quarta-feira, 13 de abril de 2016

Visões do Planalto

 

Na queda, como no governo

 

        A batalha do Impeachment  continua e, até o momento, a força inercial, o que os americanos chamam momentum, está claramente do lado dos partidários do Impedimento.

        O PT, na verdade, só tem um partido com fidelidade canina até o presente: é o conhecido PCdoB, que parece consciente da sua visceral dependência do Partido dos Trabalhadores.

        Dilma mostra uma vez mais que é fraca seja no governo, seja na política. Se da administração, não carece falar muito, pelo seu claro, inequívoco fracasso, já diante do crescente desafio da queda, ela semelha não saber que, ao perder a cabeça, e partir para a ofensa e o quase-xingamento, a pobre Senhora não se dá conta de que nessa hora não deveria vestir a camisa do lado do avesso, emitindo um óbvio sinal que não está  mais em domínio de si própria.

         E quem parte para a invectiva nessa conjuntura, trai atitudes muito rasgadas de desespero.

         E desespero, senhora Presidenta, é sinalização de ataque de nervos ante desastre iminente.

 

A  Face  de  Dilma

 

          No meio do furacão, naquele núcleo do núcleo, semelha reinar uma estranha, ainda que fantasmagórica paz. Mas se o observador se detiver um pouco mais, ele tenderá a inquietar-se de um forma antagônica diante do circundante silêncio.

           E, no entanto, será patente o artificialismo da construção. Se os elementos se desencadeiam lá fora, e se, de certa maneira, todos os descontrolados movimentos, a fragmentação de o que antes sólido parecia, que dizem estarem no redemoinho lá fora, como ela poderá entender tais contrastes que, por um bizarro capricho, não vêm à sua presença?

           A copa e cozinha parecem as mesmas. A gente que aparece e  senta nas cadeiras de um auditório, e não regateia palmas, nem tampouco ovações, de onde é, de que canto eles vêm?

            E como é possível que, passados aqueles umbrais, as caras fiquem diferentes, e se os lábios se movem, será para mostrar deboche, escárnio, antagonismo, ou até indiferença, quando se depara alguém que já não tem remédio, e que olha e mais olha para a frente, a expressão por um instante congelada em raivosa incompreensão, como se estivesse a dizer, entre-dentes, "eu que ganhei duas eleições, como é que meteram-me nesta fria?".

           No seu parado, quase congelado semblante, o que imaginar-se possa, senão um lençol de cólera, em que lhe fervem as  entranhas, mas que só se deixa entrever na chispa do olhar por vezes desgarrado, mas que, no geral, se aferra em imenso, descomunal Por quê estão fazendo isso comigo?

            Para ela, o mal vem de fora.

            Por Deus, será isso verdade ?

             Mas, quem sabe, talvez assim lhe seja mais suportável esta travessia.

              Pois como agüentar sequer a suspicácia de que teria de procurar mais perto, quiçá nela própria, pela causa desse desastre que desaba em cima dela ?

 

( Fontes:  Folha de S. Paulo,  O  Globo )        

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