segunda-feira, 25 de abril de 2016

O Massacre de Iguala

                             

        A chacina de 43 estudantes mexicanos na cidade de Iguala, no estado de Guerrero - em que pobreza e violência se dão as mãos  - vai fazer dois anos a 26 de setembro próximo.
        Até hoje, apesar da participação da polícia - ou seria melhor dizer repressão? - há um clima de omertà, a resposta siciliana, de silêncio, a muitos crimes.
        A fraqueza do Estado no México que o passar dos anos tem reforçado - se me permitem a contradição vocabular - é que, em verdade, reflete adaptações a diferentes níveis de poder.
         Os silêncios - quando sistêmicos - são por vezes mais atroadores do que as eventuais acusações.
         O México não é a Sicília, ou talvez ainda falte muito para que essa legendária Sicilia possa vir a ser exemplo para esse país latino-americano.
         Muitos detalhes desse crime hediondo foram levantados por dois relatórios de comissão internacional sobre o massacre, a despeito de falta de cooperação do Governo mexicano em quanto a disponibilizar informações sobre a matança.
          Não obstante, essa escuridão intencional, deve-se louvar o empenho dos estrangeiros quanto ao relato do ambiente de violência em que se gestou o massacre. Outros países compreenderão esse silêncio oficial: Guatemala, El Salvador, Brasil, Argentina.
          É uma lista decerto incompleta. De longe ou de perto, os desaparecidos nos olham através de constrangido mutismo, que tem várias gradações.
          Mas, quaisquer que sejam as ignomínias sofridas, a sua condição de insepultos por não merecerem sequer inumação digna, como se possível fora uma segunda injusta condenação, que é a de torná-los desaparecidos, para sempre afastados de seus familiares, será talvez o que fará a coragem retomar a sua jornada, para que possa ser afinal vencida a aliança do mal.
           Não há decerto maior crueldade do que a do silêncio, ainda mais forte do que a brutalidade que levou os 43.
            Hoje eles são talvez apenas um símbolo, mas a terra que os oculta se abrirá um dia, e não para o juízo final. Pena que os tenha levado a cega violência. E lá construirão um grande memorial. Em mármore, mas frio, porque passaram os  anos, e os poucos que ficaram, sombras que já são, pouco falam e menos ainda dizem.


( Fonte: The New York Times )  

Nenhum comentário: