O Silêncio do Brasil diante do Nobel Liu Xiaobo
É realmente estranho o mutismo oficial brasileiro defronte da outorga do Nobel da Paz a Liu Xiaobo, um dos principais coautores da Carta 08. Lutar pela democracia e pelos direitos básicos assegurados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos não parece ser motivo suficiente para que o Brasil se digne saudar tão merecido prêmio ao intelectual, antigo professor e corajoso ativista.
Considerado um ‘criminoso’ por Beijing, Liu está hoje encarcerado na longínqua província de Laoning, condenado a onze anos de prisão pelo crime de defender a liberdade de expressão e as garantias do governo constitucional.
Por simpatizar com a causa dos estudantes na Praça Tiananmen em favor da democracia, Zhao Ziyang fora defenestrado da Secretaria-Geral do Partido Comunista Chinês. Zhao, a quem se deve a conversão chinesa no campo econômico, intuira a relevância da gradual introdução das liberdades democráticas, com vistas a um crescimento mais equilibrado e ao combate à corrupção. A ala conservadora de Li Peng conseguiu convencer o velho líder Deng Xiaoping da ameaça que o movimento estudantil colocava para o Estado chinês. Conseguindo que Deng aprovasse um comunicado em que se condenava os estudantes por uma ameaça inexistente, o grupo de Li Peng tornaria inevitável a reação estudantil e a consequente repressão.
Opondo-se àquela confrontação desnecessária, Zhao caíu vítima da armadilha que lhe fora preparada. De súbito, a posição de Zhao ficou insustentável, porque se defrontava não mais com uma corrente, mas com o principal líder chinês.
Por isso, apeado do poder, permaneceu em prisão domiciliar até sua morte em 17 de janeiro de 2005.Graças a amigos fiéis, pôde registrar em cassetes as suas memórias, que lançam luz sobre os caminhos do governo da China, sobretudo a partir de fevereiro de 1980, quando ascendeu ao comitê central do politburo. Zhao fora precedido na chefia do Partido Comunista chinês por Hu Yaobang. A morte deste último, em abril de 1989, foi a causa imediata do inicio das manifestações estudantis na China. Os estudantes tinham muito apreço por Hu Yaobang – que havia sido afastado da Secretaria Geral a instâncias de Deng – justamente por defender princípios liberais na política, que Zhao também tenderia a favorecer.
São interessantes as semelhanças demonstradas por Liu, na sua pregação democrática, com as ideias de Zhao Ziyang. A relevância da democracia, se a corrente retrógrada de Li Peng não houvesse prevalecido, poderia ter outro papel, ao ensejar diferente progressão para a China. O processo não será fácil, nem rápido, mas ele se afigura inexorável.
Por tudo isso, é penoso o jesuítico silêncio do governo Lula. A consternação tenderá a aumentar, se compararmos tal atitude com a sua passada confraternização com regimes odiosos, como o de Teerã.
A Superbactéria KPC em Brasília
Não é excelso o renome de nossa capital federal em termos de tratamento médico, e em especial o hospitalar. Quem não terá ainda presente a súbita enfermidade do presidente-eleito Tancredo Neves, sua internação em nosocômio brasiliense, de onde, in extremis, foi transportado para São Paulo, onde faleceria.De antes, alguns recordam o dito de Magalhães Pinto de que os melhores médicos da capital se chamavam ... Varig e Vasp. As duas empresas já pertencem à história de nossa navegação aérea, mas persistiria a desconfiança com os esculápios e hospitais brasilienses.
Agora nos chega a notícia de uma superbactéria – a KPC – que terá infectado 108 pacientes em Brasília. Consoante a Secretaria de Saúde do D.F. há dezessete hospitais públicos e particulares contaminados pela bactéria. O contágio pode ser feito por um simples aperto de mão.
Na lista das estabelecimentos atingidos, o Hospital de Santa Marina, no entorno de Brasília, e o Hospital de Base são os que concentram o maior número de casos. Neste último, quatro pacientes morreram e onze doentes estão sendo tratados em regime de isolamento. Suspeita-se que o surto terá causado a morte de dezoito pessoas desde o início do ano.
A superbactéria é resistente a quase todos os antibióticos. Apenas três seriam eficazes no tratamento das infecções provocadas pela KPC.
Compra de votos no Amazonas
O Senador Arthur Virgílio Neto (PSDB), derrotado na última eleição, denunciou suposto esquema de compra de votos na eleição para o Senado. Segundo a denúncia de Virgílio, protocolada na sexta-feira, oito de outubro, no Ministério Público Eleitoral, o ex-governador do estado Eduardo Braga (PMDB) teria coordenada a distribuição de cartões magnéticos em valores que variam de R$ 600 a R$ 1.200 para cabos eleitorais fazerem captação ilícita de votos. Ainda, segundo o Senador Arthur Virgílio, os eleitores recebiam R$ 50,00 para votar em Braga ou na deputada federal Vanessa Grazziotin (PCdoB).
Se Eduardo Braga foi eleito com 42,04% dos sufrágios, Vanessa ficou em segundo com 22,83% dos votos. Arthur Virgílio ficou com 21,95% dos votos, com uma diferença, portanto da candidata do PCdoB de 0,88%.
Após protocolada a denúncia, seis pessoas já prestaram depoimento, tendo confirmado que foram orientadas para comprar votos para Braga e Vanessa.
O Senador Artur Virgílio foi uma das principais baixas da oposição nos comícios de três de outubro. Diversos líderes do PSDB e do DEM, que faziam oposição ao governo Lula, se encontram entre os principais derrotados nas eleições, dentre os quais Tasso Jereissati (PSDB), no Ceará, Marco Maciel (DEM) em Pernambuco, e Heráclito Fortes (DEM), no Piauí. Dentre as figuras proeminentes da oposição, somente o Senador Agripino Maia (RN-DEM) sobreviveu à tsunami oficialista.
A Desvalorização do dólar estadunidense
Talvez com certo exagero, alguns consideram que está em curso verdadeira guerra cambial não-declarada. De forma geral,isto se deve ao enfraquecimento do dólar estadunidense, em função dos efeitos da crise financeira internacional. A recessão nos Estados Unidos, conquanto oficialmente decretada como terminada, ainda se manifesta em altos índices de desemprego. Por outro lado, e este é um fenômeno persistente, as contas externas da superpotência registram saldos negativos, em grande parte absorvidos em compras de obrigações do Tesouro pela República Popular da China.
Dessarte, o euro volta a reforçar-se perante o dólar, o que preocupa os líderes europeus pelos entraves que tal apreciação possa causar às suas exportações. Fala-se em Washington, a esse respeito, de três países que fariam esforços no sentido de depreciar as respectivas moedas, por motivo de considerações da balança comercial.
Se aplicarmos a tais ‘acusados’ uma escala de eficácia na depreciação de sua divisa, a palma deverá ir, obviamente, para a RPC que mantém, por uma série de manipulações e por um largo período, valor de paridade em relação ao dólar artificialmente bastante mais baixo do que o determinaria a realidade cambial.
Tanto já se escreveu sobre a desvalorização do renminbi que julgo desnecessário estender-me a respeito. Até o momento, por um conjunto de fatores, a autoridade chinesa não tem alterado de modo substancial o valor cambial de sua moeda, a que deve os grandes superavits na balança comercial.
O segundo da lista é o yen japonês. A economia nipônica atravessa um longo periodo de virtual estagnação, o que terá decerto facilitado a recente ultrapassagem no ‘ranking’ dos PIBs mundiais do Japão pela China. Uma temida apreciação do yen japonês – e que motivou, inclusive, acusações de Tóquio a Beijing – provocou ações daquele país com vistas a conter a valorização dessa moeda, para evitar novos óbices a suas exportações.
O terceiro país, citado na lista de supostos manipuladores, seria o Brasil. As autoridades financeiras brasileiras, no entanto, não têm mostrado a eficiência na orquestração da respectiva paridade que possa sequer comparar-se à da RPC. Há forte tendência para a apreciação do real que é obviamente exacerbada pela atual fraqueza do dólar. Como está demonstrado, tal tendência é ruinosa para as nossas contas externas, por favorecer desequilíbrio nas contas correntes. A esse propósito, as tentativas do Ministério da Fazenda e Banco Central (que aparentemente não atuam de forma coordenada) não tem produzido os resultados colimados.
Sem querer aprofundar aqui a análise da questão, o malogro dos intentos de buscar reverter o real a níveis mais consentâneos com a realidade econômico-financeira (aproximadamente a paridade de cerca R$ 2,45 por US$ 1.00) se deve à circunstância de que se recorra a medidas de caráter marginal (como o recente aumento do IOF sobre as inversões de capital especulativo), e não aquelas básicas (como o baixo nível de poupança e investimento, e a resultante alta taxa de juros).
De qualquer forma, esta nossa inserção junto a pesos pesados como a RPC e o Japão, é uma falsa barretada, e não deve ser levada a sério, eis que a nossa economia ainda não ostenta cacife para ser aí incluída.
As Eleições Intermediárias e a reação do Partido Democrata.
Há indicações na imprensa de uma reação do Partido Democrata diante do fantasma dos comícios da primeira semana de novembro. Tendo presentes os baixos índices de aprovação do Presidente Obama e dos próprios democratas, se teme um resultado bastante desfavorável nas vindouras eleições intermediárias.
De acordo com os prognósticos, haveria forte possibilidade de que o Partido Republicano retomasse a maioria na Câmara de Representantes (cuja renovação é total). Tal perspectiva não seria tão provável no Senado, por ser a Câmara Alta renovada apenas em um terço.
Tudo isso é alimentado pela permanência da situação negativa na economia, com o desemprego em nível alto e a persistência de enfoque pessimista quanto às atividades econômicas, a despeito de a recessão ter sido oficialmente declarada como finda.
A recuperação do G.O.P. se deve a uma pluralidade de fatores. A par de sua postura obstrucionista no Congresso (foi contra todas as reformas, com a da Saúde, e ao estímulo à economia. Somente na reforma financeira, não ousou alinhar-se ostensivamente com os capitalistas de Wall Street). No restante, os republicanos se aproveitam do descontentamento dos eleitores com o suposto distanciamento do Presidente Obama (falta de postura mais enérgica no vazamento de petróleo da B.P., insatisfação com a gestão econômica do governo).
A queda de Obama da sua lua de mel com a opinião pública foi acentuada, eis que dos índices 70 de aprovação caíu para cerca de 45%, o que é ominoso para o encontro de senadores e dos deputados com o eleitor.
Há igualmente movimento extra-partidário, o Tea Party, de linha populista e fascistóide, que faz feroz oposição ao governo e tem forçado o GOP a deslocar-se ainda mais para a direita.
Não obstante, a Casa Branca e as lideranças parlamentares democratas se tem empenhado em acompanhar de perto aquelas situações de maior risco. A fim de evitar repetições em série do fenômeno Scott Brown, que arrebatou o assento deixado por Ted Kennedy no Senado, Obama e os seus principais assessores políticos vem procurando ajudar os candidatos democratas, seja ao Senado, seja à Câmara. Busca-se localizar as contendas, isto é, fazer com que as eleições não correspondam a um juízo geral, mas sim a uma avaliação das necessidades e desafios das respectivas circunscrições.
O Presidente, a Primeira Dama (que tem índice mais alto de popularidade do que o esposo), Nancy Pelosi (a aguerrida Speaker da Câmara), e Harry Reid (o líder do Senado) participam da empresa. Há um certo realismo nas fileiras da Administração quanto a tais possibilidades.
De todos os modos, como no provérbio espanhol, não está morto quem pelea...
(Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo, International Herald Tribune)
domingo, 10 de outubro de 2010
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