A Dra. Catta Preta, em entrevista
ontem ao ‘Jornal Nacional’ declarou que, ameaçada por integrantes da CPI da
Câmara, por causa da segurança de sua família, decidiu encerrar a carreira.
A Dra.
Beatriz respondeu às perguntas do Jornal Nacional. Jovem ainda, apesar
de já ter dezoito anos de carreira, além de considerada a maior especialista
brasileira em delação premiada, ela fechou acordo com nove dos 22 delatores da
Lava Jato.
Segundo a penalista, a intimidação aumentou após o consultor Júlio
Camargo, um de seus clientes, haver dito que pagara propina de US$ 5 milhões ao
presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Consoante o consultor, o parlamentar lhe
pedira, durante encontro em 2011, a aludida propina.
Camargo
denunciou Cunha em 16 de julho corrente. Fê-lo durante audiência da Justiça
Federal em Curitiba. Até então, ele não
havia enunciado o nome do deputado para
autoridades do Paraná. Segundo a advogada, tal não acontecera porque o
consultor “tinha medo de chegar ao presidente da Câmara”.
Perguntada
pelo repórter se Cunha estaria entre os que a ameaçaram, a advogada respondeu
que não pode afirmar porque não viu nenhuma declaração do presidente da Câmara
sobre ela. Apesar de não declinar os nomes das pessoas que a estão ameaçando,
sem embargo declarou que estava sendo intimidada e perseguida “sem dúvida
nenhuma”.
Aduziu ela
que a pressão veio dos integrantes da CPI da Petrobrás que votaram a favor de
sua convocação para depor sobre honorários que recebeu dos clientes da Lava
Jato. Sobre ameaças de morte, disse a Dra. Beatriz: “Não recebi ameaças de
morte, diretas. Mas elas vêm de forma velada, cifradas.”
E para bom
entendedor, a Dra.Beatriz Catta Preta acrescenta que todos os depoimentos
prestados pelos delatores sempre foram respaldados por provas concretas.
A 30 de
julho corrente, o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, concedeu
liminar
para dar à advogada o direito de não responder a perguntas de integrantes da CPI
relacionadas ao exercício de sua atividade profissional (no último dia
nove de julho, a CPI aprovara requerimento para a advogada esclarecer a origem
dos honorários. Ainda não foi marcada a data do depoimento. Assinale-se, por
oportuno, que o Presidente do STF na sua decisão condenou a tentativa da CPI de “transformar defensores
em investigados”.
Entra a Kroll em cena
A CPI da
Petrobrás decidiu servir-se da empresa de investigações Kroll para vasculhar
as contas bancárias e patrimônio no exterior de doze
delatores da Operação Lava-Jato. Depois, o número de alvos foi reduzido
para quatro, por decisão do presidente da CPI Hugo Motta (PMDB-PB) e do
subrelator André Moura (PSC-SE). Os
quatro investigados atualmente pela
Kroll são todos delatores da Lava-Jato, entre os quais o doleiro Alberto
Youssef, o consultor Júlio Camargo e o
ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa.
As delações de Youssef e de Camargo foram decisivas para a investigação
de denúncias de corrupção envolvendo o presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) no âmbito da Lava-Jato.
Youssef foi o primeiro a afirmar que Cunha pressionou pelo pagamento de
propina a partir de contratos de aluguel de navios-sonda na Petrobrás, usando
para isso requerimentos de investigações
na Câmara.
A
delação de Youssef foi usada para justificar a abertura de inquérito no Supremo
Tribunal Federal que investiga o Presidente da Câmara por suspeita de corrupção
passiva e lavagem de dinheiro. A 16 do
corrente, Camargo confirmou o depoimento
de Youssef e disse que Cunha pediu
pessoalmente US$ 5 milhões em propina, relativos aos contratos dos navios-sonda. A Procuradoria Geral da
República deve apresentar a denúncia contra Cunha até o fim de agosto.
O
trabalho da Kroll que custou R$ 1 milhão da Câmara e deve ser ativado para a
próxima etapa de investigações, está concentrado em descobrir informações que
poderiam levar à anulação dos depoimentos dos delatores de Cunha.
Num acordo de delação, os colaboradores se comprometem a identificar à
Justiça todo o patrimônio e todas as contas bancárias alimentadas com dinheiro
proveniente dos crimes confessados. As listas de investigados pela CPI – a primeira
de quinze nomes, a segunda de doze
delatores e a terceira e última reduzida a quatro são mantidas em sigilo por Hugo Motta e o
subrelator André Moura.
Por outro lado, o subrelator nega qualquer interferência de Cunha nas
decisões da cúpula da CPI sobre a Kroll. E André Moura declara: “Quem faz um
trabalho contra o presidente, interna e externamente, é quem diz que ele
comanda as investigações. Hoje Cunha é o
adversário número um da presidente Dilma e do PT.
Além disso, em nota Eduardo Cunha afirmou que não participa de “qualquer
decisão sobre investigações da CPI, que tem a sua autonomia.” O presidente
disse que a direção da Câmara tratou apenas da ‘contratação administrativa’ da
Kroll, a pedido da CPI.
A tal propósito convém assinalar que a nota em apreço foi divulgada por
Cunha para contestar reportagem do jornal “O
Estado de S. Paulo”, que mostrou o uso da Kroll para investigar Júlio
Camargo.
( Fonte: O
Globo )
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