terça-feira, 27 de abril de 2010

O Fator Ciro Gomes (II)

Asfixiada a sua candidatura presidencial pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e prestando-se o próprio partido a puxar-lhe o tapete de o que restava de sua postulação,Ciro Gomes, seja pela maneira com que foi tratado por Lula, seja pela insatisfação em descobrir-se enganado, tenderá a exercer um papel determinado no processo eleitoral de 2010.
De temperamento forte e por vezes explosivo, afigura-se de questionável sabedoria política a maneira empregada pelo situacionismo petista – coadjuvada pelo PSB – de lidar com a pretensão de Ciro Gomes ao pleito presidencial. Havendo ocupado altos cargos tanto eletivos quanto ministeriais na república, político de reconhecida liderança e com inegável apoio popular – foi por duas vezes candidato à presidência da república -, Ciro é hoje um homem insatisfeito, inclusive consigo mesmo, por haver acreditado na palavra e nas implícitas promessas de quem pensava, em virtude de relações de amizade, não o fosse abandonar às intempéries.
Ciro, amargado por julgar-se ludibriado, e conhecido pela própria franqueza, e ocasionais rompantes, constitui hoje fator imprevisível dentro de um processo a que o Presidente Lula procura senão controlar, ao menos influir de forma determinante.
Em sua terceira entrevista, às vésperas do ato conclusivo, ao cabo de procedimentos nem sempre confessáveis, que lhe inviabiliza o pleito à presidência da república, Ciro Gomes uma vez mais aciona a metralhadora giratória. Suas declarações atacam diversos alvos, dizendo não só verdades, senão o que muitos acreditam como tal.
Na linha do Senador Jarbas Vasconcelos, investe contra o PMDB, a que apoda de “ajuntamento de assaltantes. O Michel Temer hoje é o chefe dessa turma, dessa turma de pouco escrúpulo.”
Agora retorna aos ataques ao antigo desafeto, José Serra: “É um brasileiro bastante preparado, mas é uma personalidade autoritária e tenebrosa. Com o poder na mão, me parece um perigo para o país.”
Amenizou, por sua vez, as críticas a Lula, que ao invés de “navegar na maionese”, está de “salto alto” e a quem ora faltam conselheiros de peso para apontar os erros.
Ciro veicula outrossim críticas aos institutos de pesquisa: “O Ibope e o Sensus fazem qualquer negócio. O Datafolha é o único instituto que não se aluga a partidos e empresas.”
Qual a reação dos órgãos e dos líderes políticos objeto das assertivas do deputado Ciro Gomes ? Pelo visto, é a estratégia do silêncio, da não-reação. A exemplo da ‘resposta’ da liderança do PMDB à entrevista-bomba de Jarbas Vasconcelos à revista VEJA, os ora atingidos por Ciro se fecham num virtual mutismo. PT, PMDB, PSB e Lula se fecham em copas. Ao evitarem reagir aos ataques de Ciro – e cuidando de manterem os seus representantes políticos nos cargos de governo – pensam contribuir para não aumentar-lhes a estridência.
É uma tática já provada e que por vezes surte efeito. Como se as acusações carecessem da controvérsia para se manterem presentes no palco da política.

( Fonte: O Globo )

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