quarta-feira, 20 de abril de 2016

O Impeachment no Senado

                         

         Depois da curva ascendente representada pela aprovação do Impeachment pela Câmara dos Deputados, a reação dos adversários da decisão e da própria indigitada introduz novos elementos para a evolução (ou involução) da questão.
         Ao contemplar esse quadro, um observador poderá duvidar da postura atitudinal de muitas das partes em liça, e chegar mesmo a considerá-las margeando a oligofrenia.
         A negação da realidade costuma partir de um desvio do julgamento da realidade. Esse desvio pode ser determinado pela negação de componentes da realidade. O que interessa aí é a causa que determina essa reação.
          No marxismo, como em posturas ideológicas assemelhadas, a negação da realidade - reforçada pela sua repetição nos foros pertinentes - constitui um artifício bastante corriqueiro dos movimentos com forte carga autoritária.
           Esse cediço recurso - a velha lição não só de Goebbels, mas também do comunismo: repetir uma mentira mil vezes para que se torne artigo de fé e, por conseguinte, verdade - parte da premissa de que tal verdade pode depender, para sua corroboração, de uma repetição ad nauseam, o que funcionaria à falta de raciocínio desse nome, como adequado substituto para estabelecer uma afirmação que se deseja fazer passar como verdade.
           Dessa maneira, o impeachment virou golpe. Pouco importa para os seus defensores que  tal interpretação deste processo jurídico-legislativo tenha sido estabelecida segundo uma sequência lógica, através da individuação de procedimentos ilegais adotados pelo governo de Dilma Rousseff, com a comissão de crimes de responsabilidade (devidamente determinados pela Lei de Responsabilidade Fiscal).
            Também para os defensores da postura ilegal em causa, pouco importa a condenação unânime das contas de Dilma Rousseff pelo Tribunal de Contas da União, e a elaboração da petição pelo  Impeachment, documento assinado pelo Dr Hélio Bicudo, Prof. Miguel Reale Júnior e Dra Janaína Paschoal.
            Gera, por isso, constrangimento que o PT e seus líderes continuem a vociferar, como se fora mais um slogan, que o impeachment é golpe. Dada a pobreza dos argumentos utilizados pelos representantes do Partido dos Trabalhadores - que muitas das vezes se cingem a repetir a palavra de ordem - esse tipo de anti-argumentação não deveria merecer mais atenção, se, de forma irresponsável,  a  Presidenta  venha a público denunciar o Impeachment como golpe, simples fabricação legislativa para afastar um governo legítimo.
               É lamentável que esta ficção seja abraçada pela presidente, a despeito de que a resolução respectiva tenha alcançado 367 votos contra 137, o que configura enorme maioria, bastante acima, de resto, do total mínimo exigido pela legislação em vigor.
               É difícil definir a irresponsabilidade petista, assumida pela própria Presidenta, que mesmo na condição jurídica em que se acha, resolveu viajar para New York, possívelmente com o propósito de apresentar a sua verdade neste foro internacional.
               A cara de pau de uma presidente impeached, com o seu processo já no Senado, vai gerar seguramente para nossos representantes junto às Nações Unidas - refiro-me decerto a diplomatas sênior, com postura séria, condicionada pelo juízo de nosso Supremo, que pela palavra de seu decano, o Ministro Celso de Mello, reitera  ex-cathedra que o processo do Impeachment é legal -  muita perplexidade e desconforto.                  
                O despreparo da Presidenta - ao se aferrar a assertivas tão infundadas - trazem decerto a juízo um ulterior elemento para determinar o afastamento dessa senhora.
                Dado o momento peculiar que atravessamos - afinal de contas, sob a Constituição de 1988 apenas dois presidentes foram impedidos - e atendida, outrossim, que, por motivos que oficialmente se ignoram, o Senhor Renan Calheiros resolveu contrariar o bom senso, e adiar por mais uma semana o processo de julgamento pelo Senado de Dilma Rousseff. Presume-se que o Presidente do Senado deseje dar-lhe mais tempo, como se isto pudesse favorecer-lhe a causa. Sem embargo, segundo Merval Pereira isto seria adiar o inevitável. Com efeito, como "já existe um grupo de 47 senadores declarados a favor de seu afastamento, seis a mais do que o mínimo necessário", tudo indica que tais manobras tenham a finalidade de ganhar tempo para encontrar uma saída que prolongue a permanência da presidente Dilma à testa do governo.
                  E não se esqueça, por fim, que há outra medida que o governo petista intenta reviver: trata-se de reexumar o decreto presidencial que atribui ao ex-presidente Lula da Silva a chefia da Casa Civil.
                  Dadas as consequências dessa investidura, seja no plano político, seja naquele administrativo, e last, but not least, na blindagem júridica que se outorgaria ao ex-presidente, pergunta-se se tal seria possível, atendida a posição do Ministério Público Federal, como já referida pelo seu Chefe, Rodrigo Janot ?
        

( Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo )

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