terça-feira, 28 de julho de 2015

Um Governo Desastroso

                                            

          O governo de Dilma Rousseff, em seu primeiro mandato, infelizmente estendido em um segundo, por força do instituto da reeleição (agora programado para ser felizmente extinto), pode ser considerado um dos mais desastrosos da República.

          Na verdade, ele se acha na origem dos males que ora nos atacam, excluído apenas – e que apenas! – o escândalo do Petrolão, que está sendo deslindado e enfrentado pela Lava-Jato e o Juiz Sérgio Moro.

          O pai desse governo incompetente e despreparado chama-se Luiz Inácio Lula da Silva. Neste ponto, creio que posso ser breve, pois dele me tenho ocupado diversas vezes. Talvez a causa-mãe de tantos defeitos esteja no nível estudantil de seu criador. No começo deste novo século e milênio, um grande obaoba cercava Lula da Silva, de quem se acreditava chegada afinal a hora de assumir o governo do Brasil.

           Confesso compungido que também fui afetado por essa onda, assim como um outro amigo de Pedro Carlos Neves da Rocha, o professor Antonio Rezende. Recordo-me muito bem que o único da trinca que não admitia votar no líder do Partido dos Trabalhadores era nosso comum amigo, Pedro Carlos Neves da Rocha, que os leitores do blog ora conhecem por duas inserções. A sua obra “Crítica do Animal Políticoo significado de uma expressão sem sentido”, por link oportunamente inserido no blog, e pelas ‘Cartas ao Amigo Ausente’, que também postei neste blog, anos após o seu desaparecimento.

            Perguntado na época por Rezende e por mim do porquê não sufragava quem surgia afinal (em 2002) como a escolha da maioria da Nação, Pedro foi conciso: “não voto nele porque não tem curso superior”.

            Na época, levamos a negativa de Pedro a mais um cacoete de sua formação udenista. Anos depois, porém, quando já nos havia deixado, voltei a pensar sobre a sua motivação, e me dei conta de o quanto fazia sentido.         

            Havendo tratado – e por mais de uma vez – dos erros de Lula na indicação de Dilma (em que fez passar o que pensava fosse o seu interesse dele pessoal à frente de seleção que apontasse nome de maior experiência e cancha política), forçoso será admitir que sobre ele recai grande responsabilidade nessa matéria.

            Feita essa qualificação, tentemos ser breves nos principais erros e lacunas da Presidenta (como gosta de ser chamada). Lula tentou apresentar-nos Dilma como potencial chefe de gabinete, no sentido não de o que efetivamente era (a chefa do gabinete do Presidente), mas a de Primeira Ministra, com pleno domínio da coordenação política.

             Com a sua proverbial habilidade, Lula da Silva nos passou alguém sem maior experiência política, como se fora coordenadora dos ministérios. A par disso e para ser breve, ao invés de ter currículo de scala honorum (a série de cargos que na República Romana deveriam ser exercidos, antes da candidatura a Cônsul, o mais alto posto na hierarquia da Roma antiga), a preparação para a presidência de Dilma Rousseff deixava bastante a desejar.

                Daí, a série de erros que cometeria no primeiro mandato, o mais grave dos quais foi haver trazido de volta, por meio de política fiscal irresponsável, a inflação.

                Desse perigo – e da responsabilidade histórica de desfazer a conquista do Plano Real – este blog é infelizmente testemunha de uma série de advertências – repetidas na imprensa e nas publicações especializadas – que Dilma Rousseff desconheceria olimpicamente, dentro de sua política de acelerar o desenvolvimento da sociedade através do consumo da população.

                Outro erro grave foi a política de desonerações fiscais, que visava  incrementar, pelo consumo de bens de uso durável, a produção industrial. A regra seria desenvolver a economia pelo lado da oferta. No entanto, os créditos fiscais abriram enormes déficits. Conforme indicaram colunistas econômicos, o Ministério da Fazenda e a Secretaria do Tesouro, seja através das famosas capitalizações em parceria com o BNDES, seja com recursos há muito não empregados, criaram atmosfera de incerteza fiscal. Vários expedientes e jeitinhos foram empregados, com os previsíveis resultados.

                Diante da falta de controles e de um comportamento oposto à exação no campo fiscal – não menor foi a pouca conta atribuída à Lei  da Responsabilidade Fiscal (a chave da abóbada da normalização da Economia) – não há de provocar maiores dúvidas em que a inflação voltou em grande estilo. A princípio, de resto, o guarda da inflação – que é o Banco Central – foi impedido de elevar os juros(pela taxa Selic) para tentar controlar a elevação dos preços, através do encarecimento do crédito. Somente muito mais tarde – e já com a inflação de volta – é que o BC foi autorizado por Dilma a atuar na tentativa de controlar a inflação.

                 Valendo-se de uma grande cara de pau e de muitas mentiras, Dilma conseguiu superar o Scylla e Charibdis do primeiro e segundo turnos das eleições de 2010, logrando dois feitos: afastar no primeiro turno, por mentiras orquestradas, a candidata que mais temia, Marina Silva;  e no segundo turno, a mesma receita lhe valeu para vencer Aécio Neves, por pequena diferença (3% dos votos totais).    

                 A hora da verdade chegaria depois da eleição. Forçada a admitir como Ministro da Fazenda, o competente e jovem Joaquim Levy, no resultante Ajuste Fiscal até hoje sem controlar a inflação, que continua alta (toca os dez dígitos). Quando a inflação chega a este nível o seu controle é muito mais difícil, pois o consumidor tem dificuldade em ser fiscal efetivo da alta de preços. Nessa hora, começa a vigorar o oportunismo dos agentes econômicos, que se valem da alça geral das cotações, para introduzirem incrementos sem qualquer cabimento (excluída a ganância desses operadores), eis que o consumidor não tem mais base sólida para individuar as elevações de preço (que principiam a ocorrer sem qualquer controle).

                  Com a Presidente consideravelmente enfraquecida politicamente (a sua popularidade está abaixo dos dez dígitos) a confusão política aumenta. A sua anterior maioria no Congresso literalmente se esfarinhou, primeiro porque a cola era fraca e de caráter oportunista. Com o Impeachment pairando no horizonte (motivado pelas famigeradas pedaladas fiscais, de que será juiz o Tribunal de Contas da União), se as Contas de Dilma forem recusadas, o Congresso será chamado a decidir do Impeachment ou não.

                 Dentro desse cenário de véspera de naufrágio se intui que operadores competentes – admitidos afinal no Dilma II ao poder – como Joaquim Levy tem a respectiva capacidade de ação deveras cerceada.

 

(  Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo )

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