Estamos em 2015, politicamente
falando? Ou nos encontraríamos mais
perto da realidade, se disséssemos que, na verdade, em termos de tempo
político, adentramos o que seria 2017/18?
Pois no poder, está a Presidenta Dilma, mas
só com nove por cento de aceitação, e
ainda por cima em mar encapelado, com a nave capitã ameaçada pelo rochedo-TCU que examina as pedaladas, e estabeleceu
como prazo para justificativa dezessete de julho corrente; e se passar indene,
lá está o redemoinho-Charibdes-TSE. Se
escapar desses, que ajuda terá de um PT também à deriva? Aqui a fraqueza
política dá pena, ao ver os partidos aliados da base partirem para outra,
enquanto Lula a princípio investe contra a sua criação. Dizem-no a beirar um
ataque de nervos, temendo receber em alguma manhãzinha o chamado do Juiz Sérgio
Moro.
A debilidade de Dilma é evidente em termos
políticos. O próprio acerto com Michel Temer tampouco está funcionando a
contento. As conversas se sucedem, mas com a presidente objetivamente frágil,
os acordos políticos vão ficando mais difíceis e custosos. Quando as crises se
acentuam, os tempos se aceleram, e as perspectivas encolhem. Distâncias e intervalos
se apequenam. O que dizia na semana passada, carece de ser nesta repensado e
reavaliado. Será que vale a pena? Os seus interlocutores vão rareando... A
essência da crise ora se faz presente em imenso caldeirão, onde o ritmo das
mexidas se vai acelerando, a princípio, devagar, para adiante correr. Ali, os
dias não passam em vão. Quando as bases cedem, cabe a ela o exercício penoso de
lidar com o próprio cabedal que se esboroa... e por isso incumbe a quem foi
eleita em mandato até 31 de dezembro de 2018, tentar provar que o respectivo
prazo de validade ainda justifica trocas
e negociações políticas. E, entrementes,
se amiudam as comparações com Fernando Collor...
Essa
congênita fraqueza política, provocada por fatores conhecidos e pressentidos, mas
que ainda não se concretizam, implica em bandeira vermelha que nada tem a ver com
as cores do PT, um partido com o caruncho da roubalheira na Petrobrás e por
isso quase um morto-vivo, que faz congressos a portas fechadas.
A sensação
de que o navio começa a fazer água é capaz de ensandecer a muitos. Por isso, fazem
resoluções com que se recusam a encarar a realidade, a ponto de se solidarizarem
com o tesoureiro João Vaccari Neto, encarcerado pela Lava-Jato. Graúdos petistas dão ulteriores sinais de perda de
contato com a realidade. José Dirceu requerer um habeas-corpus preventivo é outra prova de constrangedora alienação
política.
Entrementes,
o descalabro petista vai produzindo inesperada colheita de antes truncadas
ambições. Não é só Aécio Neves que aos poucos alça o próprio diapasão nos discursos, mas também José Serra, ao ver dele
aproximar-se parte importante do PMDB para propor-lhe um voo solo para a
presidência. Isto sem falar em Michel Temer que acompanha de perto um navio
fazer água, enquanto aumentam os contatos e as perspectivas, já assaz concretas
para quem é o degrau seguinte, aquele com os documentos necessários para a
eventualidade – que, por certo, já declarou estar longe de aspirar – de cumprir
numa emergência o seu dever constitucional.
E, quem
sabe?, não haverá nesse palco lugar para Marina? Segundo ela assevera e, por certo, é sincera, seu interesse está
apenas em registrar afinal a Rede Sustentabilidade. Os que lhe estão à volta como
Miro Teixeira que só aguarda a
legalização da Rede para deixar o Pros,
afirma: “O foco dessa reunião (da Rede) tem que ser no dia seguinte à entrega das assinaturas.
Temos que discutir as eleições municipais, e Marina tem que ser candidata (em
2018). Ela é que nem o Lula, é maior do que o partido.”
Esse dinamismo
diz muito da vitalidade das forças
políticas no Brasil. Como castelo de cartas, a base de apoio formada por Dilma
Rousseff e a equipe dos mais chegados – Aloizio Mercadante, José Eduardo
Cardozo, Edinho Silva et al. – contempla o sucesso no pleito transformar-se em
outro tipo de processo. E tudo isso chega de repente, sem outros pré-avisos do
que os de elementar cautela. A princípio, vêm de mansinho, mas de súbito mudam
e as salas de espera e os corredores se vão esvaziando.
Doravante o
cafezinho custa a vir. Cruzam o silêncio ambiente ares pesados de derrota.
Ainda do
lado de fora, mas com o gesto risonho da esperança, muitos aguardam ansiosos o
que pensam será o novo poder.
( Fonte: O Globo )
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