quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Má - Fé

Se grande parte de sua presença nesta campanha presidencial, sobretudo pela inaudita participação nos programas e nas intervenções públicas da candidata Dilma Rousseff, desperta mais do que assombro e perplexidade, o Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva continua, sem embargo, a desconhecer das normas mais comezinhas relativas ao mútuo respeito devido entre adversários políticos.
Não mais cabe nestes últimos dias discussão do porquê da inação da Justiça Eleitoral diante do controverso papel do Presidente Lula na campanha presidencial. Pela sua magnitude, tal discussão será ineludível e incontornável, mas ela compete ao pós-eleição, e o seu móvel será sobretudo com vistas a que a democracia brasileira nunca mais tenha de arrostar tal situação.
Isto posto, tenho de confessar a minha perplexidade pelo insólito comportamento de Lula até na data de seu aniversário. Passados vários dias do lamentável incidente de Campo Grande, estarrece pela impropriedade e mesmo pela descabida provocação a postura do presidente.
É difícil não definir como imprópria a atitude de Lula. Em Itajaí, em Santa Catarina, na inauguração de uma ponte, voltou a debochar da suposta instrumentalização do atentado na Zona Oeste por José Serra:
“Imagina se o nosso adversário estivesse com um chapéu desses (disse ele, apontando para os capacetes dos operários). Não teria batido o papel. É importante, daqui para a frente, nas campanhas políticas, a gente utilizar capacete.”
E, não obstante os ademanes e a gritaria, a verdade sempre aparece. A sua obstinada permanência tende a persistir, malgrado os esforços do oficialismo, e de seus inúmeros áulicos.
Os oito anos de poder semelham ter afetado a compreensão de Sua Excelência dos eventos terrenos. Qualquer que seja o resultado dos comícios de outubro, faltam-lhe escassos meses para que retorne à planície.
Tal reaprendizado pode ser árduo, mas é tão inevitável, quanto inexorável. Lá de baixo, sem o sujeito que, solícito, carrega a maleta presidencial, as cousas não se afiguram tão simples, como testemunha o seu probo antecessor Itamar Franco.
*
Dentro do arsenal de truques e golpes sujos, a Folha de S. Paulo nos relata a repetição de malabarismo do Governador Sérgio Cabral. Transcrevo, por oportuno, mais esse ‘agrado’ do reeleito governador a Lula e à sua candidata:
“O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), criou um feriadão nos dias seguintes ao final de semana do segundo turno para tentar ampliar a abstenção em reduto do tucano José Serra, a zona sul da capital fluminense.
“ Cabral adiou de amanhã para segunda feira, dia 1º , a comemoração do Dia do Servidor Público no Estado.”

Assinale-se que Cabral foi cobrado pelo presidente Lula por ter tido 1,5 milhão de votos de eleitores no Rio a mais do que Dilma Rousseff no primeiro turno.
Cabe a propósito frisar que Cabral é reincidente na utilização do ponto facultativo com escopo eleitoreiro: “Em favor de Dilma, Cabral repete estratégia que assegurou a vitória de Eduardo Paes (PMDB) contra Fernando Gabeira (PV) na disputa pela Prefeitura do Rio em 2008, com uma diferença mínima de 55 mil votos. Em 2008, Cabral antecipou o feriado e facilitou uma debandada da cidade, fazendo com que a eleição tivesse abstenção de 20,25%, a maior desde 2000.”
Diante deste espetáculo, em que a audácia e a falta de escrúpulos são premiadas, torna-se indispensável a imposição de regras claras que para o futuro impeçam não só a instrumentalização do calendário, a exemplo das manipulações de Cabral, assim como também se evite a coincidência da data do pleito com os notórios feriadões, cuja incidência no caso presente já ameaça distorcer-lhe o resultado.
É tema,no entanto, para análise mais detida, a ser oportunamente feita.

( Fontes: O Globo e Folha de S. Paulo)

Nenhum comentário: