sábado, 4 de julho de 2015

Campanha presidencial ?

                                        

         Estamos em 2015, politicamente falando?  Ou nos encontraríamos mais perto da realidade, se disséssemos que, na verdade, em termos de tempo político, adentramos o que seria 2017/18?

         Pois no poder, está a Presidenta Dilma, mas só com nove por cento de aceitação, e ainda por cima em mar encapelado, com a nave capitã ameaçada pelo rochedo-TCU que examina as pedaladas, e estabeleceu como prazo para justificativa dezessete de julho corrente; e se passar indene, lá está o redemoinho-Charibdes-TSE. Se escapar desses, que ajuda terá de um PT também à deriva? Aqui a fraqueza política dá pena, ao ver os partidos aliados da base partirem para outra, enquanto Lula a princípio investe contra a sua criação. Dizem-no a beirar um ataque de nervos, temendo receber em alguma manhãzinha o chamado do Juiz Sérgio Moro.

         A debilidade de Dilma é evidente em termos políticos. O próprio acerto com Michel Temer tampouco está funcionando a contento. As conversas se sucedem, mas com a presidente objetivamente frágil, os acordos políticos vão ficando mais difíceis e custosos. Quando as crises se acentuam, os tempos se aceleram, e as perspectivas encolhem. Distâncias e intervalos se apequenam. O que dizia na semana passada, carece de ser nesta repensado e reavaliado. Será que vale a pena? Os seus interlocutores vão rareando... A essência da crise ora se faz presente em imenso caldeirão, onde o ritmo das mexidas se vai acelerando, a princípio, devagar, para adiante correr. Ali, os dias não passam em vão. Quando as bases cedem, cabe a ela o exercício penoso de lidar com o próprio cabedal que se esboroa... e por isso incumbe a quem foi eleita em mandato até 31 de dezembro de 2018, tentar provar que o respectivo prazo de validade  ainda justifica trocas e negociações políticas.  E, entrementes, se amiudam as comparações com Fernando Collor...

          Essa congênita fraqueza política, provocada por fatores conhecidos e pressentidos, mas que ainda não se concretizam, implica em bandeira vermelha que nada tem a ver com as cores do PT, um partido com o caruncho da roubalheira na Petrobrás e por isso quase um morto-vivo, que faz congressos a portas fechadas.

          A sensação de que o navio começa a fazer água é capaz de ensandecer a muitos. Por isso, fazem resoluções com que se recusam a encarar a realidade, a ponto de se solidarizarem com o tesoureiro João Vaccari Neto, encarcerado pela Lava-Jato. Graúdos petistas dão ulteriores sinais de perda de contato com a realidade. José Dirceu requerer um habeas-corpus preventivo é outra prova de constrangedora alienação política.

          Entrementes, o descalabro petista vai produzindo inesperada colheita de antes truncadas ambições. Não é só Aécio Neves que aos poucos  alça o próprio diapasão nos discursos,  mas também José Serra, ao ver dele aproximar-se parte importante do PMDB para propor-lhe um voo solo para a presidência. Isto sem falar em Michel Temer que acompanha de perto um navio fazer água, enquanto aumentam os contatos e as perspectivas, já assaz concretas para quem é o degrau seguinte, aquele com os documentos necessários para a eventualidade – que, por certo, já declarou estar longe de aspirar – de cumprir numa emergência o seu dever constitucional.

           E, quem sabe?, não haverá nesse palco lugar para Marina? Segundo  ela assevera  e, por certo, é sincera, seu interesse está apenas em registrar afinal a Rede Sustentabilidade. Os que lhe estão à volta como  Miro Teixeira que só aguarda a legalização da Rede para deixar o Pros, afirma: “O foco dessa reunião (da Rede) tem que ser  no dia seguinte à entrega das assinaturas. Temos que discutir as eleições municipais, e Marina tem que ser candidata (em 2018). Ela é que nem o Lula, é maior do que o partido.”

           Esse dinamismo  diz muito da vitalidade das forças políticas no Brasil. Como castelo de cartas, a base de apoio formada por Dilma Rousseff e a equipe dos mais chegados – Aloizio Mercadante, José Eduardo Cardozo, Edinho Silva et al. – contempla o sucesso no pleito transformar-se em outro tipo de processo. E tudo isso chega de repente, sem outros pré-avisos do que os de elementar cautela. A princípio, vêm de mansinho, mas de súbito mudam e as salas de espera e os corredores se vão esvaziando.

          Doravante o cafezinho custa a vir. Cruzam o silêncio ambiente ares pesados de derrota.  

           Ainda do lado de fora, mas com o gesto risonho da esperança, muitos aguardam ansiosos o que pensam será o novo poder.   

 

( Fonte:  O Globo )

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