quarta-feira, 27 de abril de 2016

Hillary x Trump

                                      

        Comentarista do New York Times, Frank Bruni usou a expressão sore losers[1](maus perdedores) para qualificar os rivais de Hillary Clinton e de Donald Trump, eis que se negam a aceitar a manifesta derrota e o seu distanciamento dos respectivos front-runners.
         No que tange a Bernie Sanders, semelha para ele difícil reconhecer uma derrota que a cada série de primárias se vinca com mais força, dada a distância em número de delegados e os muitos milhões de votos que o afastam de Hillary.
        É difícil, no entanto, para alguém que se acredita ungido pelos despossuídos e pelos jovens admitir o malogro da respectiva cruzada.
        No lado republicano, após as prometidas 'alianças' contra o adversário comum, no caso Donald Trump, o Senador Ted Cruz e o governador Kasich, falhando melancolicamente no escopo de juntar forças, ora lhes cabe continuar a sonhar com reviravolta, que, diante do triunfo total de Trump nas cinco primárias, vai ficando cada vez mais improvável.
         A despeito dos resmungos da alta hierarquia do Grand Old Party, a Convenção de Cleveland se aproxima e a anterior possibilidade do 'estranho no ninho' virar o candidato oficial caminha, malgrado toda a precedente resistência, para tornar-se realidade.
          Há temores no Partido Republicano que candidatura como a de Trump possa ter desastroso efeito-cascata nas campanhas para o Congresso (sobretudo o Senado, eis que o domínio do GOP na Câmara dificilmente será abalado por causa do gerrymander que sucedeu ao shellacking  (tunda) de 2010), e igualmente para as governanças estaduais. Mas tais previsões hiperpessimistas sobre as consequências para o partido em geral da candidatura Trump, foram feitas quando o magnata nova-iorquino irrompera durante o verão de 2015, e não se tinha ainda verificado a respectiva implantação da candidatura no partido republicano.
          De qualquer forma, dadas as idiosincrasias do candidato Trump, não se pode excluir que, por motivo de alguma gafe, ou de performance decepcionante em debate (o que, é bom frisar-se, não ocorreu nos inúmeros debates de que Trump participou com os seus rivais republicanos), tal possibilidade certamente não poderia ser afastada de todo. A fortiori, a postulação de Trump  se tornou menos amadora e a respectiva atuação mais conforme aos paradigmas da disputa presidencial, com o ingresso no seu estado maior de Mr Manafort, um experiente agente político.
            Por fim, se a banda de Bernie Sanders ainda pode atrapalhar a progressão de Hillary, o número de delegados já arrebanhado pela ex-secretária de estado representa  barreira equivalente àquela que a fizera renunciar à disputa, em favor de Barack Obama, em 2008.
            Segundo a opinião de muitos e tendo presente a série de ataques personalizados de Sanders contra Hillary - além disso o senador por Vermont acreditara liderar uma cruzada - se torna assaz complicado abandonar os fervorosos seguidores, máxime se computarmos o vitríolo nos ataques e a intransigência desse gênero milenarista.
             Dentro desse compasso, os seus seguidores põem as esperanças na primária de Indiana. Só que o chamado efeito Obama, com o número crescente de delegados, tende a tornar eventuais vitórias do desafiante em primárias isoladas vãos exercícios de jogo que já está decidido por intransponível diferença.
              Nesse sentido, vai cada vez mais crescendo a probabilidade que Hillary Clinton já chegue à Convenção de Filadelfia em condição de virtual candidata do Partido Democrata.

( Fonte: The New York Times )



[1] sore loser significa perdedor mal-humorado, mas aqui a melhor tradução é a do texto acima.

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