Os episódios de ontem – afinal a vinculação do jornalista doublê de araponga Amaury Ribeiro Junior à violação do sigilo fiscal de personalidades do PSDB, e a inominável violência de horda de marginais sob cobertura política contra o candidato José Serra – marcam ainda mais a campanha presidencial de 2010, já rotulada como a mais nefasta para a democracia brasileira.
O observador político não encontrará parâmetros com disputas passadas. O senhor sigilo, apesar do deboche presidencial, continua bastante presente e visível. Que irrompa de novo, em meio a estranhas declarações da Polícia Federal que, a despeito de estabelecer os fatos, nega vínculos entre violação e campanha de Dilma Rousseff. Entre desinformação – ao tentar empurrar a responsabilidade para os tucanos – e a intimidação, o estado-maior petista se aferra à tese de que nada tem a ver com mais este dossiê.
Entrementes, a barbárie da horda se transferiu para a Zona Oeste do Rio de Janeiro. O candidato José Serra, acompanhado de seu aliado, o deputado Fernando Gabeira, pensara aí realizar mais uma caminhada de campanha. O que então ocorreu extravasa qualquer limite do convívio humano civilizado.
Um bando de militantes petistas, em contramanifestação adrede preparada, investiu contra Serra. O cabecilha dos arruaceiros era Sandro Oliveira, candidato derrotado a deputado estadual do PT. Armados de faixas contrárias ao candidato, camisetas da Dilma, e bandeiras que mais se prestavam ao ataque do que a defesa do respectivo partido, o agrupamento buscou de início intimidar Serra com insultos e, em seguida, se esforçou em abrir caminho para se acercar do candidato.
A agressão não se cingiu ao postulante à presidência da república. Forçado a interromper a campanha, ele submeteu-se a tomografia em hospital de Botafogo. Outra vítima do bando foi Mariana Gross, jornalista da TV Globo, atingida na cabeça por pedra que tinha José Serra por alvo.
Não errou o candidato da oposição ao apontar o ódio com a causa da afronta.
Semelha oportuno transcrever-lhe o comentário: “Isso é organizado por profissionais da mentira e da violência. Eles fazem isso no piloto automático. (...) Um comportamento muito típico de movimentos fascistas.”
Falar em ódio não é figura de retórica. Podemos encontrá-lo em observações de colunistas, que chegam ao limite de se referir ao fenômeno, atribuí-lo a causas exógenas, e a omitir qualquer menção à vítima.
De parte do PT e da campanha da candidata, o presidente José Eduardo Dutra disse achar ‘lamentável que tenha acontecido isso. Repudiamos qualquer tipo de agressão física’. Por sua vez, o presidente do PT no Rio, em nota, asseverou que ‘o incidente teve início depois que seguranças do canditato José Serra, do PSDB, trataram com rispidez integrantes do grupo ‘mata-mosquitos’ que estava no calçadão.’ Com o pano de fundo dessa tentativa canhestra de distorção factual, caberá apenas a genérica moderação de Dutra ?
Há, no entanto, certa lógica neste silêncio dos medalhões. Talvez a grosseira violência mais bem caracterize o momento político brasileiro. A boçalidade está na ordem do dia. A campanha desce ao nível das disputas rueiras, de que a verdade e o respeito pelo adversário constituem as primeiras vítimas.
Ouvindo as últimas intervenções do cabo-eleitoral-em-chefe, alguém de outros tempos poderá incrédulo perguntar-se: que país é este, em que tudo se afigura válido para garantir a permanência no poder? Desmerecer de tudo que se recebe, não é só mergulhar na mentira, mas também desfazer de todos, e a começar, da inteligência de quem ouve !
( Fonte: O Globo )
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
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