terça-feira, 12 de outubro de 2010

O que fazer do Segundo Turno ?

A repercussão do primeiro debate do segundo turno é o prato principal dos comentários e declarações na imprensa. São muitas vozes que se tornam agora audíveis, muitas delas, como no ditado, puxando o fio da meada para o próprio novelo.
O estado-maior do PT proclama vitória no entrevero da Band. A candidata se teria mostrado mais independente, ao afastar-se da prudência dos marqueteiros, que temem a agressividade como faca de dois gumes. Segundo a imprensa, crescem nesta fase as presenças de José Dirceu e Ciro Gomes. Se a vez seria de tais polêmicos personagens – cuja companhia, no passado, não foi exatamente buscada com empenho -, a conclusão seria de que baixara a cotação do moderado Antonio Palocci.
Seriam então as ásperas investidas de Dilma Rousseff contra o ‘candidato Serra’ evidência de ter ela ficado mais senhora do próprio nariz ? A imagem tem seu encanto para a militância, embora a autonomia da candidata petista traga consigo uma contradição, eis que se atribui a nova estratégia à determinação do Presidente Lula. O padrinho continuaria na sua linha ‘paz e amor’, porque, explica a fonte, ele precisa ser preservado.
Alguma coisa aí parece não fazer muito sentido. A quem mais interessa preservar? Ao criador ou à criatura ? Em geral, outrossim, não é a parte em desvantagem que recorre a esse tipo de tática, enquanto a favorecida pelas pesquisas, de uma certa forma, administraria a situação, evitando a agressividade que seria apanágio do perdedor ?
Também no arraial tucano a tônica é que o respectivo campeão venceu o debate.
Não há coisa mais subjetiva do que o alegado ‘triunfo’ nessas disputas oratórias. Sabemos que nos Estados Unidos tal prática vem desde meados do século XIX, nos encontros[1] em 1858 entre o democrata Stephen Douglas e o republicano Abraham Lincoln. Muito mais tarde, com a televisão, esse exercício foi ressurecto, com os quatro debates entre John Kennedy e Richard Nixon. As ‘vitórias’são questionáveis, pois de acordo com a imagem da tevê, ganhou Kennedy, mas para quem ouviu só pelo rádio, foi Nixon o vencedor.
A ambiguidade do resultado dos debates – ao contrário dos embates na arena gladiatorial - já nos foi repassada, em nossa adaptação do exemplo americano. Para uns, ‘ganha’ a contenda quem deixa a frase mais significativa (como Reagan para Carter, ao dizer ‘lá vem você outra vez com o mesmo argumento...), ou ‘perde’, quem comete um deslize (como Bush sênior, a olhar, impaciente o relógio), na sua disputa com Bill Clinton.
Como são raros os exemplos de derrotas acachapantes, cada lado terá sempre a oportunidade de relembrar uma frase, uma palavra, ou um gesto mais feliz e oportuno, para fundamentar a respectiva reivindicação.
Vejam, por exemplo, sob o prisma de Serra o debate de domingo, dez de outubro.
Para contraditar a asserção petista de que o candidato do PSDB foi ‘acuado’ por perguntas de Dilma (privatizações),a oposição ressalta a declaração final de Serra, mais inspirada e contundente.
Dos lesionados do primeiro turno – a ‘prostração’ ou o ‘desânimo’ da candidata Dilma, o logro das prévias, indo de ‘margens de erro’ demasiado largas, passando por promiscuidades de certas práticas, até o incômodo de verdades discutíveis, a influenciar as posturas das partes em liça, tudo isso fundamentado em critérios e técnicas de repente questionáveis, dúbias e até ultrapassadas – se passa a um segundo tempo sem prorrogação e com muitas incógnitas.
Por enquanto, malgrado a gritaria e as baixarias, houve a registrar uma autêntica vencedora – que, por peculiaridades do processo, ficou em terceiro lugar. No entanto, e não carece de ser verde para reconhecê-lo, os seus quase vinte milhões de votos ressoam mais forte do que os 47 milhões de uma e os trinta e três milhões de outro.

( Fontes: O Globo e Folha de S. Paulo )

[1] Em sete distritos do Estado de Illinois, no contexto de eleição para o Senado.

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