sábado, 30 de abril de 2016

O Falso Golpe

                                               

        Lula, Dilma e o PT pensam que o conselho do ministro da propaganda de Hitler, o soturno Dr Joseph Goebbels  - diga uma mentira cem vezes e ela se tornará verdade - seja para valer.
        Com a vasta maioria da Câmara que decretou o impeachment, que reflete o sentir da Nação - já de resto escrito nas letras garrafais das concentrações da multitudinária manifestação de todos esses Brasis, no domingo, treze de março de 2016 - seria necessária dose cavalar de má-fé, ou grave caso de esquizofrenia, para atrever-se a carimbar de golpe a aprovação do impeachment pela Câmara.
        No entanto, essa é a técnica preferida pelos movimentos totalitários, quer os de direita, quer os de esquerda. As interceptações telefônicas determinadas pelo Juiz Sérgio Moro já haviam escancarado para a sociedade brasileira quais eram as pretensões de Lula, assim como os seus juízos deformados da realidade circundante.
          Desde então, ele, a sua fiel Presidenta, e os movimentos que controla (e que não pouco temem a possibilidade crescente de que se feche a mágica torneirinha de recursos públicos que alimentam os protestos e as estripulias dessa sopa de letras dos slogans e das lorotas) batem na mesma tecla com a fúria de os que pensam que serão deserdados.
          Embora eles não saibam - coitados, sofrem de pronunciada azia se se metem a ler - a mentira e a calúnia (que é a sua versão mais arrogante e perigosa), desde muito que tem o seu uso e abuso recomendados pelos clássicos. Mas alguns rudimentos eles têm - como o torneiro-mecânico - e tampouco ignoram o que propõem esses agentes provocadores, que pululam nos movimentos da ultra-esquerda e aqueles chamados de extra-parlamentares, pelas suas feições mais grosseiras e métodos mais violentos, em que não há respeito à verdade, sendo dada preferência às tentativas de desmoralização do adversário - que passa a ser a vítima da vez, como inimigo das verdades propugnadas por esses grupelhos, que costumam substituir a eloquência da verdade pela prepotência  da aleivosia.
           A timidez deve ser barrada desse espetáculo, pois ela não tem vez, se confrontada com a má-fé, a desonestidade intelectual e a agressividade desses grupelhos.
            Os donos da verdade e os que agem de boa fé não podem dormir sobre os louros da própria doutrina e da respectiva implementação. Se a assertiva de um amigo meu - não há nada de seguro no subdesenvolvimento  - terá confundido um incauto delegado estrangeiro, a lição que esta suposta máxima traz é da necessidade de velar e zelar pelas verdades estabelecidas. Não se pode dormir sob os louros de que tal realidade será respeitada, pelo simples fato de que, em condições legais e justas, ela tenha  prevalecido.
              Não basta que a Câmara dos Deputados, em ambiente livre e isento de interferências,  haja aprovado o impeachment de Dilma Rousseff, com base na petição assinada pelo Dr Hélio Bicudo, Prof. Miguel Reale e Dra. Janaína Paschoal, por 367 votos a favor e 137 contrários, com sete abstenções e duas ausências.
              Sem qualquer coação, em ambiente livre, os deputados expressaram à sua vez os sufrágios respectivos.
              Dizer que o impeachment foi golpe pode acariciar o ego da perdedora, mas não retira um iota sequer da sentença livremente pronunciada pela Câmara.
               Que as chamadas pedaladas fiscais constituem crime de responsabilidade, como o estabelece a Lei da Responsabilidade Fiscal, não há de desaparecer, nem afetar-lhe o peso como o demonstraram os signatários da demanda, assim como a unanimidade do Tribunal de Contas da União, em base de cuja sentença se fundaram os signatários da carta à Câmara dos Deputados.
                Pois foi esta incômoda, mas inelutável e concreta realidade, que foi artificiosamente carimbada de golpe, de início pelo líder de todo o movimento , Luiz Inácio Lula da Silva, em seguida por sua inepta discípula, a que se intitula, faz chamar-se (e força a tanto os seus subordinados)  Presidenta.
                 Tolerou-se que o Prêmio Nobel da Paz de 1980, o argentino Adolfo Pérez Esquivel discursasse da tribuna do Senado e de lá de forma sinuosa mas decerto inequívoca se referiu à dificuldade que Dilma sofrera com  o inesperado golpe. O petista Paulo Paím, Senador pelo Rio Grande do Sul, lhe concedera a palavra e Pérez Esquivel dela se valeu para tentar achincalhar a iniciativa do impeachment. Posteriormente, terá pedido desculpas.   
                   Já na véspera outro argentino, conforme referido nesta coluna, Jorge Taiana, o atual presidente do Parlasul - o parlamento do Mercosul - inserira comunicado contra o impeachment de Dilma, a propósito de reunião em Montevidéu. ouH H                              Ho 
 Houve protesto da delegação brasileira, integrada por congressistas, diante dessa intervenção abusiva em relação a um ato legal do Congresso brasileiro, que se tenta achincalhar como se fora medida ilegal e golpista.   
                   A consciência da constitucionalidade e respectiva justiça da votação pelo Congresso brasileiro, através de sua Câmara de Deputados, do impeachment da Presidente Dilma Rousseff não deve ensejar atitude de plácida aceitação de juízos negativos e difamatórios do processo constitucional que culminou a dezessete de abril corrente.
                    Agir dessa forma é pactuar com a inverdade, tanto no que tange às garantias concedidas à ré, quanto com relação à atmosfera de liberdade que presidiu à integralidade do processo.


( Fontes:  O  Globo, Beaumarchais )

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Escaramuças petistas ?

                        

        Já anunciadas por Lula da Silva em seus pronunciamentos pós-impeachment, a reação dos chamados movimentos sociais (as alas dependentes do PT - o que os italianos costumam denominar como movimentos extra-parlamentares) principia a desenvolver-se segundo o figurino da liderança petista.
        Lula, na sua primeira fala pública depois da aprovação do Impeachment pela Câmara dos Deputados, disse nesta segunda-feira, 25 de abril, que a Casa é comandada por uma "quadrilha legislativa". No mesmo discurso, embora haja reconhecido falhas do governo, afirmou que  o Brasil viverá um "período de muita luta".
         No mesmo tom, Lula, com a voz já bastante rouca, avançou: "Uma aliança oportunista entre a grande imprensa, os partidos de oposição e uma verdadeira quadrilha legislativa  implantou a agenda do caos no país."
         Como se verifica, o máximo líder petista estava bastante alterado. No entanto, abusando da palavra, a emissão da voz se tornava cada vez mais dificultosa, e ele teve de passar o discurso para o diretor do Instituto Lula e ex-ministro, Luiz Dulci.
            A alocução foi pronunciada em seminário realizado em São Paulo, pela Aliança Progressista, que é uma rede de partidos de vários países. Segundo os organizadores, participaram da atividade representantes de vinte legendas de dezessete países.
             Para o orador Lula, a votação do processo de impeachment foi um "espetáculo deprimente". Assinale-se, por oportuno, que o impeachment foi aprovado  por 72% dos deputados.
              Na interpretação oratória de Lula da Silva foram "corruptos notórios clamando contra a corrupção, oportunistas exercitando o cinismo e a hipocrisia e alguns até defendendo a tortura e a ditadura".
               A História a vivo é um personagem suscetível de interpretações favoráveis, contrárias  e até mesmo indiferentes. Abel Gance, na sua obra prima sobre a Revolução Francesa, mostra a Assembléia Nacional, palco de justas oratórias memoráveis, como o mar encapelado, no jogo súbito e imprevisível das ondas. Os debates, as invectivas, as alianças literalmente são transformadas na imagem dos grandes telões, em que  as vagas crescem e recuam, como forças opostas que se desencadeiam e se entrechocam.
                   Pois a luta que o enraivecido militante Lula prometeu surgiu em várias localidades brasileiras. A Frente Povo Sem Medo - composta de dezenas de movimentos sociais e sindicais contrários ao impeachment de Dilma Rousseff - e entre elas o Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) realizando, na manhã de 28 de abril corrente, uma série de bloqueios em avenidas e rodovias de oito Estados e do Distrito Federal.
                   O escopo era o de "parar o Brasil", contra o afastamento da Presidenta e a eventual posse  do Vice-Presidente Michel Temer. Usando de meios toscos mas efetivos, o protesto, ainda que definido como pacífico, produziu o previsível nó no trânsito e nas vias atingidas. Houve mais frentes abertas em São Paulo do que no Rio de Janeiro,onde os ativistas fecharam trecho da avenida do Contorno, em Niterói.
                     Aconteceram distúrbios similares, no Paraná (Curitiba); Ceará (aí foi fechada  a principia via de ingresso  em Fortaleza); em Minas Gerais, Belo Horizonte (fecharam a avenida Antonio Carlos), e por  fim em Cuiabá, o coletivo ocupou prédios públicos.




( Fontes: O Estado de S. Paulo,  O Globo, Abel Gance ) 

O Tempora, o Mores !

                             
            O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT) nomeou nesta quinta-feira, sua esposa, Carolina Oliveira Pimentel, como Secretária de Trabalho e Desenvolvimento Social.
             Na prática, a medida garante a Carolina Pimentel, já investigada na Operação Acrônimo da Polícia Federal, mudanças no foro de julgamento. Assim, doravante, além do STJ e da Justiça Federal, o Tribunal de Justiça pode julgar possíveis processos contra a primeira-dama.
             Como se sabe, o caso está sob responsabilidade do Superior Tribunal de Justiça (STJ), porque é desta corte a competência para julgar questões com envolvimento do governador.
              Assim, se houver um desmembramento do processo e Carolina for julgada em separado, há divergências sobre o tribunal para onde seriam enviados os autos da ação: se o próprio Tribunal de Justiça (TJ) ou o Tribunal Regional Federal. Caso isso ocorra, é de prever-se que a Primeira Dama terá oportunidade de apresentar maior número de recursos.
               Carolina está indiciada nesse processo decorrente de investigação da Acrônimo, sob suspeita de haver recebido, por sua empresa, a Oli Comunicação, valores que na verdade teriam sido transferidos para a campanha de Fernando Pimentel ao governo de Minas.
                Por outro lado, a oposição em Minas pretende entrar nesta sexta-feira, dia 29 de abril, na Justiça com pedido de suspensão de nomeação ou da posse.  No entender dos autores da ação, houve "desvio de finalidade" para ajudar a Primeira Dama judicialmente.
                 O empresário Benedito Rodrigues de Oliveira, o Bené, que é apontado como operador de Fernando Pimentel, está em avançadas tratativas para fechar acordo de delação premiada. Bené, nesse sentido, já havia sinalizado à Procuradoria Geral da República (PGR) que está disposto a entregar o que sabe. Bené fez tal comunicação antes mesmo de ser preso pela Polícia Federal, a quinze de abril corrente.
                  Como se sabe, o governador Pimentel e Bené são os principais alvos da referida Operação Acrônimo, que investiga alegadas ilegalidades na campanha do petista em 2014.
                     Nesse sentido, o Governador de Minas foi indiciado por suspeita de corrupção passiva, tráfico de influência, organização criminosa e lavagem de dinheiro.

( Fontes:  Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo )



[1] Exclamação (Ó Tempos, ó costumes) de Marcus Tullius Cicero, Cônsul romano, no seu primeiro discurso de acusação contra o conspirador Lucius Sergius Catilina.

Temer e seu governo ?

                                    

       Segundo o Estado de S. Paulo, Michel Temer teria o 'núcleo duro' de seu governo em um quarteto, onde a ênfase estaria sobretudo na economia, dados a situação atual  e o estado em que a presidenta Dilma a deixou.
        É provável que se realize o dito afastamento (computam-se  50 votos a favor, e para tal bastariam 41). Michel Temer, em um aceno ao PSDB, declarou que não se candidataria à reeleição para 2018. A par disso, Temer disse a serviço informativo que apoiará eventual proposta de fim da reeleição.
        Consoante a notícia do Estadão, Temer planeja fazer do Senador José Serra um interlocutor com o empresariado. O seu posto oficial seria o de Ministro das Relações Exteriores, com esse ministério fortalecido pelo comando do comércio exterior.
        Depois do longo inverno do Itamaraty sob Dilma, que não perdera oportunidade em rebaixar a Secretaria das Relações Exteriores, forçados os ministros da carreira a engolir enormes sapos, como a vertiginosa baixa nas dotações, a perda de influência  e a ingerência crescente de xerifes petistas, Serra cuidará de fortalecer as exportações, por meio de acordos com os principais mercados do mundo.
         A avaliação é de que o PT errou ao priorizar países emergentes.Nesse sentido, estará à baila o que fazer com o grupo dos BRICS, cuja criação coincidira com período de crescimento e otimismo na economia mundial.
         Farão igualmente parte do núcleo duro governamental Henrique Meirelles, na Fazenda (sob a condição de nomear o Presidente do Banco Central);  Romero Jucá, no Planejamento, e Moreira Franco, numa super-secretaria sem status ministerial - mas ligada à Presidência, e coordenando concessões, parcerias público-privadas (PPP) e privatizações.
          Romero Jucá ficará em Planejamento a que se agregará a responsabilidade pelo BNDES. A Jucá caberá, outrossim, aprovar medidas duras de ajuste nas contas estatais.
          Sob o Flak[1] dos dilmistas, o vice-presidente Temer tem negado que tencione reduzir programas sociais, entre eles o Bolsa Família. Teria chegado mesmo a declarar que pretende dar-lhe um incremento de 5%.  O que esse programa carece é de uma verificação em regra, para evitar que nele se empoleirem os sólitos aproveitadores de turno.

( Fontes: Estado de S. Paulo, O Globo, Folha de S. Paulo )




[1] Da expressão alemã Flugabwehrkanone (artilharia antiaérea).


quinta-feira, 28 de abril de 2016

E agora, Ted Cruz ?

                                  

         Há uma teoria que a brigada republicana foi sendo selecionada às avessas. Se excluirmos o governador de Ohio, John Kasich, tanto o front-runner Donald Trump, quanto o seu adversário Senador Ted Cruz parecem pretendentes selecionados às avessas no campo republicano.
         O que a hierarquia pensara fosse prevalecer, seja pelo sobrenome  (Jeb Bush), seja pelo trânsito político nas altas esferas (Senador Marco Rubio), deu chabu no GOP.
         Continuam na luta pela nomination seja o irreprimível Donald Trump (que estourara com a promessa de levantar uma muralha ao sul, para impedir a invasão dos EUA pelos mexicanos), seja o Senador Ted Cruz, a expressão da direita mais zangada. Está ainda - para Cruz, nominalmente - o Governador John Kasich, de Ohio (com quem o rival republicano não conseguiu entender-se).  Por outro lado, Cruz, o líder do Tea Party, chamou para a sua chapa a ex-pré-candidata Carly Fiorina, com quem Cruz pensa enfeitar um pouquinho a própria rebarbativa imagem.
          Creio que não haverá dissenso com a assertiva que Trump é o grande fenômeno dessa eleição. Nascido candidato do verão, para a incredulidade de muitos, Trump contrariou a imensa expectativa de que não passaria de ilusão, seja do verão, seja até do outono.
          Diante da crescente perplexidade e, mesmo, cólera do estamento republicano, o magnata Trump não se resignou a sair de cena, como tantos outros no passado.
          O seu núcleo de apoio se funda nos brancos, protestantes, idosos e aposentados, mas também na luzente coalizão da direita enraivecida, que acorreu, embalada e sem hesitações, às fórmulas simplistas propostas por Donald Trump (aquele que desejara invalidar a eleição de Obama, pelo fato de, supostamente, não ser americano nato).
           Esse tipo de revolta da massa popular - cansada de não ser levada a sério - tinha sido visto na França do século passado, com o movimento de Poujade, uma verdadeira cruzada contra os impostos. Mas no que concerne à Terra de Tio Sam, faz tempo que não se apresenta e se consolida uma candidatura populista como a de Donald Trump.
           Ela tem levado de roldão as intenções de detê-la, de qualquer maneira, da hierarquia do GOP, assustada com a eventual perspectiva de descalabro eleitoral, com corrosivas ramificações para outros poleiros da tribu republicana. Como é de ciência pública, até agora nada funcionou contra o monstro Trump. Ele parece indestrutível, e não apareceu até agora gafe que o desmoralizasse, como através do tempo - e o candidato Romney, pai de Mitt, é um exemplo - já se verificou nos Estados Unidos.
            Trump tem seguido por uma grande avenida em que as primárias vão ficando para trás, e o número de delegados aumentando (há dúvidas sobre isso, eis que por arcanas regras em primárias do GOP pode-se dar o fenômeno maroto de ganhar a disputa, mas não levar os delegados).
             De qualquer forma, nesse momento, afora as posturas rebarbativas - como o seu desrespeito contumaz às mulheres - e nesse sentido são iterados os seus juízos desfavoráveis acerca da provável adversária Hillary Clinton, simplesmente porque ela é mulher...
              O mais engraçado com Mr Donald Trump é que, até hoje, essas grosseiras gafes parecem não ter efeito algum. Será que para o público que festeja Trump estejamos ainda nos anos cinquenta?
               O Senador Ted Cruz - e tenho minhas dúvidas que a simpatia de Carly Fiorina vá polir as arestas e o firme reacionarismo dessa criatura dos irmãos Koch - terá condições de enfrentar o monstro Trump?
               Como a chefia republicana não desejaria outra coisa, que ver afinal abatido o populista - que de repente aparecera no último verão - a esperança em Cleveland será a última a sair de cena, eis que, por ora, o front runner não completou o número mágico de delegados...


( Fontes:  The New York Times,  O  Globo; Suddenly, last summer, de Joseph Mankiewicz )   

E agora, Bernie ?

                                      

       O candidato a presidente Senador Bernie Sanders  apareceu como um cometa no céu dos democratas. No ano passado, ele dava a impressão de senhor bem-comportado - dir-se-ía até do velho Sul, pelos seus modos deferentes para com a front-runner Hillary Clinton. Além disso, a diferença nas pesquisas era tal, que a candidata chegou a nos debates visar mais aos candidatos do GOP do que ao próprio Mr Sanders (isto sem falar no tertius, o ex-governador de Maryland, Martin O'Malley, que logo iria desaparecer do visor).
      Tudo mudaria em 2016. Pelo menos, foi essa a impressão prevalente, com o súbito crescimento de Sanders. A ameaça a Hillary tornou-se real não só pelo entusiasmo que suscitava o Senador por Vermont, mas sobretudo pelo apoio recebido de parte dos jovens, com genuíno entusiasmo motivado por promessas como melhores condições de custeio nas universidades.
       Não conseguiria superar a Hillary nos caucus de Iowa - o que atribuiu à propaganda mal-ajustada - mas venceria em New Hampshire, conforme o esperado. Passadas as primárias do Sul - onde não tinha condições de concorrer com Hillary - as coisas melhorariam para ele com o triunfo em Wisconsin (sempre os jovens e os estudantes), e emendaria uma série respeitável de primárias. Hillary ainda estava na dianteira, mas para ele o horizonte parecia brilhar com as luzes da Metro Goldwyn Mayer.
       E foi nesse ponto em que a enganosa húbris o afastou de suas maneiras cavalheirescas. O seu histórico em Vermont já deveria tê-lo advertido que destratar adversária do sexo feminino poderia prejudicá-lo eleitoralmente. A par disso, Sanders passou a investir pesado nas ligações de Hillary com Wall Street, e, a fortiori,  declarou que ela não preenchia os necessários critérios para governar os Estados Unidos.
       Nova York e depois a rodada da Pennsilvalnia e mais três outros estados (só ganhou em Rhode Island)  contribuiriam para que a embriaguez de aparente vitória o deixasse.
      Sem embargo, Hillary e o seu grupo - que vai aumentando à medida que a Convenção de Filadelfia se aproxima - continuam cheios de dedos no tratamento a Mr Bernie Sanders. Por desagradável que seja, será sempre melhor para os democratas que ele de algum modo se associe ao bloco vencedor. Nesse sentido, governadores democratas, próximos à front runner Hillary, podem servir de intermediários para que o bom senso prevaleça.
        De qualquer forma, Bernie desativará parte de seu grupo de apoio, mas não todo, eis que Indiana e mais tarde a Califórnia o atraem. Dessarte, pela sua insistência, mesmo na adversidade, forçará Hillary a enfrentá-las a sério, sobretudo a da Califórnia, porque ela não poderia permitir-se que um eventual tropeço na costa do Pacífico venha a pôr água no seu chope em Filadelfia...
         Parodiando uma expressão que creio tenha sido de Lyndon Johnson, Bernie Sanders é um jerk[1], mas ele é nosso jerk!

( Fonte: The New York Times )  



[1] chato, indivíduo desagradável.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Colcha de Retalhos D 18

          

Desastrada atuação do Presidente do Parlasul                           
    

            Não creio que a atuação de Jorge Taiana, deputado peronista, hoje ligado a Cristina Kirchner (como o foi, no passado, a Carlos Menem), com o acinte intentado contra a representação brasileira, tenha sido de própria iniciativa. Tudo leva a crer que agia por instruções da alta chefia peronista.
            Além de mandar publicar no site oficial do Parlamento, enquanto presidente do Parlasul, nota em que condena o processo de impeachment  contra a Presidente Dilma Rousseff. Para Taiana, o julgamento político em curso é uma "situação escandalosa": "Isto é um golpe parlamentar, é uma utilização forçada  da lei (sic) de impeachment".
             Depois de tomarem ciência das declarações de Taiana, os parlamentares brasileiros chegaram ao auditório  onde houve a solenidade e não se conformaram  com o local a eles destinado.
            A disposição dos assentos para os parlamentares  brasileiros  pareceu humilhante para o Senador Roberto Requião. O deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA) então se dirigiu à frente do auditório e fora do microfone declarou que a delegação brasileira iria se retirar do evento, do qual participavam o presidente uruguaio Tabaré Vásquez e o seu Ministro de Relações Exteriores, Rodolfo Nin Novoa.
             O presidente uruguaio tentou interceder para que os parlamentares brasileiros não abandonassem o seminário.  Em belo gesto de solidariedade e amizade ao Brasil, Tabaré Vásquez saíu de sua cadeira de honra e se sentou na mesma fileira onde ficaria a delegação brasileira, que, não obstante, decidiu retirar-se do recinto.  

   
O escândalo do desabamento da ciclovia


                Passados os primeiros dias do desabamento, que deixou dois mortos na Ciclovia Tim Maia, continua a perplexidade da população diante da maneira com que foi conduzida a sua construção (custou R$ 44,7 milhões!).
                Cinco dias depois do desabamento de parte da Ciclovia, a prefeitura anunciou que vai afastar os responsáveis  pela obra, as empresas  Contemat Engenharia e Geotécnica S.A. e Concrejato Serviços Técnicos de Engenharia S.A.  de todos os processos  de contratação e licitação de obras de estrutura  no município.  A medida será adotada por Decreto. Todos os pagamentos que o município ainda tiver  que fazer às duas empresas estão retidos. Também determina o decreto municipal que os responsáveis técnicos do consórcio para a obra sejam afastados de qualquer contrato firmado com a Prefeitura. Se comprovada a responsabilidade das empresas, elas podem ser declaradas inidôneas.
                  Por sua vez, ontem o Ministério Público do Rio anunciou que instaurou inquérito para apurar possíveis atos de improbidade administrativa provenientes da contratação, pela Fundação Geo-Rio, do grupo de empresas Concremat.
                   Diante da facilidade com que vaga da ressaca levou parte da ciclovia, estão sendo verificadas as medidas porventura tomadas para criar condições de segurança para a ciclovia.
                   Nesse sentido, o Engenheiro civil Antônio Eulalio, especialista em projetos de pontes e viadutos  visitou a ciclovia e enfatizou que é preciso avaliar o projeto da obra para saber se o restante da ciclovia é seguro.


Obama elogia a Chanceler Angela Merkel 


                      Em sua tournée na Europa, na qual se despede das principais lideranças européias no seu final de mandato, Barack Obama elogiou em particular a Chanceler alemã Angela Merkel pela sua grande contribuição ao manejo da crise de refugiados na Europa.
                       Diante da timidez de outros, Frau Merkel acolheu cerca de um milhão de refugiados sírios, o que decerto é atitude não só benemérita, mas politicamente corajosa, pelas implicações envolvidas.
                        Não foi por acaso de resto que a coalizão governamental perdeu em eleição nos Länder.
                        A esse respeito, para Obama, Merkel "está do lado certo da história", ao dar acolhida aos estrangeiros, e em particular os sírios.  "Merkel dá voz aos princípios que unem as pessoas, e não aos que as dividem."
                          Barack Obama diz sentir orgulho por Merkel ter adotado  políticas mais brandas para expressar preocupações humanitárias. A Chanceler tem sido alvo de críticas pela oposição por esse acolhimento de refugiados em território alemão.
                           Outro aspecto em que a Merkel tem padecido críticas na questão dos refugiados se reporta a alegadamente ter cedido demasiado à Turquia, em prol de acordo para conter a chegada de mais estrangeiros.
                            Nesse caso, o presidente Recep Erdogan se teria prevalecido da respectiva posição territorial para vender caro a  cooperação turca, no sentido de conter a chegada de mais estrangeiros às terras europeias. O Presidente Erdogan, lembrado de tropeços como a não-aceitação,  na prática, do ingresso de Ankara na Comunidade Européia, impôs várias e duras condições para que a Turquia se dispusesse a viabilizar o acordo.



( Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo )

Hillary x Trump

                                      

        Comentarista do New York Times, Frank Bruni usou a expressão sore losers[1](maus perdedores) para qualificar os rivais de Hillary Clinton e de Donald Trump, eis que se negam a aceitar a manifesta derrota e o seu distanciamento dos respectivos front-runners.
         No que tange a Bernie Sanders, semelha para ele difícil reconhecer uma derrota que a cada série de primárias se vinca com mais força, dada a distância em número de delegados e os muitos milhões de votos que o afastam de Hillary.
        É difícil, no entanto, para alguém que se acredita ungido pelos despossuídos e pelos jovens admitir o malogro da respectiva cruzada.
        No lado republicano, após as prometidas 'alianças' contra o adversário comum, no caso Donald Trump, o Senador Ted Cruz e o governador Kasich, falhando melancolicamente no escopo de juntar forças, ora lhes cabe continuar a sonhar com reviravolta, que, diante do triunfo total de Trump nas cinco primárias, vai ficando cada vez mais improvável.
         A despeito dos resmungos da alta hierarquia do Grand Old Party, a Convenção de Cleveland se aproxima e a anterior possibilidade do 'estranho no ninho' virar o candidato oficial caminha, malgrado toda a precedente resistência, para tornar-se realidade.
          Há temores no Partido Republicano que candidatura como a de Trump possa ter desastroso efeito-cascata nas campanhas para o Congresso (sobretudo o Senado, eis que o domínio do GOP na Câmara dificilmente será abalado por causa do gerrymander que sucedeu ao shellacking  (tunda) de 2010), e igualmente para as governanças estaduais. Mas tais previsões hiperpessimistas sobre as consequências para o partido em geral da candidatura Trump, foram feitas quando o magnata nova-iorquino irrompera durante o verão de 2015, e não se tinha ainda verificado a respectiva implantação da candidatura no partido republicano.
          De qualquer forma, dadas as idiosincrasias do candidato Trump, não se pode excluir que, por motivo de alguma gafe, ou de performance decepcionante em debate (o que, é bom frisar-se, não ocorreu nos inúmeros debates de que Trump participou com os seus rivais republicanos), tal possibilidade certamente não poderia ser afastada de todo. A fortiori, a postulação de Trump  se tornou menos amadora e a respectiva atuação mais conforme aos paradigmas da disputa presidencial, com o ingresso no seu estado maior de Mr Manafort, um experiente agente político.
            Por fim, se a banda de Bernie Sanders ainda pode atrapalhar a progressão de Hillary, o número de delegados já arrebanhado pela ex-secretária de estado representa  barreira equivalente àquela que a fizera renunciar à disputa, em favor de Barack Obama, em 2008.
            Segundo a opinião de muitos e tendo presente a série de ataques personalizados de Sanders contra Hillary - além disso o senador por Vermont acreditara liderar uma cruzada - se torna assaz complicado abandonar os fervorosos seguidores, máxime se computarmos o vitríolo nos ataques e a intransigência desse gênero milenarista.
             Dentro desse compasso, os seus seguidores põem as esperanças na primária de Indiana. Só que o chamado efeito Obama, com o número crescente de delegados, tende a tornar eventuais vitórias do desafiante em primárias isoladas vãos exercícios de jogo que já está decidido por intransponível diferença.
              Nesse sentido, vai cada vez mais crescendo a probabilidade que Hillary Clinton já chegue à Convenção de Filadelfia em condição de virtual candidata do Partido Democrata.

( Fonte: The New York Times )



[1] sore loser significa perdedor mal-humorado, mas aqui a melhor tradução é a do texto acima.

terça-feira, 26 de abril de 2016

Brasil à deriva?

                                 

        À parte o descalabro ético, que está na raiz  do lulo-petismo, e de que, enquanto não os atrapalhem, vêm cuidando muito a contento o juiz Sérgio Moro e a Lava-Jato, outro grande problema que ameaça o Brasil  é a mudança no critério de pagamento da dívida dos Estados com a União.
         Dilma Rousseff está igualmente na raiz desse magno desafio às avessas. A coluna de Miriam Leitão sintetiza a questão, que não é tão complexa assim quanto parece.
         Mais uma vez, o Governo Dilma errou, desta feita ao abrir  negociação com os Estados - com que baixara a ponta-levadiça da atribulada e assediada cidadela do Tesouro brasileiro, ensejando inesperada oportunidade de ganhos líquidos a administrações estaduais que estão em péssimas condições financeiras, e, dessarte, demasiado expostas à tentação da minimização de dispêndios com  quaisquer recursos, mesmo até aqueles  eticamente de problemática defesa. Tampouco, a economista dona Dilma e seu dócil sub-escudeiro nas finanças (pois Joaquim Levy é de outra têmpera, e por isso teve de ser jogado às feras) uma vez aberta a caixa de Pândora, não mais tinham quaisquer condições de  conduzir o processo.
          A complicação aumenta porque a nova Lei fala em juros, mas não especifica que são compostos. Como sublinha a coluna de Míriam Leitão, na tensão da crise política, o Supremo Tribunal Federal vai decidir  sobre a briga dos Estados com a União.  Aqueles dizem que vão quebrar se tiverem de pagar a dívida na maneira com que ela é cobrada; por outro lado, o governo federal, na prática acéfalo, calcula que a dívida (cerca de R$ 2,8 trillhões), vai aumentar de mais trezentos bilhões de reais.
          Por outro lado, a impressão colhida por ministros do Supremo diz que, ainda por cima, o Ministro Nelson Barbosa, da Fazenda, não foi convincente.
           E a explicação de um dos Ministros do STF, preocupa ainda mais pela franqueza: "A verdade é que nós temos que decidir  uma questão gravíssima, em momento muito delicado na economia e na política, o governo tem uma equipe econômica fraca e o advogado-geral-da União está ausente porque tem outras preocupações." (o grifo é desta coluna)
           Quando titular de governo é afastado do poder, e não se sabe se é de modo permanente ou temporário, a maquinária governamental sofre a própria crise de autoridade, e há um consequente enfraquecimento desse poder. Não é, portanto, o momento mais adequado para que tal questão - com efeitos permanentes - seja resolvida. Talvez se o senhor AGU estivesse presente, seria quem sabe a linha de argumentação que proporia ao colegiado.
               Como assinala Miriam Leitão, o governador Paulo Hartung, do Espírito Santo, é economista - e dos bons. A tese de Hartung é interessante - ele a expôs em artigo publicado na "Folha de S. Paulo" - pois também diz que os estados não têm direito em sua queixa e que a mudança infringe a regra universal de crédito. O governador Hartung sublinha que "entre outras consequências previsíveis está o 'risco de insolvência da dívida pública' (...). E mais além, Hartung afirma: "ao contrário do que os estados fazem crer, o processo de renegociação da dívida, feito em 1997, significou subsídio aos estados.  A cobrança de juros não é, portanto, indevida e injusta, como dizem."
                Nesse inquietante contexto, e não obstante a observação de um dos Ministros do STF de que eles teriam de resolver logo a questão, com autoridades que estão ou ausentes, ou são fracas, o recurso mais óbvio, salvo melhor juízo, seria o de pedir vista do processo, recurso tal que é de corriqueira usança no Supremo.
                É o que me permito sugerir, na minha húmile qualidade de bacharel da Faculdade Nacional de Direito, do então Distrito Federal.


( Fontes: O  Globo; coluna de Miriam Leitão ) 

Caras de Pau

                                         

       A linguagem pode variar, mas se formos fundo, a mensagem é na essência a mesma.
       Na entrevista da segunda, um intelectual relativamente jovem, e que ainda crê tenha nichos amplos no próprio partido, inclusive quanto a oportunidades, fala muito, em linguagem cuidada, mas admite muito pouco.
       A interpretar-se bem plus ça change, plus c'est la même chose (mais mude, mais a coisa se parece).
        Para ele, o impeachment é também golpe, só que a análise é vertida de modo escorregadio, bem ao feitio da casa impressora, quase ao modo dos clássicos em que todos os deslizes são admitidos.
       Todos os erros - ou quase todos - são como não houvessem existido, e alguns poucos, se porventura na escoimada linguagem admitidos, tudo se deveria a lamentáveis equívocos, que ainda por cima foram mal compreendidos.
       Por sua vez, a voz roufenha de Lula, se pelo estilo próprio do tribuno sindical, se pelas limitações de quem não tem tempo para os livros, pode a princípio dar diversa impressão, se nos detivermos por um pouco mais de tempo, veremos que há muito poucas diferenças nos dois discursos.
       Lula, e a sua gente, lembra para os que têm o prazer da leitura, os Bourbon de França, que ao retornarem à pátria após a queda de Napoleão, diziam que nada tinham apreendido e nada esquecido com o exílio.
       O torneiro-mecânico, segundo discurso (a que  pediu a Luiz Dulce lesse, por estar rouco) em que chamou de "corruptos notórios" e "uma verdadeira quadrilha" os apoiadores do impeachment no Congresso. Prometeu também "muita luta" no Brasil como resposta à abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
        Por motivos que não aprofunda, Lula tem presente as limitações do momento, em que os movimentos de esquerda - alicerce da defesa da Presidenta - enfrentam uma fadiga material e humana.
       A CUT convidou Dilma e Lula para o ato de 1º de Maio, no vale do Anhangabaú. Note-se que, além das dificuldades, Lula tem reconhecido como consumado o impeachment da Presidente.
 
        A sua antiversão da crise do  Impeachment  - que não se pronuncia em momento algum sobre a motivação da manifestação multitudinária do treze de março último por todos esses Brasis -  é caricatura grosseira da realidade, sob vistas petistas: "Houve um pelotão de fuzilamento comandado pelo que há de mais repugnante no universo da política. Uma aliança oportunista, entre a grande imprensa, os partidos de oposição e uma verdadeira quadrilha legislativa (sic) implantou a agenda do caos no país."
         Nessa mesma linha, disse Lula ao assumir o microfone:  "Eles que se preparem, se pensam que vão destruir o PT." Para Lula, "o impeachment é o maior ato de ilegalidade feito desde a revolução de 1964."          
         Na linha da tribuna, a volta às origens não mais encontra o PT aguerrido, jacobino e despojado dos seus começos. Para que o seu discurso repercuta, cabe ir às fontes, e reconhecer os erros de gestão nos longos anos do poder, que, seja pelos desatinos de dona Dilma, seja pelas más escolhas de seu padrinho, estão na raiz dos problemas e das crises que ora desabam sobre o Partido dos Trabalhadores.
         Ou será que o tribuno Lula da Silva pretenda  assemelhar o fundador do PT, o intemerato Hélio Bicudo (que se desligou do partido em protesto à primeira crise enfrentada por Lula, que foi a do Mensalão, em 2005/6) a um "corrupto notório" junto com o professor Miguel Reale Júnior e a dra. Janaína Paschoal ?
     

( Fonte: Folha de S. Paulo )

segunda-feira, 25 de abril de 2016

O Massacre de Iguala

                             

        A chacina de 43 estudantes mexicanos na cidade de Iguala, no estado de Guerrero - em que pobreza e violência se dão as mãos  - vai fazer dois anos a 26 de setembro próximo.
        Até hoje, apesar da participação da polícia - ou seria melhor dizer repressão? - há um clima de omertà, a resposta siciliana, de silêncio, a muitos crimes.
        A fraqueza do Estado no México que o passar dos anos tem reforçado - se me permitem a contradição vocabular - é que, em verdade, reflete adaptações a diferentes níveis de poder.
         Os silêncios - quando sistêmicos - são por vezes mais atroadores do que as eventuais acusações.
         O México não é a Sicília, ou talvez ainda falte muito para que essa legendária Sicilia possa vir a ser exemplo para esse país latino-americano.
         Muitos detalhes desse crime hediondo foram levantados por dois relatórios de comissão internacional sobre o massacre, a despeito de falta de cooperação do Governo mexicano em quanto a disponibilizar informações sobre a matança.
          Não obstante, essa escuridão intencional, deve-se louvar o empenho dos estrangeiros quanto ao relato do ambiente de violência em que se gestou o massacre. Outros países compreenderão esse silêncio oficial: Guatemala, El Salvador, Brasil, Argentina.
          É uma lista decerto incompleta. De longe ou de perto, os desaparecidos nos olham através de constrangido mutismo, que tem várias gradações.
          Mas, quaisquer que sejam as ignomínias sofridas, a sua condição de insepultos por não merecerem sequer inumação digna, como se possível fora uma segunda injusta condenação, que é a de torná-los desaparecidos, para sempre afastados de seus familiares, será talvez o que fará a coragem retomar a sua jornada, para que possa ser afinal vencida a aliança do mal.
           Não há decerto maior crueldade do que a do silêncio, ainda mais forte do que a brutalidade que levou os 43.
            Hoje eles são talvez apenas um símbolo, mas a terra que os oculta se abrirá um dia, e não para o juízo final. Pena que os tenha levado a cega violência. E lá construirão um grande memorial. Em mármore, mas frio, porque passaram os  anos, e os poucos que ficaram, sombras que já são, pouco falam e menos ainda dizem.


( Fonte: The New York Times )  

Maduro e a ditadura judiciária

                         

         O controle da maioria oposicionista no Congresso da Venezuela está sendo abusivamente realizado por um 'Supremo', que na verdade atua como bedel ou controlador do Legislativo venezuelano. Com efeito, essa atuação dos chavistas através do Supremo não tem qualquer fundamento dentro do equilíbrio de poderes que é uma das características primaciais da teoria de Montesquieu.
        Dado o atroz nível desses senhores, esse tipo de observação não parece suscetível de qualquer efeito suasório nesse grupo, que recorda a Animal Farm, a imortal sátira de George Orwell.
        Uma justiça como a atual na Venezuela de Nicolás Maduro sendo um acinte aos princípios que devem presidir a coexistência constitucional dos três poderes - legislativo, executivo e judiciário - não tem  qualquer base constitucional, sendo nula de pleno direito.
       O tosco 'mecanismo' instituído pelo ditador Nicolás Maduro não engana ninguém.
        Quando falta qualquer espírito de respeito aos grandes princípios que norteiam a governabilidade de um país, como é o caso da Venezuela, não há entendimento possível entre os poderes.
         Foi para este senhor e sua caterva, que uma tosca manobra de Dilma Rousseff criara condições de fato para 'suspender' o Paraguai do Mercosul, e fazer entrar a Venezuela chavista no dito Mercado Comum Sul-americano. Com isso se agravou a crise do Mercosul, e o petismo, através de seus interventores, forçou a diplomacia brasileira a mais um triste papel, desrespeitando um país amigo e soberano, em canhestra manobra.
         A crise se agrava na Venezuela, mas talvez através desse paroxismo - que é a crua intervenção no Legislativo sem qualquer respeito pela equiparação dos poderes  -  os  protestos cresçam visualmente e em decibéis, de modo a despertar de sua modorra a Organização dos Estados Americanos.

          Será, acaso, esperar demasiado?



( Fonte:  O Estado de S. Paulo 

domingo, 24 de abril de 2016

Colcha de Retalhos D 17

                                  
 Apoio do PSDB  a  Governo Temer           


          Surpreendera na véspera que setores do PDSB recusassem  a colaborar  com um eventual governo Temer.
          Se não se pode ainda discutir sobre participação em governo que só existirá se Dilma for afastada,  tampouco manda uma boa impressão que os tucanos resolvam deixar um governo Temer  entregue à própria sorte.
           Por isso, é mais do que compreensível que dois caciques do PSDB - Alckmin  e Serra - se hajam disposto a intervir, declarando que o partido tem o dever de apoiar Michel Temer.  Diante dos enormes desafios colocados perante um eventual novo governo, o governador Alckmin afirma que o partido tem o "dever de apoiar e sustentar" um eventual novo governo, mas "sem cargos".
            Doutra parte, o Senador Serra concorda em que o PSDB deva apoiar Temer, mas vai mais além: "seria bizarro o PSDB ajudar a fazer o impeachment de Dilma e, depois, por cálculos oportunistas, lavar as mãos."
            Nesse sentido, há rumores que, se eventualmente empossado um governo Temer, José Serra poderia ficar com o Ministério da Fazenda. 


Novo apelo de Obama a britânicos

             Em sua atual visita ao Reino Unido, o presidente Barack Obama fez novo apelo aos britânicos  pela permanência na União Europeia.
             Na sexta-feira, em entrevista coletiva ao lado do Primeiro Ministro David Cameron e também em artigo no jornal Daily Telegraph, ele já fizera forte apelo, dizendo que a União Européia  fortalece a posição do Reino Unido no mundo.
            Consultados, ligeira maioria dos eleitores (53%) julgara inapropriado  que Obama  expressasse  sua preferência de como o Reino Unido deveria votar.
            É de assinalar-se, porém, que será por exclusiva iniciativa do Premier Cameron que o Reino Unido (UK) votará mais uma vez se quer ou não ficar na UE. Cameron parece esquecido da longa luta da Inglaterra por ingressar no bloco europeu, havendo sido na primeira iniciativa barrada por célebre conferência do general de Gaulle. Muito mais tarde lograria entrar. Sob o trabalhista Tony Blair, a questão já fora submetida a referendo, sendo que venceram os partidários da permanência na União Européia.
             Pelo visto, o veio insular inglês ainda é muito forte. Só que o UK entrou na UE sobretudo por causa de interesses comerciais. Nesse contexto, a insistência em sair da União de Bruxelas provoca espécie. Lembro-me a propósito do velho dito: não desejes muito uma coisa, porque ela pode acontecer...


O Efeito Impeachment e o PT

             A perda de popularidade do Partido dos Trabalhadores tem causado a fuga da sigla de prefeitos, eleitos em 2012 pelo partido de Lula e Dilma.  Até a metade do corrente mês, um em cada cinco eleitos naquele ano mudou a sua filiação, indo bater noutra freguesia.
             Nem todos, no entanto, foram embora voluntariamente.  No total, 135 dos 638 então eleitos pela sigla pediram desfiliação ou foram expulsos da legenda.
             As perdas maiores estão em São Paulo (35 dos 74 eleitos), Paraná (19 de 40), Rio de Janeiro (7 de 11) e Mato Grosso do Sul  (8 de 13).



( Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo ) 

sábado, 23 de abril de 2016

Dilma, de novo, entorna o caldo

                             

         Pelo visto, a viagem de Dilma Rousseff a New York, para denunciar o golpe que teria sofrido, não funcionou. Em se tratando da Presidenta, não estaremos comunicando nada que realmente surpreenda.
         Com efeito, como todos os brasileiros que tivemos de aguentá-la, já aprendemos a lição que não é prudente confiar nas suas promessas.
          Como é do conhecimento geral, Dilma dera como propósito de sua ida a Manhattan denunciar o golpe que lhe tinha sido aplicado pelo Congresso.
           Depois, acrescentaria a motivação de igualmente comparecer para a cerimônia das Nações Unidas relativa ao acordo recentemente firmado em Paris para lidar com o desafio do aquecimento global.
           Ficou, no entanto, no meio político o temor de que Dilma comunicasse da tribuna da Assembléia Geral das Nações Unidas que o seu impeachment na verdade tinha sido um golpe... Em outras palavras, repisando a suposta tese petista que visara desmoralizar a sólida acusação contra ela, apresentando toda a crise como manobra golpista da oposição.
           O povo brasileiro, como se sabe, e o próprio Supremo não deram crédito à reação do PT, que é interpretada como tentativa política de negar crédito à seriedade que presidira ao Impeachment.
           No seu artigo sobre a viagem de Dilma, o New York Times tampouco caíu na trampa. Após assinalar que ela preferira, ao final, não incluir no seu discurso na Assembléia Geral qualquer menção ao  "golpe", observa que a Rousseff convidara um grupo de jornalistas, para depois da alocução, e na residência do embaixador brasileiro, partira para a ofensiva, denunciando seus oponentes, a quem definiu como 'mercadores do golpe' e 'conspiradores', e acrescentou que eles seriam julgados com severidade pela História.
          A matéria do Times reporta igualmente a reação da mídia brasileira, que criticou a decisão dela de pleitear apoio internacional na sua luta contra o impeachment, como um movimento que mancharia a imagem da nação.
          Faz-se ainda menção ao editorial da Folha de S. Paulo, que condena inequivocamente a tentativa da Presidenta.  Mas na profusão de citações, a mais forte segundo o Times, é o comentário do Ministro do Supremo, José Antonio Dias Toffoli: " A resposta responsável seria fazer uma defesa que respeite as instituições brasileiras e transmita uma mensagem positiva acerca do Brasil para o mundo  - que é uma democracia sólida que funciona e que as suas instituições agem com responsabilidade."
             O Times sublinha que "as palavras de Dias Toffoli têm peso:  ele é um antigo advogado do Partido dos Trabalhadores  que foi indicado para a Corte pelo predecessor de Rousseff e seu patrono político, Luiz Inácio Lula da Silva."
              Como se verifica, uma vez mais dá chabu tentativa de Dilma. E como já tinha sido notado por esta coluna, a evolução do Ministro Dias Toffoli já era verificada, e é um desenvolvimento que deve ser notado com louvor.


( Fontes:  The New York Times,  O  Globo ) 

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Colcha de Retalhos D 16

                          

Filhos da Depressão

           10 milhões e quatrocentos mil desempregados! Nunca houve tantos no Brasil. As empresas, tangidas pela baixa atividade econômica, e o consequente encolhimento do mercado, são forçadas a pôr na rua tanto operários, quanto  todo tipo de empregado de escritório.
           Tal desemprego é consequência de grave falha no mercado.              
            Quem criou essa crise ? Lula porque fez com que se elegesse pessoa incapaz. E essa pessoa, Dilma, agora mandou-se para Nova York para dizer que foi vítima de um golpe. Pena que não é verdade.  Porque  se fosse verdade, teríamos ganho pelo menos o bonus de ficarmos livres dessa senhora. Ela se diz honesta. Pode até ser. Mas anda em muito má companhia. E ainda por cima é uma toupeira: passou dez anos como chefa do conselho que controla a Petrobrás, e diz que nada suspeitou do Petrolão. E de Pasadena, a enferrujadinha, apenas escreveu um despacho ridículo...

A denúncia de Dilma na ONU

               Falam muito na ONU. Há gente por aqui que ainda pensa que a ONU pode resolver qualquer problema.
                Pergunto: se resolvesse, como é que o povo palestino continua a ser expulso de suas terras?
                A ineficácia da ONU é gritante. Convive com a miséria do Haiti, com a injustiça contra os palestinos, enquanto o regime de ultra-direita de Netanyahu dá as cartas e jogas as bombas.
                 Por isso, gente, não dêem muita importância a essa tentativa de Dilma de dizer que houve contra ela um golpe - que só existe na esquizofrenia do PT... Todos sabemos que apesar da gritaria dos petistas, houve uma votação livre, e ela impichada com mais de 40 votos além dos 342 obrigatórios! Para certo tipo de gente, melhor não desperdiçar muita atenção. Graças a seu protetor e a ela, muito mal já foi feito ao povo brasileiro.
                   Deixem que a turma do PT, que hoje se esgoela por causa de um golpe, que ninguém viu (nem Conceição) mas segundo eles existe mesmo... Se continuarem incomodando - o Ruy  Falcão, o Franklin Martins e outros - não demora muito e aquele silêncio pesado que cerca quem continua torrando a paciência dos demais, vai deixá-los caladinhos, caladinhos...
( Nota: em geral a Colcha de Retalhos sai no domingo. Mas desta feita, vai sair nesta Sexta, 22 de Abril ).

( Fontes: Rede Globo, Folha de S. Paulo, O Globo)

Os submarinos de Putin

                                        


        Não eram desconhecidas as ambições de Vladimir V. Putin em transformar a Federação Russa em autêntica herdeira da URSS. Com a pacífica implosão da União Soviética, que, ao cabo de 1992, literalmente desaparecera do mapa, sendo sucedida pelas inúmeras nacionalidades, antes abrangidas pelo poder de Moscou, surgiria  nova realidade no mundo, com o predomínio da única Superpotência.
       Passado quase um quarto de século, a realidade, se mostra  os Estados Unidos, com uma situação de poder ainda na categoria super, duas potências repontam com grandes pretensões. Trata-se, obviamente, da República Popular da China e da mesma Federação Russa.
       Sob a liderança autoritária de Putin, Moscou voltou a ter maior presença internacional - veja-se, não só, a sua guerra não-declarada contra a Ucrânia, mas também a intervenção na Síria e, agora, a ênfase no emprego de submarinos, nucleares ou não, como instrumentos de atuação militar e, por conseguinte, de influência.
        Tudo isso depois que gospodin Putin ouvisse de Barack Obama que cuidasse dos próprios assuntos, eis que o seu país passara a ser um poder regional.
         Nada que tire Vladimir Vladimirovich mais do sério do que um put-down[1] do gênero.  A provocação de Obama foi dita após a intervenção branca russa no seu grande vizinho ao sul,         que é a Ucrânia. Se por ora, Kiev não tem que lidar com as contínuas entradas em suas fronteiras à oeste, e máxime naquelas próximas do mar Negro - exemplo disso foi a invasão e tomada da Criméia, que hoje deixou o estrangeiro perto para transformar-se em mais uma província da Federação Russa, malgrado a condenação pela Assembléia Geral das Nações Unidas.[2]
           Contudo, a política americana pode conter um viés maquiavélico que poderia levar a Rússia a experimentar as mesmas dificuldades que levaram a Superpotência soviética a desaparecer do mapa por conta da implosão que hoje se credita à política de Ronald Reagan.
            Sem embargo, ainda é cedo para fazer prognósticos a respeito. Deve-se dizer, no entanto, que Vladimir Putin encara seriamente esse desígnio de voltar a ser super-potência, como por tanto tempo Washington considerou como tal Moscou.  Pode ser que mesmo antes que Reagan  causasse intencionalmente aquecimento na capacidade motora do Kremlin que à la longue não lhe seria suscetível resistir, já a URSS buscasse ir ao limite para manter a ficção da paridade entre as duas superpotências.
              Tenho comparado muitas vezes Vladimir Putin com Benito Mussolini. Em muitos pormenores histriônicos, os dois líderes têm muito em comum. O torso nu do Duce o revemos em Putin, que gosta de aparentar força física, apesar de ser de baixa estatura. Mas gostaria agora de referir-me à similitude de maior peso entre os dois líderes autoritários.
               Mussolini quis fazer da Itália uma grande potência. As potências européias da época - Alemanha, França e Grã-Bretanha - por motivos diversos - fizeram de conta que acreditavam em que tal projeto correspondesse à verdade.
               Putin foi afastado do G-8 pela sua intervenção na Ucrânia. Mas ele não alimenta qualquer dúvida quanto ao lugar que deva ter Moscou no concerto das nações. Para tanto, o presidente russo comissionou a elaboração de uma doutrina eurasiana, que existe somente para dar suporte ideológico às pretensôes e às posições do Kremlin.
                A ajuda a Bashar al-Assad não foi de graça. O titubeante e enfraquecido Raïs da Síria concedeu-lhe um porto no Mediterrâneo oriental - em águas quentes! - e agora cedeu território para construção de uma base moscovita.
                 Por fim, Putin está despejando em frota de submarinos nucleares somas enormes que devem sobrecarregar deveras a capacidade financeira de Moscou - que é sempre bom lembrar depende prioritariamente do petróleo para os seus projetos de grandeza. Nessa estreiteza de fontes - a economia russa dispõe de outras, é claro, mas a dependência do ouro negro salta aos olhos - aí encontramos outro traço que o aproxima de Benito Mussolini, a quem, como já se observou, Vladimir  Putin admira, malgrado o caráter secundário no concerto das grandes potências da época que cabia ao líder fascista.
                    Não é decerto blefe o engajamento de Putin através da presença de seus submarinos em muitas áreas visitadas pelo Ocidente. A maior participação nesses jogos bélicos da Rússia, incentivada pelo seu presidente, vai acarretar uma grande sobrecarta para a economia de Moscou. Dadas as conhecidas limitações diante dos mais escassos meios de que dispõe hoje o Kremlin para equiparar-se ao papel militar do Ocidente, não será sem sacrifício da própria economia que tal incrementada presença poderá ser viabilizada.
                    Contrastar a Aliança dos países da OTAN faz, assim, parte do projeto restaurador de Putin. Partindo de base menor, a manutenção desse jogo por Putin depende de uma série de fatores.
                     Por enquanto, os seus propósitos semelham ser pacificos. Conquanto tal assim não parece à primeira vista,  dado o ethos autoritário do Senhor de Todas as Rússias, isto pode ser até levado como elemento de consideração.
                      Em se tratando, porém, de Vladimir Putin e de seus sonhos (ou projetos) de grandeza, tudo é admissível, menos subestimá-lo.
                       Assim, se a cotação do petróleo brent voltar a níveis mais remunerativos, a mão de Putin tenderá a ficar mais pesada.  Se, porém,  as coisas piorarem para esse lado, gospodin  presidente pode chegar até com mais verossimilhança a interessar-se pelas perspectivas de paz fundada na justiça...

( Fontes: The New York Times, The New York Review of Books )    




[1] chamada à ordem
[2] Por ordem de Dilma, a diplomacia brasileira se absteve na Recomendação aprovada pela AGNU. Tal representou vergonhosa mancha para a diplomacia brasileira, ainda mais por votar contra determinação expressa da Constituição de 1988;