lhe fora denegada pelas astúcias
de curto pavio de mestre João Santana, assim como o portentoso 171 que, com
arrogante descaramento, passara esse
conto do vigário ao eleitorado.
Que a
despudorada velhacaria petista iria desabar sobre a candidata já era mais do
que provável, com tal amontoado de tretas e mutretas. Contudo, surpreenderia a
sua força, que ora se reflete no pífio guincho de nove por cento de aprovação.
Se isto não é a antecâmara do impeachment, como semelha crer esse mago que vem às
carreiras pensando tudo resolver com mais um filmete para dar o dito por não
dito, e tudo ‘explicar’ para o que pensa
crédulo povão.
A Presidente não é do ramo. Por
isso, e de acordo com muitos de seus correligionários, carrega nas tintas, e
como o general Figueiredo, tenta ‘recrudescer’. Por outro lado, além de
exagerar no tom – como pareceu até a políticos do seu partido – ela tenta
inibir a ação dos Tribunais (o TCU, nas pedaladas, e o TSE, nas contas
eleitorais mal-explicadas).
O PT está chamando de ‘golpe’ o
discurso do PSDB. Para José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara,
Aécio seria o “porta-voz do golpe”.
A principal – e mais
pesada – acusação de forças políticas é a de Dilma adotar atitude “imperial” e
de tentar “constranger” instituições que estão conduzindo investigações sobre
as suas contas (Tribunal Contas da União) e sua campanha à reeleição (Tribunal
Superior Eleitoral). Enquanto as pedaladas já são de domínio público, o são
menos as contas da eleição.
Nesse contexto, Aécio Neves
(MG), presidente do PSDB, disse ver a petista fragilizada. Rebateu a sua
increpação de que os rivais tem ‘posição golpista’: “Discurso golpista é o do
PT, que não reconhece os instrumentos de fiscalização e de representação da
sociedade.”
Se
o retrospecto das duas instituições não
assegura o que vá ser produzido, dados os antecedentes e a constituição
respectiva, há outros fatores em jogo – dos quais não é dos menores o sentir da
sociedade – e, por isso, uma vez mais seria imprudente vaticinar o que vá sair
de juízes e tribunais, que decerto julgarão pelos autos. Resta saber o quê, em
meio aos clamores da sociedade, lograrão neles ver para fundamentar os
respectivos juízos.
( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )
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