terça-feira, 21 de julho de 2015

Precauções do ISIS


                                             

        Pelo visto, o chefe do ISIS, Abu Bakr al-Baghdadi respeita o poder da Superpotência, e tem muito presente a respectiva mortalidade.  Ao contrário de outros chefes de movimentos terroristas, que se crêem acima de o que possa ocorrer com os seus subordinados, al-Baghdadi tem predisposto medidas de emergência, previstas para serem implementadas no caso de sua falta.

       O autoproclamado Califa dispôs que os seus alternos, assim como os comandantes nos teatros regionais na Síria e no Iraque tenham ampla autoridade, de forma a superarem de forma expedita o vácuo na organização no caso de sua morte e a de altas figuras na hierarquia do ISIS.

       A idéia que preside tal planejamento objetiva possibilitar adaptação rápida a tal contingência, com vistas à continuação da luta.

       Essa sensação de vulnerabilidade – que os bombardeios americanos, seja na ‘capital’ Raqqa, seja nos campos de petróleo, ou como força auxiliar em combates, devem enfatizar diuturnamente – e as consequentes providências predispostas pela alta chefia representam uma diferenciação marcada em relação a outros movimentos terroristas.

       Além disso, tal frieza revela igualmente dois traços a serem sublinhados: (a) os fins do movimento precedem a um eventual personalismo; e (b) o milenarismo do ISIS se conjuga com articulação tática que tenta conjugar fanatismo com realismo.

       Como os comandantes locais obedecem a diretivas operacionais, mas dispõem de autonomia significativa para efetuar as próprias operações no Iraque e na Síria, os soldados e seus chefes diretos têm informação limitada acerca do funcionamento do Estado Islâmico. Por outro lado, comandantes locais são plenamente fungíveis. Dessarte, se forem abatidos, são substituídos sem prejudicar a organização.

       Os iraquianos ocupam as posições mais altas – a partir de Abu Bakr – enquanto Tunisianos e Sauditas encabeçam cargos religiosos.

       O chefe do ISIS aprendeu da necessidade de delegar a grupo reduzido de militantes pela experiência de outros grupos terroristas, que tiveram a ação prejudicada por operações de drones ao longo dos anos. Nesse contexto, dar a comandantes de hierarquia intermediária um grau suficiente de autonomia é visto como espécie de seguro para que a continuidade da ação não seja afetada.

        Outra fonte de informação para o ISIS foram as revelações de Edward J. Snowden,  (atualmente  asilado na Rússia) que dão elementos de como os Estados Unidos coleta informações acerca de militantes.  O principal resultado é de que os principais chefes do ISIS empregam correios especiais ou canais criptados que, segundo o artigo do New York Times, não poderiam ser decifrados.

        Há fundadas dúvidas se os dois alternos de Abu Bakr al-Baghdadi seriam Abu Alaa al-Afri e Fadel al-Hayali, conhecido como Abu Muslim al-Turkmani, antigo oficial das forças especiais iraquianas, natural da cidade de Tal Afar, perto de Mosul. No entanto, há informes procedentes do Iraque de que esses chefes foram mortos recentemente em ataques aéreos...

          Quem substituiria al-Baghdadi se os bombardeios americanos lograrem matá-lo, como semelha ter sido o caso de seus dois alternos?  Reza a lei islâmica que a posição de Califa – tornada irrita, é bom frisar, por Mustafá Kemal em 1924 – deve ser ocupada por um Árabe da tribo Quraysh (que é a mesma do Profeta Maomé).

          Como é lógico inferir, muitos dos dados sobre o ISIS  e o seu comandante supremo são algo nebulosos. Para a segurança curda no Iraque do Norte, e para funcionários americanos de informação, al-Baghdadi seria efetivamente o principal executivo, dando diretivas através das áreas sob controle do movimento.

          Para outros, no entanto, al-Baghdadi teria mais presença em termos de religião e não em aspectos operacionais de campanha.

          O esforço de guerra do ISIS se baseia de forma preponderante em explosivos. Nesse sentido, foram estabelecidas fábricas para fornecer o material para os militantes.

          Não surpreende, dada a presença maciça de pessoal iraquiano, que os soldados do ISIS se valham muito dos chamados IEDS (Engenhos explosivos improvisados), que estrearam na guerra do Iraque contra os blindados americanos. Como se sabe, a mortalidade dos soldados de Tio Sam foi alta no começo da insurgência, porque a blindagem dos carros era sobre o leve, dentro da teoria do principal comandante americano Donald Rumsfeld, de que a guerra contra Saddam Hussein seria rápida e muito breve. Efetivamente a marcha contra Bagdah foi quase um passeio, mas depois da ‘Missão Cumprida’, como a encenação do piloto George W. Bush descendo no porta-aviões Abraham Lincoln dizia, o problema foi que não combinaram com os demais iraquianos e a guerra continuou, com os desastrosos resultados para os Estados Unidos sobejamente conhecidos.

 

( Fonte: The New York Times ) 

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