Conforme se previa, o deficit nas transações correntes – balança comercial mais movimento de capitais – no primeiro trimestre de 2010 foi alto. Com um detalhe suplementar, porém: o saldo negativo ficou em US$ 12,145 bilhões, o maior desde 1947, quando foi iniciada a estatística oficial.
O Banco Central não se diz preocupado com a tendência. Alguns analistas concordam. O Ministro Guido Mantega descarta, além disso, que a economia brasileira apresente sinais de superaquecimento – surgimento de pressões inflacionárias sobre os preços e as importações -, segundo análise do Fundo Monetário Internacional e da Agência Moody’s.
Há especialistas que dissentem da rósea perspectiva difundida pelo oficialismo e partes do mercado.
A balança comercial tem apresentado tendência sustentada para o incremento das importações e o encolhimento das exportações. Para que se tenha ideia do andor da carruagem, se no trimestre passado o superavit foi de US$ 892 milhões, no trimestre equivalente de 2009 o saldo positivo era de US$ 2,988 bilhões. Uma diferença para menos em 2010 de US$ 2,1 bilhões !
Verifica-se, portanto, que o ‘colchão’ para ajudar-nos a superar os deficits na balança de pagamentos, tende a adelgaçar-se notadamente em função da apreciação do real, que contribui para aumentar as importações e restringir as exportações.
Dado o perfil de nosso balanço de capitais, cujo caráter negativo se tem igualmente acentuado nos últimos tempos com a diferença na paridade dólar-real, não há de surpreender que o resultado geral se reflita em deficits maiores, como a presente amarga dose de doze bilhões de dólares para o primeiro trimestre de 2010.
Se ex-officio as autoridades monetárias devem projetar imagem de otimismo – não é crível que representantes do BC e do Ministério da Fazenda queiram brincar com os humores do mercado - pelo mesmo motivo as suas previsões e análises carecem de ser recebidas cum grano salis [1].
Para compensar os deficits em transações correntes – turbinados, entre outros motivos, pelas viagens internacionais e pelas remessas de lucros das montadoras e dos bancos estrangeiros – conta-se com o movimento de capitais, em especial, os investimentos e as inversões do capital de risco.
Dados os sinais positivos de nossa economia, esse movimento tem crescido nos últimos anos. No entanto, dado o seu caráter parcialmente especulativo – e sujeito aos juízos de agências e instituições internacionais – é elemento necessariamente flutuante.
E, nesse sentido, como afirma Luis Carlos Mendonça de Barros na sua coluna, na Folha – o crescente deficit em conta corrente deixará o país mais exposto aos humores do capital financeiro.
Em outras palavras, ao final do exercício, as referidas autoridades financeiras podem encontrar-se a braços com a necessidade de equilibrar a balança de pagamentos, que forçosamente passará pelo aumento do endividamento externo, e a consequente maior pressão no pagamento dos juros.
Não é, por ora, a realidade. Mas que pode bater à nossa porta, lá isso pode.
( Fontes: O Globo e Folha de S. Paulo )
[1] Com um grão de sal.
sexta-feira, 23 de abril de 2010
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