O comportamento do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de sua Candidata, e do Partido dos Trabalhadores mostra que, em um aspecto, eles teriam razão em culpar o PSDB, o partido adversário. Pouco importa que longe esteja deles servir-se de tal argumento. Como se acreditam implantados no poder, que cuidam diligentemente de aparelhar em próprio favor, igualmente se julgam em condições de apresentar, com a desenvoltura que lhes é conhecida, o que consideram a sua verdade.
E qual seria esse aspecto em que Lula, Dilma e PT têm carradas de fundamento em apontar para a responsabilidade do PSDB ? Não é outro que o instituto da reeleição. Introduzida pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, com a ajuda de Sergio Motta, a reeleição se tem evidenciado tão ruinosa e antidemocrática, quanto a increpavam os seus opositores.
A reeleição sempre fora evitada por nossas constituições democráticas anteriores. Ao ensejar a duplicação dos mandatos, em Município, Estado e União federal, ela desvirtua o exercício do poder, favorecendo aqueles que o exercem no que tange a seus desafiantes para a pretendida prorrogação. Nesse sentido, estimula desígnios autoritários, de que a corrupção será a companheira dileta.
Hélio Bicudo, fundador do Partido dos Trabalhadores, ao fundamentar o voto neste segundo turno - que é mais contra Dilma Rousseff, do que a favor de José Serra - aponta para o perigo da corrupção, que está ínsito na mexicanização do PT. Todos deparamos a arrogância do chefe e de seus seguidores, ao cabo de mandato de oito anos. Por isso, é mais do que válida a preocupação desse paradigma da integridade que é Hélio Bicudo.
As correntes jornadas nos trazem espetáculo a que não desejaríamos assistir. Desassombradamente, do Rio Grande do Sul, no porto de Rio Grande – onde ex officio não deveria estar – o Presidente da República, diante da panóplia dos microfones das altas autoridades e cercado por sorridentes correligionários, se julga em condições de apresentar para a Nação a sua verdade, eis que não lhe agrada aquela estampada e transmitida pelos grandes veículos de opinião.
Em termos de húbris, esta peculiar manifestação que tolda a visão dos que se crêem onipotentes, será difícil encontrar alguma comparável. Ao reportar-se às tropelias de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, Sua Excelência não trepidou em culpar a vítima – no caso, o candidato José Serra -, que seria responsável por uma simulação.
Com toda a bazófia, que os oito anos no Alvorada lhe trouxeram, nos veio, para variar, com símile futebolística – a tosca encenação do goleiro chileno no Maracanã, em 1989 – para tentar apagar a agressão sofrida por Serra.
Infelizmente para o Presidente, longe estamos dos tempos em que a mentira e a calúnia poderiam perdurar por muito, como no caso das cartas apócrifas que pretendiam intrigar o Presidente Arthur Bernardes com o Exército, através da pessoa do Marechal Hermes da Fonseca.
Classificando de ‘farsa’ a reação do candidato Serra, e afirmando que o tucano mentia, não contava decerto Lula que a patranha fosse prontamente desfeita. Com efeito, no Jornal Nacional o Brasil presenciou a repetição da cobertura do ataque do bando petista de mata-mosquitos contra a passeata de Serra. Há dois momentos distintos: uma inócua bolinha de papel que toca na cabeça do candidato. Mais tarde, depois que Serra e os que lhe acompanhavam tiveram de abrigar-se em uma loja, retomada a caminhada, cerca de dez a quinze minutos transcorridos, um rolo de fita adesiva lhe atinge o crânio. Em seguida, ele leva às mãos à cabeça.Pouco depois, dá por encerrada a marcha, e vai para Botafogo, submeter-se a uma tomografia.
Para a postura de Lula, e a maneira com que afronta a evidência, existe palavra iídiche,absorvida pela língua inglesa – é o chutzpah, i.e., a autoconfiança no seu mais alto grau, que margeia a insolência.
Presidente, respeitamos a sua disposição em promover a respectiva candidata. Há, no entanto, limites para tal empresa. Como referiu José Serra: “Fico preocupado porque o presidente ocupa o cargo mais importante do país e não pode ficar dando cobertura à violência.”
Presidente, a propósito de hombridade, é hora de manifestá-la, reconhecendo o erro.
( Fonte: O Globo )
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
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Um comentário:
Mais preocupante é a demonstração de ódio e descompromisso com os valores democráticos do presidente, que parece não reconhecer legitimidade nenhuma na oposição. Está duplamente intoxicado, também com a popularidade e o poder. O pior é que sua incontinência verbal é rapidamente assimilada pelo partido, que a usa para legitimar seus instintos mais totalitários. Como disse o Aécio Neves, Lula sai da presidência menor do que entrou - já o PT, inflado além das salvaguardas democráticas.
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