A espontaneidade pode ser uma
qualidade, mas – se as instruções viessem no rótulo – as declarações de D.
Dilma nos Estados Unidos podem constituir alimento para reflexão.
Nem tudo é
para ser respondido de bate-pronto, pois nem todas as questões são tão simples
quanto parecem, e a palavra de uma presidente é acompanhada por muita gente.
Eleita por 54,5
milhões (51,64%) de brasileiros e em segundo mandato, contra o antagonista
Aécio Neves (51,041 milhões e 48,36%) por um conjunto infeliz de
circunstâncias, os píncaros em que foi colocada pelo eleitorado no segundo
turno iriam desaparecer do quadro, eis que agora o seu maior temor veio a
concretizar-se.
Não se trata
de que haja sido aberto processo de impeachment contra a candidata
petista. Apesar de falar-se muito dele, essa projeção resta por ora apenas uma
possibilidade. Não faltam questões pendentes, mas nenhuma delas por ora
configura o que é o pesadelo de todo presidente em exercício.
Sem embargo,
a popularidade de Dilma Rousseff, no seu por ora infeliz segundo mandato,
continua a cair. A propósito da mais recente pesquisa do Datafolha se expressara que grande temor do entorno do Palácio do
Planalto seria de que a sua popularidade caísse abaixo de dez %. Foi, por isso,
ouvido metaforicamente o alívio de sua entourage
que a avaliação positiva batesse em dez por cento no citado Datafolha.
Mas o velho IBOPE, cuja pesquisa vem atrás alguns
dias do Datafolha, veio mostrar o que
a turma da Presidenta já temia. Agora, nem 10%
do eleitorado a avalia positivamente. A sua popularidade (quem acha bom o
seu desempenho no cargo) mergulha nos baixios de nove por cento, o que para presidente que apenas inicia o segundo
semestre do primeiro ano pós-reeleição não é decerto uma boa nova.
Talvez o
seu encontro com o Presidente americano, Barack Obama, e a corrente positiva
que dessa viagem possa resultar venha aumentar-lhe um pouco a popularidade, mas
visitas presidenciais, com poucas exceções, não costumam realizar tais
influxos, excluídas as exceções cabíveis.
Entrementes, as assertivas de Dilma continuam pipocando. Comentando a
situação de Aloizio Mercadante e Edinho Silva, ambos ministros da Casa, citados
por Ricardo Pessoa em delação premiada, a Presidenta afirmou: acusar sem provas
“é
um tanto de Idade Média”.
Dilma
deveria atualizar suas leituras. Já foi o tempo em que a Idade Média era
considerada como um longo período de trevas entre a Antiguidade Tardia e a
Renascença.
Hoje e
não só nas Europas pululam os medievalistas. Foi um longo período em que a
cultura da Humanidade ficou não só por conta da Igreja, mas também das
confrarias. As primeiras universidades aparecem (Paris e Oxford) enquanto nos
mosteiros se preservam através dos copistas as principais obras da Idade de
Ouro.
A
principal instituição na Idade Média foi o Papado. Nesse período a ascendência
dos Sumos Pontífices chega a seu ápice quando do embate entre Gregório VII e o
Imperador Henrique IV, do Sacro Romano Império, em que este último teve de
fazer penitência em Canossa, para ser readmitido e perdoado pelo Papa, e assim
recuperar as suas reais funções. Ao desrespeitar as determinações pontifícias
na querela das investiduras, Henrique IV tivera negado os sacramentos e o
acesso às igrejas. Somente indo até Canossa, na Itália, e envergando as roupas
de penitente, é que o Imperador foi readmitido no seio da Igreja. Esse episódio
célebre reflete o então poder teocrático, e a submissão respectiva do soberano
temporal.
Mas a Idade
Média, que se estende do século V d.C., após a queda do Império Romano do
Ocidente, e vai até 1453, a data da conquista pelo poder muçulmano de
Constantinopla, capital do Império Romano/bizantino, não é o longo domínio das
trevas e da ignorância dos bárbaros. É período assaz alentado em que o legado
do Império romano do Ocidente não só é mantido, mas também desenvolvido.
Indicações várias dos desafios enfrentados pelo Medievo e a cultura desta época
estão no livro de Umberto Eco,
Il nome de la Rosa, que além de best-seller internacional, pode servir de
relato descritivo da cultura medieval e dos seus desvãos.
Entre
as grandes personalidades da Idade Média, as maiores são (Poesia) Dante Alighieri (Florença), Petrarca (Arezzo) e Chaucer, na
Inglaterra; Bocácio, italiano, Decameron (Prosa); (Pintura) Giotto (Florença); (Filosofia), S. Tomás de Aquino , frei
Roger Bacon (Inglaterra); Marco Polo (Veneza) viagens a China; S. Francisco de
Assis (Religião); Arquitetura gótica
(Catedral de Chartres).
Por
conseguinte, a idéia que, pelo visto até hoje persiste, de que a Idade Média
tenha sido uma longa noite caída sobre a Europa, não passa de uma falácia.
(Fontes: O Globo;
Enciclopédia Britânica (1973); Nouveau Larousse Illustré (1952) )
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