O governo de Dilma Rousseff, em
seu primeiro mandato, infelizmente estendido em um segundo, por força do
instituto da reeleição (agora programado para ser felizmente extinto), pode ser
considerado um dos mais desastrosos da República.
Na verdade,
ele se acha na origem dos males que ora nos atacam, excluído apenas – e que
apenas! – o escândalo do Petrolão,
que está sendo deslindado e enfrentado pela Lava-Jato
e o Juiz
Sérgio Moro.
O pai desse
governo incompetente e despreparado chama-se Luiz Inácio Lula da Silva. Neste
ponto, creio que posso ser breve, pois dele me tenho ocupado diversas vezes.
Talvez a causa-mãe de tantos defeitos esteja no nível estudantil de seu
criador. No começo deste novo século e milênio, um grande obaoba cercava Lula
da Silva, de quem se acreditava chegada afinal a hora de assumir o governo do
Brasil.
Confesso
compungido que também fui afetado por essa onda, assim como um outro amigo de
Pedro Carlos Neves da Rocha, o professor Antonio Rezende. Recordo-me muito bem
que o único da trinca que não admitia votar no líder do Partido dos
Trabalhadores era nosso comum amigo, Pedro Carlos Neves da Rocha, que os
leitores do blog ora conhecem por
duas inserções. A sua obra “Crítica do
Animal Político – o significado de uma expressão sem sentido”,
por link oportunamente inserido no blog, e pelas ‘Cartas ao Amigo Ausente’,
que também postei neste blog, anos
após o seu desaparecimento.
Perguntado na época por Rezende e por mim do
porquê não sufragava quem surgia
afinal (em 2002) como a escolha da maioria da Nação, Pedro foi conciso: “não
voto nele porque não tem curso superior”.
Na época,
levamos a negativa de Pedro a mais um cacoete de sua formação udenista. Anos
depois, porém, quando já nos havia deixado, voltei a pensar sobre a sua
motivação, e me dei conta de o quanto fazia sentido.
Havendo
tratado – e por mais de uma vez – dos erros de Lula na indicação de Dilma (em
que fez passar o que pensava fosse o seu interesse dele pessoal à frente de
seleção que apontasse nome de maior experiência e cancha política), forçoso
será admitir que sobre ele recai grande responsabilidade nessa matéria.
Feita essa
qualificação, tentemos ser breves nos principais erros e lacunas da Presidenta
(como gosta de ser chamada). Lula tentou apresentar-nos Dilma como potencial
chefe de gabinete, no sentido não de o que efetivamente era (a chefa do
gabinete do Presidente), mas a de Primeira Ministra, com pleno domínio da
coordenação política.
Com a sua
proverbial habilidade, Lula da Silva nos passou alguém sem maior experiência
política, como se fora coordenadora dos ministérios. A par disso e para ser breve,
ao invés de ter currículo de scala honorum (a série de cargos que
na República Romana deveriam ser exercidos, antes da candidatura a Cônsul, o
mais alto posto na hierarquia da Roma antiga), a preparação para a presidência
de Dilma Rousseff deixava bastante a desejar.
Daí, a
série de erros que cometeria no primeiro mandato, o mais grave dos quais foi
haver trazido de volta, por meio de política fiscal irresponsável, a inflação.
Desse
perigo – e da responsabilidade histórica de desfazer a conquista do Plano Real
– este blog é infelizmente testemunha de uma série de advertências – repetidas
na imprensa e nas publicações especializadas – que Dilma Rousseff desconheceria
olimpicamente, dentro de sua política de acelerar o desenvolvimento da
sociedade através do consumo da população.
Outro
erro grave foi a política de desonerações fiscais, que visava incrementar, pelo consumo de bens de uso
durável, a produção industrial. A regra seria desenvolver a economia pelo lado
da oferta. No entanto, os créditos fiscais abriram enormes déficits. Conforme
indicaram colunistas econômicos, o Ministério da Fazenda e a Secretaria do
Tesouro, seja através das famosas capitalizações em parceria com o BNDES, seja
com recursos há muito não empregados, criaram atmosfera de incerteza fiscal.
Vários expedientes e jeitinhos foram empregados, com os previsíveis resultados.
Diante
da falta de controles e de um comportamento oposto à exação no campo fiscal –
não menor foi a pouca conta atribuída à Lei da Responsabilidade Fiscal (a chave da abóbada
da normalização da Economia) – não há de provocar maiores dúvidas em que a
inflação voltou em grande estilo. A princípio, de resto, o guarda da inflação –
que é o Banco Central – foi impedido de elevar os juros(pela taxa Selic) para
tentar controlar a elevação dos preços, através do encarecimento do crédito.
Somente muito mais tarde – e já com a inflação de volta – é que o BC foi
autorizado por Dilma a atuar na tentativa de controlar a inflação.
Valendo-se de uma grande cara de pau e de muitas mentiras, Dilma
conseguiu superar o Scylla e Charibdis do primeiro e segundo turnos
das eleições de 2010, logrando dois feitos: afastar no primeiro turno, por
mentiras orquestradas, a candidata que mais temia, Marina Silva; e no segundo
turno, a mesma receita lhe valeu para vencer Aécio Neves, por pequena diferença
(3% dos votos totais).
A
hora da verdade chegaria depois da eleição. Forçada a admitir como Ministro da
Fazenda, o competente e jovem Joaquim Levy, no resultante Ajuste Fiscal até hoje
sem controlar a inflação, que continua alta (toca os dez dígitos). Quando a
inflação chega a este nível o seu controle é muito mais difícil, pois o
consumidor tem dificuldade em ser fiscal efetivo da alta de preços.
Nessa hora, começa a vigorar o oportunismo dos agentes econômicos, que se valem
da alça geral das cotações, para introduzirem incrementos sem qualquer
cabimento (excluída a ganância desses operadores), eis que o consumidor não tem
mais base sólida para individuar as elevações de preço (que principiam a
ocorrer sem qualquer controle).
Com
a Presidente consideravelmente enfraquecida politicamente (a sua popularidade
está abaixo dos dez dígitos) a confusão política aumenta. A sua anterior
maioria no Congresso literalmente se esfarinhou, primeiro porque a cola era
fraca e de caráter oportunista. Com o Impeachment pairando no horizonte
(motivado pelas famigeradas pedaladas fiscais, de que será juiz o Tribunal de
Contas da União), se as Contas de Dilma forem recusadas, o Congresso será
chamado a decidir do Impeachment ou não.
Dentro desse cenário de véspera de naufrágio se intui que operadores
competentes – admitidos afinal no Dilma II ao poder – como Joaquim Levy tem a
respectiva capacidade de ação deveras cerceada.
( Fontes:
O Globo, Folha de S. Paulo )
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