segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Última Semana

Depois de seu lamentável comportamento, introduzindo na campanha presidencial reações grosseiras e pouco generosas, tão diversas do estereótipo do brasileiro cordial, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua pupila optaram por guardar o silêncio neste derradeiro fim de semana anterior aos comícios de 31 de outubro.
Acreditam-se eles favorecidos pelos lençóis de seda das pesquisas mais recentes, que atribuíram a Dilma Rousseff propícia inflexão na curva e maior vantagem sobre o candidato José Serra.
O representante do PSDB e da oposição terá perdido a força inercial advinda da surpresa do primeiro turno. O imprevisto resultado – que motivou o clima do ‘já ganhou !’ no seio lulista - decorre mais dos ultrapassados métodos empregados pelos institutos de pesquisas, cujo principal defeito reside na insuficiência das pessoas consultadas. A esse respeito, todos – inclusive o Datafolha – carecem de livrar-se da inadequação de seus procusteanos processos. No contexto, o fato de o Ibope errar pesquisa de boca de urna não deve ser tratado como mero acidente de percurso.
Não estranha, por conseguinte, que Serra alce o tom: “Precisamos de um governo que tenha caráter. Não podemos viver situação de mentira permanente.” Para ele, o PT adota pesos e medidas diferenciados contra a corrupção : “A justiça dos companheiros é mais lenta, não anda.”
Ao invés, diante do oficialismo se depara idílico quadro. Segundo Dilma: “Foi maravilhoso. Um final de campanha para cima.”
Entrementes, a reta final da campanha se abre com a oitiva de Erenice e do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, pela Polícia Federal.
Os advogados da ex-braço direito de Dilma Rousseff tentaram decerto – mas não lograram – adiar-lhe o depoimento para depois da eleição.
Demitida da Casa Civil pelas denúncias de tráfico de influência, que lhe tornaram insustentável a permanência como auxiliar direta do Presidente Lula e coordenadora do Ministério, Erenice Guerra terá de explicar se sabia das irregularidades praticadas por seus filhos Israel e Saulo Guerra na intermediação de negócios entre empresas privadas e estatais.
Por ora, o horizonte que se vislumbra para o jornalista doublê de araponga se afigura mais sombrio. Convocado para arguição acerca da violação do sigilo fiscal de familiares de Serra e de tucanos, e suspeito de haver encomendado e pago a invasão dos dados fiscais, Amaury Ribeiro pode sair do depoimento indiciado por corrupção ativa e violação de sigilo.
Sob o pano de fundo da alegada obsessão do Chefe de Gabinete Gilberto Carvalho e da Ministra Dilma Rousseff de pedirem dossiês[1] ao Ministério da Justiça, não faltam escândalos para apimentar o final da corrida presidencial.
Que tenham efeito – como o destempero de Lula defronte do atentado sofrido por Serra na Zona Oeste do Rio – já é outra estória. O eleitorado sói ser imprevisível nas suas reações.
Por fim, assinale-se que esta eleição não vai terminar na quarta-feira, como no samba de carnaval. Reservou-se para tanto um domingo, como de hábito, mas no início de enésimo ‘feriadão’, formado de ‘ponte’ e a data de finados.
Não me atrevo, a respeito, a julgar o TSE. Diante de sua apatia em face do comportamento presidencial, que tanto difere de o que se espera de um Primeiro Magistrado da Nação, eu me pergunto se não teria sido possível evitar esta confluência infeliz de feriadão que estimula o abstencionismo e que pode, em consequência, afetar e desfigurar o pronunciamento eleitoral do Povo brasileiro.

( Fontes: VEJA, O Globo, Folha de S. Paulo e Estado de S.Paulo)

[1] V. reportagem de capa da revista Veja, edição 2188, com a gravação autorizada de conversa de Pedro Abramovay, secretário nacional de Justiça, com o antecessor Romeu Tuma Júnior.

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