A ‘prostração’ sentida pela campanha da candidata do Presidente Lula, causada pela irrealizada vitória no primeiro turno, havida como certa, graças inclusive às simpáticas prévias, terá descorçoado a militância, segundo reconheceu o presidente do Partido dos Trabalhadores, José Eduardo Dutra. Esse desânimo pôde ser vislumbrado na fisionomia cansada e nas fundas olheiras de Dilma Rousseff, ao ensejo de sua burocrática alocução de agradecimento, ladeada por um funéreo Michel Temer.
O ‘salto alto’ do triunfo no turno inicial há muito vaticinado, com grossas e soberbas tintas, pelo assessor Marco Aurélio Garcia terá sido inebriante miragem, tanto mais porque o padrinho da candidata jamais lograra fazê-lo nas suas duas vitoriosas campanhas.
Depois das reuniões das personalidades e partidos que se congregam em torno dos dois candidatos, havia expectativa sobretudo quanto ao programa de José Serra, diante dos erros cometidos no primeiro turno.
Nesse sentido, a apresentação de Serra não terá agradado àqueles empenhados na campanha de Dilma Rousseff. O programa, além de ritmo e boa feitura técnica, toca nos temas que não mencionara no primeiro turno. Os dez minutos do PSDB vão num crescendo, com a argumentação cabível, e uma explicitação da presença de Serra na cena política brasileira – desde a sua presidência da UNE e a foto de seu apoio engajado ao Presidente João Goulart, até as manifestações da redemocratização e das diretas já, agora com Tancredo Neves.
A intenção informativa quanto à continuada presença de Serra e a ausência de Dilma fica manifesta para todo o público. Em tal contexto, a brincadeira com o bonequinho mostra os diversos cargos públicos eletivos exercidos por José Serra, na sua completa ascensão e preparo para o mais alto posto na República, enquanto a boneca de Dilma, pela sua criação abrupta por Lula só pode restringir-se à efígie atual, com o interior necessariamente oco.
Por sua vez, o legado de Fernando Henrique é reconhecido, e os principais próceres, com Aécio à frente, dão testemunho de apoio ao candidato do PSDB.
Em contraposição, o inicial programa do P.T. não difere do modelo do primeiro turno. Assistimos a cenas entre a bondosa candidata e a recepiendária da sua primeira casa própria. Como em muitos outros programas, tais tomadas recendem à falta de naturalidade, com falas de ocasião da candidata e os devidos assentimentos dos assistidos. Não diferem muito do oficialismo de programas do velho PRI mexicano, com os figurantes do povo sempre muito bem comportados.
O programa de Dilma reuniu coleção respeitável de apoios de recém-eleitos governadores e senadores. Não há muito a ressaltar na cachoeira de aprovações. A única que diferiu um tanto foi a de Tarso Genro. No seu zelo dilmista, colocou a candidata no presente, mas o seu criador Lula, por um instante, pairou em tempo passado. Quiçá dando-se conta do deslize, o governador eleito do Rio Grande cuidou de aditar um tempo presente de circunstância.
Também surpreenderam negativamente as asserções finais quanto a iniciativas sociais do PT de Lula, sobretudo nas falsas afirmações de que não tinham contrapartida na administração tucana. Depois do fracasso do Fome Zero, o governo de Lula achou melhor copiar os programas de FHC. Se resolveu mudá-los de nome, foi escolha sua, mas não fica bem mentir sobre a sua inexistência na administração tucana. Desde muito, é conhecido o vezo petista de apoderar-se de ideias e programas alheios, e deles proclamar-se autor e primeiro responsável. Nesse campo, Palocci é honrosa exceção.
É de esperar-se, no que tange aos programas, que a campanha de Dilma logre escoimá-los do oficialismo, para que a competição se torne mais interessante e autêntica.
Neste domingo, teremos o primeiro debate, na Bandeirantes. Tão engessados quanto estão pelas temerosas assessorias, não se afigura muito provável deles esperar demasiado. Gostaria, no entanto, de ser contraditado pelos fatos, por que tal ensejaria discussão mais ampla e mais livre.
( Fonte: O Globo )
sábado, 9 de outubro de 2010
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