Nos Estados Unidos, a terça-feira, dia dois de novembro – lá não é feriado – será o encontro dos partidos democrata e republicano com as urnas da eleição intermediária, para o Legislativo (Camara de Representantes na sua totalidade; Senado, em um terço) e para uma trintena de executivos estaduais.
Como este blog vem assinalando, as perspectivas não são das melhores para Obama e o seu partido. Existe desafeição da opinião com o Presidente, que conta índices de aprovação abaixo dos cinquenta por cento. Por sua vez, esta má vontade também atinge a deputados e senadores democratas.
O conjunto de causas que explica tais reações é complexo. Por um lado, Barack Obama paga o preço de haver motivado a juventude americana com palavras de ordem como ‘mudança’ e em especial o ataque às usanças dentro do chamado ‘Beltway’.[1]
Valer-se de princípios tão abstratos quanto a ideia de ‘mudança’ pode ser altamente motivador da juventude e da classe média, mas corre o risco de sair pela culatra, se uma vez eleito, o Presidente não parece corresponder aos altos objetivos que ousara lançar na arena eleitoral.
Começa-se a falar em uma certa ‘maldição’ que haveria contra intelectuais presidentes. É conhecida a desconfiança do americano médio contra o político estudioso, como se o comércio dos livros o afastasse da dura realidade.
Exemplo de tal ‘maldição’ seria o Presidente Jimmy Carter que, a despeito de suas notórias qualidades, não logrou reeleger-se. O eleitorado preferiu àquele que pensara oportuno fazer discurso sobre o ‘mal-estar’ (malaise) na América do Norte, o antigo ator e depois líder do sindicato dos artistas de Hollywood, o direitista Ronald Reagan.
O grande perigo, contudo, dessas explicações está no seu caráter genérico. Carter seria presidente de um só mandato porque não transmitiu à opinião pública uma forte e afirmativa personalidade de Presidente da Nação. Reagan, pela respectiva personalidade, malgrado todas as limitações intelectuais, correspondeu à expectativa eleitoral, sendo inclusive reeleito.
Os Estados Unidos não atravessam atualmente momento tão conturbado quanto o arrostado por Carter (queda do Xá e ascensão de Khomeini, alta dos preços do petróleo, sequestro da embaixada americana em Teerã), mas a herança da crise financeira internacional, de que o governo Bush Jr. é um dos grandes responsáveis, ainda persiste de certa maneira em terra estadunidense, através dos altos índices de desemprego e da ausência de retomada da atividade econômica.
Apresentou Obama comportamento um tanto ausente. A atribuição pode ser até injusta, mas o jovem primeiro mandatario não terá demonstrado, aos olhos dos eleitores, o dinamismo que seria indispensável para realizar a mudança (change) que ele prometera, por todos os meios eletrônicos, aos seus entusiastas. O slogan serviu para derrotar a principal adversária, Hillary Clinton, nas primárias, e quase em um complemento pro-forma, no embate com o republicano John McCain.
O problema é que o jovem e o americano médio não viram o mesmo élan no confronto com a British Petroleum, no criminoso vazamento do petróleo no Golfo do México, no trato dos assuntos econômicos, com atitude pró-ativa na criação de empregos. Até mesmo, grandes realizações, que poderão dele ser apanágio no futuro, como a aprovação das Reformas do Plano Geral de Saúde e Financeira (contra Wall Street) não obtiveram a avaliação que mereceriam, talvez pela campanha constante e desinformante do G.O.P., e do movimento de ultra-direita Tea Party.
Por conjunção de fatores, tanto usuais como o voto anti-governo nos pleitos intermediários, quanto extraordinários, a exemplo dos acima referidos, prevêem os institutos de pesquisa que o Partido Republicano está em condições de retomar o controle da Câmara de Representantes. Se tal não ocorrer, sempre a juízo dessas pesquisas, a manutenção de maioria democrata nessa Câmara será uma surpresa (upset).
No que concerne ao Senado, são maiores as possibilidades dos democratas. Para tanto, favorece a circunstância de que só um terço da Câmara alta será substituída.
Sem embargo, a contenda se afigura difícil e na melhor das hipóteses a atual maiora democrata no Senado tenderá a encolher.
Já no Brasil, os dados serão lançados antes, no domingo 31 de outubro. Todas as pesquisas anunciam a vitória de Dilma Rousseff, a candidata da algibeira de Lula. Tudo isso se das urnas não sair outra vergonheira para os institutos, como em três de outubro. Se o Presidente encontrar razão para orgulhar-se do feito, talvez haja menos motivos de festejo, pelo seu comportamento antirrepublicano que, na prática, semelhou desconhecer a existência de Justiça Eleitoral em nossa terra.
Pela omissão do TSE, poderemos dizer que, a curto prazo, terá tido razão. Quanto aos efeitos mediatos de sua atuação, a reserva é o juízo mais aconselhável. Aécio Neves já afirmou a respeito que ‘o Presidente sai menor do que entrou’.
Essas avaliações, no entanto, cedem lugar a outros julgamentos, de maior peso para o nosso porvir. Como ficará o Brasil e a sua democracia ? Daqui a quatro anos como estaremos ? E, no caso de confirmar-se todo o empenho do oficialismo, diante da probabilidade - mas não certeza - da vitória de Dilma, será que Lula conseguirá eleger-se para um terceiro mandato em 2014 ?
( Fontes: O Globo e International Herald Tribune )
[1] O ‘Anel Rodoviário' de Washington, em cujo interior estão as principais instituições do Governo dos EUA.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
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