Motim policial no Equador
Ao contrário do que desejou fazer crer o Presidente Rafael Correa, o que houve em Quito foi um motim policial-militar. Não se tratou de tentativa de golpe de estado, e sim de movimento espontâneo, cuja motivação imediata constituiu a lei de iniciativa governamental, em que se busca reduzir vantagens de policiais e militares, assim como reduzir aumentos nessas categorias.
Dos países sul-americanos, depois do afastamento das ditaduras militares que por muitos anos foram a regra e não a exceção na região, será talvez o Equador o país mais instável, com a substituição de primeiros mandatários por via parlamentar. Não me refiro decerto às décadas intermediárias do século vinte, em que o presidente Velasco Ibarra foi apeado quatro vezes do poder pelo exército, sobretudo por defender causas populares.
A presente profissão de fé democrática do establishment não impede, no entanto, que os presidentes não completem seus mandatos, os quais podem ser interrompidos, direta ou indiretamente, por intervenção branca do Legislativo.
O Presidente Correa é um adepto da linha neopopulista, e as suas posições não diferem muito das de seu modelo, o caudilho venezuelano Hugo Chávez.
Não falta coragem ao presidente equatoriano, mas por vezes o seu comportamento pode extravasar seja para o temerário, ou o fanfarrão. Pôr em risco a dignidade presidencial, e afrontar ajuntamento hostil em praça pública, servirá mais aos propósitos dos rebeldes, do que à afirmação da própria autoridade.
Sofrendo as consequências de bomba de gás lacrimogêneo, o presidente teve de ser levado para um hospital próximo. Sem esquema de proteção válido, Rafael Correa ficou isolado nesse nosocômio, cercado por dez horas pelos amotinados. Somente após esse longo intervalo – o que diz algo sobre o empenho em salvá-lo das forças castrenses – operação especial com quinhentos homens usando equipamento antimotim o retirou à força do hospital.
Não obstante a provação arrostada, Rafael Correa logo assomou à sacada do velho palácio presidencial, para proferir eloquente discurso, em que, como é seu hábito, optou por dar rédea larga à paixão. Além de oferecer o próprio peito a balas assassinas, o presidente tratou de atribuir a rebelião a ‘elementos infiltrados’ nas forças de segurança. Tampouco deixou dúvidas quanto à sua disposição: “Não haverá nem perdão, nem esquecimento”.
Pelas falhas na segurança, em seguida o chefe da polícia, Freddy Martinez, submeteu o seu pedido de exoneração.
Por sua vez, a mais alta autoridade castrense, General Ernesto González, fez um apelo radiofônico aos agentes policiais e militares, para que cessassem a sublevação: “Somos um estado de direito. Somos subordinados à mais alta autoridade, que é o Presidente da República”.
Que o comandante do exército se dirigisse também a militares se devia à adesão sobretudo de oficiais da aeronáutica, com o bloqueio da pista do aeroporto de Quito, o que impedia aterrissagens e decolagens.
Rafael Correa, eleito em 2006, e reeleito em 2009, colhe a sua sustentação política junto às camadas menos favorecidas. Esse apoio, no entanto, não se traduziu em maioria na assembleia legislativa, o que lhe torna as proposições objeto de negociação com a oposição.
Com 47 anos de idade, ainda jovem portanto, a sua ascensão como tribuno lembra talvez a de seu longínquo antecessor Velasco Ibarra. Os ventos e os tempos, em termos políticos, tendem a diferençar-se do ambiente que seria a nêmesis de Velasco. Mas, quem sabe, importaria não esquecer que as diferenciações se afiguram por ora mais superficiais do que orgânicas, e que o exército continua a deter poder considerável, inclusive na área econômica.
Mudanças na Casa Branca
Conforme já se antecipara, o Chefe de Gabinete do Presidente, Rahm Emanuel, deixou o posto para concorrer a Prefeito de Chicago. Depois que o atual Prefeito de Chicago, Richard Daley, anunciara a sua surpreendente renúncia a concorrer pela reeleição como prefeito daquela cidade em que os seus antepassados familiares têm sido presença constante, a eventual opção de Emanuel se tornara forte probabilidade.
Obama perde um auxiliar de grande capacidade e energia. De acordo com a sua tendência de não trazer para o núcleo central da Administração pessoas de fora, Obama escolheu para substituí-lo a Pete Rouse, que é um de seus assessores diretos.
Pouco conhecido do grande público, Rouse já exercia bastante influência na ala ocidental da Casa Branca, onde situam-se os serviços diretamente ligados ao Presidente.
Segundo se especula, seria uma escolha temporária, às vésperas das eleições intermediárias de novembro. Trata-se de um momento crucial para a presidência Obama, que luta para reverter a tendência à ulterior queda na sua popularidade. Rouse, seu antigo chefe de gabinete no Senado, tem fama de ser resolvedor de problemas na Casa Branca. Nesse sentido, as palavras do presidente, ao designar-lhe para as novas funções, são muito elucidativas: “A boa notícia para Pete é que temos pela frente muitos problemas para resolver.”
Outro auxiliar sênior que deverá afastar-se até o fim do ano é Lawrence H. Summers, diretor do Conselho Nacional de Economia, e o principal assessor de Barack Obama em matéria econômica.
Também David Axelrod, o conselheiro político do Presidente, deverá sair no próximo ano, para concentrar-se na campanha de reeleição do Presidente.
Como se verifica, a Administração Obama, máxime nos círculos mais chegados ao Presidente, tem mostrado movimentação inusitada, sobretudo se se levar em conta que o 44º Presidente ainda não chegou à metade do mandato para que foi eleito em 2008.
(Fonte: International Herald Tribune )
domingo, 3 de outubro de 2010
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