terça-feira, 26 de abril de 2016

Caras de Pau

                                         

       A linguagem pode variar, mas se formos fundo, a mensagem é na essência a mesma.
       Na entrevista da segunda, um intelectual relativamente jovem, e que ainda crê tenha nichos amplos no próprio partido, inclusive quanto a oportunidades, fala muito, em linguagem cuidada, mas admite muito pouco.
       A interpretar-se bem plus ça change, plus c'est la même chose (mais mude, mais a coisa se parece).
        Para ele, o impeachment é também golpe, só que a análise é vertida de modo escorregadio, bem ao feitio da casa impressora, quase ao modo dos clássicos em que todos os deslizes são admitidos.
       Todos os erros - ou quase todos - são como não houvessem existido, e alguns poucos, se porventura na escoimada linguagem admitidos, tudo se deveria a lamentáveis equívocos, que ainda por cima foram mal compreendidos.
       Por sua vez, a voz roufenha de Lula, se pelo estilo próprio do tribuno sindical, se pelas limitações de quem não tem tempo para os livros, pode a princípio dar diversa impressão, se nos detivermos por um pouco mais de tempo, veremos que há muito poucas diferenças nos dois discursos.
       Lula, e a sua gente, lembra para os que têm o prazer da leitura, os Bourbon de França, que ao retornarem à pátria após a queda de Napoleão, diziam que nada tinham apreendido e nada esquecido com o exílio.
       O torneiro-mecânico, segundo discurso (a que  pediu a Luiz Dulce lesse, por estar rouco) em que chamou de "corruptos notórios" e "uma verdadeira quadrilha" os apoiadores do impeachment no Congresso. Prometeu também "muita luta" no Brasil como resposta à abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
        Por motivos que não aprofunda, Lula tem presente as limitações do momento, em que os movimentos de esquerda - alicerce da defesa da Presidenta - enfrentam uma fadiga material e humana.
       A CUT convidou Dilma e Lula para o ato de 1º de Maio, no vale do Anhangabaú. Note-se que, além das dificuldades, Lula tem reconhecido como consumado o impeachment da Presidente.
 
        A sua antiversão da crise do  Impeachment  - que não se pronuncia em momento algum sobre a motivação da manifestação multitudinária do treze de março último por todos esses Brasis -  é caricatura grosseira da realidade, sob vistas petistas: "Houve um pelotão de fuzilamento comandado pelo que há de mais repugnante no universo da política. Uma aliança oportunista, entre a grande imprensa, os partidos de oposição e uma verdadeira quadrilha legislativa (sic) implantou a agenda do caos no país."
         Nessa mesma linha, disse Lula ao assumir o microfone:  "Eles que se preparem, se pensam que vão destruir o PT." Para Lula, "o impeachment é o maior ato de ilegalidade feito desde a revolução de 1964."          
         Na linha da tribuna, a volta às origens não mais encontra o PT aguerrido, jacobino e despojado dos seus começos. Para que o seu discurso repercuta, cabe ir às fontes, e reconhecer os erros de gestão nos longos anos do poder, que, seja pelos desatinos de dona Dilma, seja pelas más escolhas de seu padrinho, estão na raiz dos problemas e das crises que ora desabam sobre o Partido dos Trabalhadores.
         Ou será que o tribuno Lula da Silva pretenda  assemelhar o fundador do PT, o intemerato Hélio Bicudo (que se desligou do partido em protesto à primeira crise enfrentada por Lula, que foi a do Mensalão, em 2005/6) a um "corrupto notório" junto com o professor Miguel Reale Júnior e a dra. Janaína Paschoal ?
     

( Fonte: Folha de S. Paulo )

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