Lula espera por Godot?
Desde algum
tempo a mídia escreve sobre a espera de Lula. Ricardo Noblat, na sua
bem informada coluna da 2ª feira, já se referiu ao temor do ex-presidente em
receber comunicação ligada à Lava-Jato, essa operação que está
mexendo com muitos intocáveis do Brasil.
Na VEJA que
apareceu nas bancas neste fim-de-semana, surgiu na capa foto de Luiz
Inácio Lula da Silva, que parece ter saído de algum teatro de horror ou de
capela de cemitério.
O título
casa com a catadura do ex-presidente, eis que sua barba grisalha repousa nas letras
quase garrafais “A VEZ DELE”.
É o que
muita gente ora se pergunta. Terá chegado realmente a hora? Tudo dependeria de
um traidor da pátria (na versão de Dilma Rousseff), ou de fonte da chamada delação
premiada - que tem assegurado o sucesso da Operação.
Fechado o
cerco pelo Ministério Público Federal, resta aos partícipes no festival de propina
que assolou o país e notadamente a Petrobrás, as seguintes opções : uma vez
condenado, cumprir pena integral em uma das maravilhosas cadeias de Pindorama,
ou se revelar quem foi (foram) o(s) beneficiário(s) do suborno assegurar saudável
redução e a certeza de escapar da eventual sorte adversa dos que sabem demais.
A revista
VEJA tem de trabalhar com o condicional. A delação premiada é instituto válido
e legal. Por uma vez, ao invés das negativas rituais ou de estórias para boi
dormir, o delator tem de ser veraz. Se não for, a verdade sói ser rápida e
implacável, como aconteceu com uma das fontes, que pensou estar aberta a
temporada das mentiras. O MPF não é bobo, e ele já está pagando, com juros, o
preço das próprias fabulações.
Mas voltemos aos tempos verbais da revista
da Editora Abril. Afinal os interrogatórios e as buscas, como
em todo bom filme policial, encaminham
para a hora da verdade.
Na lição que
nos é dada pela VEJA, “Léo Pinheiro era operador da empreiteira OAS em
Brasília. Lula era presidente do Brasil e operado pela OAS. Na linguagem dos
arranjos do poder baseados na troca de favores, operar significa, em bom português, comprar. Agora operador e
operado enfrentam circunstâncias
amargas. O operador esteve até pouco
tempo atrás preso em uma penitenciária em Curitiba. Em prisão domiciliar,
continua enterrado até o pescoço em suspeitas de crimes que podem levá-lo a
cumprir pena de dezenas de anos de reclusão. O operado está assustado, mas em liberdade. Em breve, Léo, o operador,
vai relatar ao Ministério Público Federal
os detalhes de sua simbiótica convivência com Lula, o operado. Agora
o ganho de um significará a ruína do outro. Leo quer se valer da lei
sancionada pela presidente Dilma Rousseff, a delação premiada, para reduzir
drasticamente sua pena em troca de informações sobre a participação de Lula no
petrolão, o gigantesco esquema de corrupção armado na Petrobrás para financiar
o PT e outros partidos da base aliada do Governo.” (Cf. Veja, pág. 52, número
de 29 de julho corrente.)
Há muitos
outros detalhes envolvidos na delação premiada de Leo Pinheiro. Tudo depende, no entanto, da disposição do operador
em revelar a sua verdade, que será checada pela Justiça, a começar pelo
Ministério Público Federal.
A notícia é
de suma relevância, mas dependeria da vontade de uma pessoa. Está, portanto, no
condicional. Se Leo Pinheiro for em
frente, a história do Brasil começa a mudar.
Jogos internacionais continuam a ser via para a liberdade?
Mais uma vez,
os certames desportivos podem ser porta para a liberdade. Abrir embaixada em Washington, como está
previsto, não há de alterar a vidinha dos cubanos sob Raul Castro, pelo menos,
por ora.
Contudo, se
os atletas fazem parte da delegação cubana, estão com a documentação em ordem,
e os jogos se realizam alhures, eles têm uma boa oportunidade de escaparem das
garras do paraíso dos irmãos Castro. O que é necessário será apresentar-se à
autoridade americana. Em consequência, não são colocados em processo de remoção
expressa e ao cabo de um ano têm o direito de pedir asilo.
Agora, se
eles chegam por mar, e são os chamados pés
molhados, são deportados sumariamente. O que não acontecem com quem
documentação e chega por terra, os ditos pés
secos, que tem eventualmente direito a asilo.
A Veja se reporta, no caso, aos pugilistas
cubanos Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux, que escaparam do
Pan 2007 (no Rio), mas foram presos pela Polícia fluminense, e depois, em
vexame para regime que se diz democrático, foram postos num avião, por ordem do
Ministro da Justiça, Tarso Genro, e mandados de volta
para o paraíso cubano.
A Rússia de Putin imita a URSS de Stalin
Já
referi nesse blog a facilidade com
que gospodin Vladimir
V. Putin alterou a atmosfera política na Europa Oriental. Sob o pretexto da derrubada de presidente
filo-russo (Viktor Yanukovitch), em princípios de 2014, por força da
revolta nacional ucraniana com a imposta escolha pela União Aduaneira propugnada pelo
Kremlin, e a negação da via européia
ocidental, através de acordo com Bruxelas,
Putin mandou acionar plano pré-preparado para invadir e anexar a
Criméia.
A
lamentável guerra de conquista dirigida pela Federação Russa contra a Ucrânia
continua desde então, já ultimada a ilegal anexação da Península da Criméia
(que pelas sanções intervenientes, vive em espécie de limbo legal, eis que, v.g. cartões de crédito internacional lá
não podem ser utilizados, nem ter serviço de vôo por companhias aéreas internacionais).
Prossegue, em meio a cínicos e oportunistas acordos temporários de cessar
fogo, com a suspensão de hostilidades, os chamados acordos de Minsk, que são
firmados de uma parte pela Ucrânia (com a suposta colaboração da UE
representada por Alemanha e França), e de outro, a Federação Russa, com os seus
protegidos, os chamados Separatistas pró-Rússia.
Em
declarações que espantam pela má-fé, o Ministro russo de Relações Exteriores, Sergey Viktorovitch Lavrov,
lamentou a ausência dos Estados Unidos nas negociações. Para ele – e é aí que se acha a má-fé – Washington deveria participar
das conversações no futuro, porque quem está desrespeitando os acordos é a
Ucrânia (sic).
Lavrov, hábil Ministro, deve saber perfeitamente que quem desrespeita os
acordos são Moscou e seus protegidos, os ditos Separatistas pró-Rússia. Na
verdade, esses ‘separatistas’ são invenção russa, e eles só existem para tentar
coonestar a agressão que está sofrendo a Ucrânia, agora na cidade costeira de Mariupol.
Segundo Obama, a Rússia seria uma
potência regional. Não há a menor dúvida de que depois da implosão da União
Soviética, a sua principal sucessora, a Federação Russa, não dispõe da
conjunção de fatores que possuía a antiga superpotência comunista.
Não
há tampouco qualquer dúvida que Moscou perdeu boa extensão territorial, com a
independização de vários Estados. E não me reporto somente aos menores, como os
bálticos, mas também às antigas repúblicas soviéticas asiáticas e na Europa a
própria Ucrânia.
Putin começaria a revisão das independências tanto da Geórgia, quanto da
Moldova – com que susteve um processo de maior afastamento dessas duas
repúblicas menores. No entanto, salta aos olhos a agressão contra a Ucrânia
oriental, a começar pela Crimeia.
Agora o processo de recuperação da antiga URSS continuaria com a
agressão contra a Ucrânia, que chega à bacia de Donetz e Mariupol.
Por
enquanto, Kiev tem apresentado defesa fraca e mal-estruturada, que tem sido,
por enquanto, presa fácil dos chamados rebeldes-pró Rússia, que dispõem do
apoio pontual de Moscou, inclusive de armamento pesado. O que inquieta, além da
aparente e continuada desestruturação da defesa ucraniana, é a postura débil e
basicamente retórica do Ocidente. Com a contundência que lhe é habitual, Frau
Angela Merkel – que é uma espécie de lider da C.E. em termos de Ucrânia
(além, como semelha óbvio, de sua atuação em outros campos) – vem reiterando
uma posição de fraqueza e renúncia diante do poder moscovita. Ela se tem negado
de forma terminante a dar qualquer ajuda em material bélico digno desse nome.
Ora, defronte de adversário que não tem esse problema – os tais separatistas
estão sempre mais bem armados, e quando os ucranianos resistem, entram os
russos com armamento que desestabiliza por inteiro a luta.
Por conseguinte, tenho dificuldade em entender o porquê de que se continue
negando à Kiev a cessão de material bélico pesado, seja ofensivo, seja
defensivo. É uma vergonha para o Ocidente que não se acompanhe, nem se estimule
o esforço de resistência que tem sido evidenciado pelo Povo ucraniano. Qual é
de resto o significado de bater na mesa e dizer que não se admite a entrega do
porto de Mariupol aos separatistas pró-Rússia, que, na verdade, não passam de disfarce
muito evidente do agressor, Moscou?
Por outro lado, qual a serventia de referir-se de forma sobranceira a Moscou como se fora simples poder
regional (com as limitações pertinentes), quando se sabe que Vladimir Putin arrima a sua agressão
nos recursos ainda bastante profusos do velho império soviético, máxime no que
concerne ao respectivo armamento nuclear?
Na prática, o que está ocorrendo é mera encenação. A OTAN brinca de
poderosa alocando tanques e parcos efetivos junto a vários países do chamado ‘estrangeiro
próximo’. Tais Estados são aqueles que até a década final do século passado integravam
a União Soviética, ou que se achavam em condição algo submissa, como era o caso
da Finlândia.
Sem embargo, nem Frau
Merkel, nem Mr. President Obama têm tomado medidas conducentes a fortalecer o
exército ucraniano – um dos argumentos utilizados pelo Ocidente seria a suposta
corrupção prevalente nas Forças Armadas da Ucrânia. Como a acusação é grave e
tem consequências pesadas para a defesa – ou melhor dizendo – a não-defesa da
Ucrânia, a solução que o bom senso ensina seria a de enfrentar o problema (se
ele de fato existe), de modo a criar meios e modos de superá-lo.
Como em todos os jogos de guerra, uma coisa é certa: preparar um
exército digno desse nome (e não súcubo de espiões e de eventuais traidores)
para a defesa do solo ucraniano é tarefa que poderia atalhar muitas
dificuldades internas e reduzir bastante ameaças e óbices externos.
Para iniciar tal empresa
existe uma única condição: pôr mãos à obra.
Defesas puramente verbais da Ucrânia de nada servem à causa de sua
preservação territorial. Tampouco se deve tolerar em silêncio que se abandone a
Ucrânia aos prepostos dos russos (os chamados separatistas pró-Moscou), em
abaixando a cabeça e acatando a recusa de fornecimento de armas ofensivas e defensivas
pesadas, que são decerto indispensáveis para assegurar-lhe a respectiva defesa.
( Fontes: VEJA,
The New York Times, O Globo )
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