quinta-feira, 1 de abril de 2010

Notas Não-Diplomáticas

Agruras do trânsito na Atenas Clássica

Na Atenas da antiguidade clássica andar na rua poderia ser exercício perigoso. Na verdade, a palavra rua aqui empregada nos induz a uma visão errônea. Naqueles tempos não existiam, a falar propriamente, ruas como as vivenciamos hoje. Quiçá via ou caminho (hodós) é uma designação que mais nos aproxime da realidade de então. No seu espaço, se misturavam cidadãos e escravos, carros puxados a dois ou quatro cavalos, carros de boi, carroças e carretas de mulas, cavalos montados.
Em meio a tal confusão, se ouviam os gritos de vendedores ambulantes, muitos deles escravos, bufarinheiros a oferecerem toda sorte de mercadoria. No geral atropelo, para os mais afobados, e com mais dracmas, podia haver escravos robustos, que não hesitariam em forçar a passagem do próprio senhor com safanões ou a ameaça deles.
Não surpreende, portanto, que os atenienses elevassem as suas súplicas para o Apolo das ruas, a quem dedicavam imagens ou estátuas em algum espaço da agorá.
Ao atravessar as vias da Atenas clássica, o passante, se com pouco tempo, veria com desprazer um filósofo a caminhar sem apuro, enquanto discorria para uns dois ou três jovens seus discípulos. Dependendo do temperamento, ou esbravejaria, com o atravancamento do caminho, ou até pediria a Apolo Agoraîos a mercê de afastar da sua frente tais importunos...
Veja, leitor, o quão as ruas da antiga Atenas podiam ser traiçoeiras, insidiosas mesmo. Não me atreveria, porém, a imaginar que em matéria de riscos e surpresas chegassem perto das calçadas e ruas cariocas.

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