Segundo o colunista Merval Pereira, o Presidente Lula terá sido o principal responsável pelo fato inesperado de a eleição presidencial passar para o segundo turno.
No entendimento do comentarista político de O Globo, ao julgar liquidada a fatura, terá Lula resolvido a “acertar umas contas” com adversários escolhidos, como revelou a assessores próximos.
Não teria Sua Excelência considerado os efeitos colaterais de tais incursões punitivas. Ao fazer campanha contra os Senadores Marco Maciel (DEM-Pe), Heráclito Fortes (DEM-Pi), Arthur Virgílio (PSDB-Am) e Agripino Maia (DEM-RN) terá retirado do frasco mágico a figura de um ‘presidente raivoso e rancoroso, a buscar vingança de inimigos que deveriam ser meros adversários políticos’.
Com essa ação vindicativa, tão oposta ao comportamento que deve caracterizar o de um presidente da república em uma eleição, terá acirrado dúvidas em parte do eleitorado, ao mesmo tempo em que eclodia o escândalo dos desmandos de Erenice Guerra no Gabinete Civil da Presidência, assim como a controvérsia político-religiosa sobre o aborto.
Por outro lado, o crescimento de Marina Silva (PV) representou outro golpe que fez a criatura Dilma Rousseff perder sufrágios preciosos, que iriam retirar-lhe o apoio indispensável para o colimado triunfo a três de outubro.
Daí, acreditando-se em desvantagem, a reação da candidata Dilma e de seu programa eleitoral gratuito desvencilhou-se do incômodo figurino de ‘paz e amor’ do primeiro turno, para desembestar na linha agressiva, sem muitos compromissos com a exatidão verbal, que irrompeu no primeiro debate da segunda fase, o da Rede Bandeirantes.
Depois da ausência mal-humorada de o que fora o sempre presente, Dilma partiu para o ataque, em postura em geral própria de postulantes em situação difícil. É cedo ainda para julgar se, ao contrário do ocorrido com Geraldo Alckmin, no segundo turno de 2006, a brusca inflexão de estratégia da Rousseff trará água para o moinho petista.
Não que a mudança seja decisão sua. Como em toda a campanha, também aqui a voluntariosa Dilma cumpre determinações do padrinho e do estado maior petista.
Chegamos aos últimos quinze dias dessa guerra, e todo prognóstico tem de igualmente curvar-se às injunções e correntes dessas jornadas decisivas.
As perspectivas continuam em aberto. Chamuscadas as pesquisas, pelos graves erros cometidos, os seus resultados tem de ser encarados com as dúvidas que antes suscitavam os antigos palimpsestos, na sua nervosa escrevinhação em que se poderia decifrar uma afirmação ou o oposto dela.
No entender desses escribas com vocação de harúspice ora prevalece a tendência para o empate, real ou técnico, nas preferências do eleitorado. Verdadeira caixa de surpresas, condimentadas por escândalos e factóides, aborto e aparelhamento do estado, com a solução prometida para a noitada do dia trinta e um de outubro.
(Fonte: O Globo )
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
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