Mesmo para a
terra do Barão do Rio Branco e de Alexandre de Gusmão, o Evangelho ainda pode
dar lições em termos de democracia, e de suas aplicações práticas. Não se podem esperar de árvores estranhas soluções milagrosas.
Em exemplos
longínquos e próximos, se pesadas e medidas as atitudes do governo de Dilma Rousseff, elas são por vezes
canhestras e mesmo filistéias e pesadas. Seguem uma pretensa lógica, que nada
tem a ver com a nossa tradição diplomática, de que são mostras magníficas o Patrono
e o Precursor de nossa diplomacia.
Nunca pensei que
um governo que se diz democrático seria tão incoerente na sua diplomacia – se tivermos
presente o legado de todos os governos brasileiros, seja democráticos,
seja até os autoritários.
Nenhum ousou
dividir o Itamaraty, entregando grossa fatia de seus encargos a pessoas de
partido, sem qualquer tradição diplomática, sob a guia de supostos interesses
partidários, como se petismo, chavismo e peronismo devessem ter expressões de
política externa.
Em cruel
caricatura, ora submetido à nova direção, o Ministério das Relações Exteriores
virou caudatário da diplomacia partidária, numa tarda escolha, que contraria toda
a grande herança do Império e das Repúblicas, reeditando em má hora formato que
nunca foi nosso, pois desde que somos independentes a Secretaria das relações
com o estrangeiro sempre se pautou por diplomacia de Estado, ao invés de nossos
vizinhos.
Não é aqui o
lugar para entoar loas à antiga coerência. A História nos basta para
assinalar-nos quão oportuna e acertada foi a direção tomada por nossos maiores.
Lula, ao
atender posturas do companheiro Lugo, já mexera inadvertidamente com os nossos
postulados. Mas sua influência – com o ulterior empobrecimento das condições de
ingresso no Itamaraty e a consequente queda de nível cultural – não se pode
comparar com a desastrosa e nefária regência da política externa por Dilma Rousseff.
Já disse que
nem o regime militar teria na nossa diplomacia influência tão nefasta. E a
razão é simples. Sendo também carreira de estado, o poder castrense, em boa
hora, entregou aos profissionais da diplomacia a gestão da Casa de Rio Branco.
Com Dilma, a
moça da algibeira de Lula, o seu primeiro
poste, a sua influência também nas relações externas tem sido deplorável.
Os exemplos pululam e não pretendo cansar o leitor. Em toda parte, no que concerne
ao Itamaraty, a dílmica e pesada mão nos deixa péssima lembrança, em termos
diplomáticos e de afirmação nos vários campos das relações internacionais.
O seu incrível
menosprezo por Secretaria de Estado - que se assinala nas organizações
internacionais e na diplomacia bilateral, tanto a latino-americana, quanto aquela
representada nos grandes e pequenos países das Américas do Norte, Central e do Sul, Europa, Asia,
África e Oceânia - se mostrou quer na mesquinha redução de nossas dotações (que
se destinam a pagar contribuições junto aos organismos internacionais e para
tornar possível a atuação das missões e de seus representantes), que ora são
das mais baixas da República, forçando essa Secretaria de Estado a cortes
humilhantes e a disposições acabrunhantes.
Se desde Lula
da Silva, os diplomatas, cuja arma é o saber, tanto o das línguas,
quanto aquele vivido no curso do respectivo mister, viram encolhida e apequenada
tal capacidade, eis que passaram a ter aprendizado insuficiente em termos de idioma.
O diplomata brasileiro sempre se destacou pela arma do conhecimento, que lhe dá
livre trânsito em aras da diplomacia parlamentar, como na tradicional. Aqueles
que em outros tempos saíram do Rio Branco com os conhecimentos aprimorados e
incrementados, constituiriam agentes que naturalmente se destacaram dos demais
colegas estrangeiros, pela sua bagagem cultural e profissional.
Não há
milagres em diplomacia. Se alguém tem preparo e conhecimento, terá acesso ao trato e à discussão de um grupo
de maiores, que sobrenada aos demais, naquela seleção natural, que é ditada por
regras para as quais não há trapaças, nem pistolões. Ou se sabe, ou não se
sabe, ou se tem experiência ou não. Estas são as regras não escritas que
presidem às informações, discussões, negociações e afirmações dos países
respectivos na cena internacional, seja nas organizações multilaterais, seja
nas relações bilaterais.
Dilma tem
sido nefasta para o Itamaraty. Mandou abster-se nas Nações Unidas quando a
Federação Russa se apossou, manu militari,
da Crimeia. Essa página negra em nossa
diplomacia, apoiando quem desrespeitou a norma dos pacta sunt servanda, e ainda por cima, adotando postura que ía de
encontro à norma de nossa Constituição vigente. Dessarte, Dilma Rousseff pôs seu
nome, e infelizmente o do Brasil, em negras páginas, antes nunca visitadas por
Presidentes brasileiros.
Muita vez
já disse e escrevi, que a culpa dos muitos erros de Dilma Rousseff eu os
atribuo precipuamente a Lula da Silva, que, de forma irresponsável, a indicou para
o eleitorado brasileiro. Não sei se verei algum dia nosso colégio eleitoral com
a capacidade de decidir por si próprio, e não carecer das diretivas de algum
magno coronelão político.
Sem embargo, os erros, as calinadas
são grandes, gigantescas mesmo. Além de apoiar invasores imperialistas, que
desrespeitam todas as normas do direito internacional, e nos fazem voltar à
noite do século XIX, ela chega a declarar que não tem maior interesse na
Ucrânia. Esse arremedo de diplomacia também comparece no seu silêncio no que
tange à Venezuela.
Espanta e
consterna, que alguém pessoa que sofreu a tortura, foi presa e condenada por regime
militar, hoje olhe para o outro lado, recusando qualquer apoio – até mesmo uma
palavra – aos políticos venezuelanos que
defendem a democracia, e são submetidos a toda sorte de baixarias, injustiças e
maus tratos, com deturpações quase chinesas no seu encarceramento em masmorras
e presídios que nada ficam a dever aos do Maranhão e de Porto Alegre.
Também
administrativamente Dilma Rousseff tem ignorado e menosprezado as tradições da
nossa Secretaria de Relações Exteriores. Ao ver hoje o Itamaraty, com uma larga Secretaria dominada por pessoa estranha à carreira – pessoa esta que ela
reputa mais sintonizada com os seus interlocutores latino-americanos – cabe
perguntar por quanto tempo ainda nos será dado mais do que a tristeza, o constrangimento, de ver obra multissecular
espezinhada e distorcida por alguém que nos confrange, a cada dia, por provas
de entranhada falta de compreensão, preparo e visão na realização de seus
deveres constitucionais, no que tange a não colocar em risco tanto a aptitude
quanto a capacidade do Ministério das Relações Exteriores em
cumprir, de forma que não desmereça dos antigos e provados exemplos, as próprias
relevantes atribuições institucionais.
( Fontes: O Globo,
Folha de S. Paulo )
Um comentário:
Pelo que lembro, na primeira gestão do governo Lula, o Itamaraty ainda mantinha certa coerência em sua atuação. O mesmo Marco Aurélio Garcia, junto com o Celso Amorim, conduziam a política externa. Por que agora esta derrocada, esta guinada de direção, se a grande " autoridade de Marco Aurélio Garcia " continua em pauta?
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