sexta-feira, 15 de abril de 2016

O Supremo e a Judicialização


                             

       Mestre Joaquim Falcão, no seu artigo de hoje, nos mostra dos perigos da judicialização. Como afirma o Professor Falcão, "desde 1988 o Supremo vem  se emaranhando  em si mesmo, construindo seu próprio labirinto".

        Como sublinha Falcão - e esta é uma atenuante - "ao contrário de alguns países, aqui o Supremo não pode livremente aceitar ou rejeitar casos".

        O exemplo dos Estados Unidos nos vem prontamente à lembrança. Por ter o direito de acolher ou denegar a audiência às questões, a Suprema Corte dos Estados Unidos não se vê atolada por massacrante rotina de processos, como é o caso aqui. Para ter-se idéia, basta examinar os processos pendentes na mesa de cada membro do STF. E não é raro que o novel membro receba como 'dádiva' o que o seu antecessor não pudera despachar.

         Mas este é apenas uma das vertentes do problema. Como assinala o Dr. Falcão: "Quem mais pede para o Supremo interferir em si mesmo  tem sido o próprio Congresso. Desconsiderando-se em sua própria intendência. É quase automutilação. Na maioria das vezes é armadilha."

         Ontem tivemos um bom exemplo. O PCdoB tentou repetir a jogada que fizera quando da aprovação pela Câmara do processo do Impeachment. Daquela feita, a coisa funcionara para o partido sucursal do PT, com o chamado 'parecer Barroso', que derrubara o mais correto 'parecer Fachin'.  Com efeito, o ministro Luís Roberto Barroso prevalecera por um voto, sobre a proposta, mais isenta e atenta para as particularidades da Câmara, do Ministro Edson Fachin.

         É quase um reflexo imediato. O perdedor - ou quem se acredita prejudicado - já tem na mente, como parte do processo, o recurso ao Supremo. Seja por Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), seja por liminar, o recurso semelha parte integrante do processo.

         Como refere o Dr. Falcão, "contra isto, o Supremo já poderia ter construído jurisprudência, uma autodefesa contra o abuso de seu uso."

          Não o fez até hoje, e esses recursos partidários - em geral dos perdedores ou em posição de desvantagem - constituem reflexo quase automático, diante de situação de inferioridade. O Supremo deixa de ser possibilidade extrema para tornar-se mais uma alternativa, dentre as eventualidades de como reagir diante de situação de desvantagem dentro do Poder Legislativo. Quem não tem os votos, bate à porta do STF para a apelação (que aqui tem dois significados, o técnico e a aquele relativo à situação em tela). Quando inferiorizada no seu próprio ambiente, a Parte aciona de imediato o Plano B, que é bater à porta do Supremo.

            Não há brio ou orgulho corporativo no caso. No contexto, já aparece como parte do processo, tal a facilidade com que o partido interessado pula a cerca institucional, e corre para o cercado do STF, na esperança de dar um jeito na coisa.

             Como se verificou ontem, o recurso do PCdoB para o STF não passava de um abrir de portas. Se a da própria instituição não era favorável, encarregue-se o setor legal de inventar uma rationale para o recurso extraordinário ao Supremo.

              E o professor Falcão põe o dedo na ferida: "o resultado tem sido a centralização, a suprema judicialização inclusive dos destinos de uma nação.  A centralização é tanta que o Supremo  não consegue tudo resolver.  Seleciona. A uns, a luz da decisão, a outros, cerca de 50 mil, a escuridão de esperas imemoriais."

                Os dois polos desta situação são mostrados pelo articulista: Isto "ao mesmo tempo lhe dá o poder que pratica, e a insegurança jurídica  que todos temem."

                A receita que mestre Falcão recomenda ao Supremo para que evite os descaminhos do labirinto da judicialização, é de implementação difícil. Pois na realidade presente, o STF "deixou de ser colegiado. O Supremo é cada ministro. Nem decide definitivamente. Decide por liminares."

                  Sendo um conjunto de personalidades, que acreditam ter brilho próprio, como vai tornar-se um órgão realmente colegial, que valorize, por conseguinte  o plenário e não individualidades ?

                   Ontem, sob o látego da urgência, foi possível agregar o fio tênue das concordâncias, deixando de lado o personalismo e o que se propõe contestar ao invés de somar.

                    No jogo das personalidades, as alianças são necessariamente excludentes. Do seu sucesso depende a reiteração da prática. Diante da intrínseca força das composições, brilha o fanal do porto seguro. Que será eterno, enquanto dure.

( Fonte:  Artigo de Joaquim Falcão - O Supremo e seu labirinto, em O Globo )

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