domingo, 11 de abril de 2010

Colcha de Retalhos XLII

As Capitalizações do BNDES

Parece que Lula e seus comandados tomaram gosto nas chamadas capitalizações do BNDES. Depois de uma operação desse gênero relativamente recente – reduzida pelo Ministro Mantega a oitenta bilhões, o que não foi apreciado por Nosso Guia -, fala-se agora sobre outra, no montante de cem bilhões de reais.
Como assinalou a colunista Míriam Leitão, não é coisa de pequena monta. Equivale a 3% do PIB, correspondendo, grosso modo, à indústria do petróleo.
Segundo as aparências, esse expediente semelha ter agradado a Lula, por ser fonte de crédito extra-orçamentária, que não aumenta a dívida líquida do Tesouro, pela oportuna desculpa de que o Erário dela será ressarcido, com o seu retorno para os cofres públicos ao longo dos anos.
Malabarismos fiscais à parte, em consequência da operação aumenta a dívida bruta do governo, que entre 2008 e 2009 passou de 57% a 63% do PIB.
Essa nova capitalização se destinaria ao financiamento do PAC. Em ano eleitoral, e no afã de reforçar a candidatura de Dilma Rousseff, Lula onera o BNDES.
Assinale-se que essa nova operação vai na contramão do interesse de nossa economia. Como refere o economista Felipe Salto, citado pela colunista, o Brasil tem precisado de poupança externa para financiar o crescimento. Tal significa que o passo do governo vai na direção contrária, pois aumenta a dívida ao invés de estimular a poupança interna. Fenômeno similar se observa no descompasso entre as políticas monetária e fiscal. Assim, enquanto o Banco Central é obrigado a subir a taxa de juros para controlar a inflação, o governo aumenta gastos e contribui para pressionar os preços.
Depois de contribuir para a estabilização da economia, atendo-se à ortodoxia fiscal nos seus primeiros anos de administração, Lula parece se ter tornado mais impaciente quanto aos próprios objetivos. Em um cenário de fundo eleitoreiro, Sua Excelência tomou gosto pelas mágicas fiscais, pelas capitalizações e captações de recursos. São termos que nos remetem a tempos mais sombrios, em que o endividamento e a consequente pressão inflacionaria constituíam a regra.
Em política financeira, como em outros domínios, Lula da Silva acredita possível servir a dois senhores. Esquece que são apenas castelos de cartas que soem ter o fim reservado a essas hábeis, intrincadas mas fragilíssimas construções.

A subvalorização do renminbi

Como se tem referido neste blog, a artificial depreciação do renminbi chinês tem sido fator importante para baratear as exportações da RPC e aumentar-lhes a competitividade relativa. Tal se traduz na balança comercial bilateral entre Estados Unidos e China em vultosos saldos favoráveis a Beijing.
Na Administração Obama se discute da oportunidade ou não de confrontar a autoridade chinesa com a asserção de estar manipulando a cotação do yuan, o que poderia implicar em restrições ao comércio.
Segundo Lawrence H. Summers, o principal assessor econômico do Presidente, se deve seguir linha de prudência na matéria, levando em conta o eventual progresso alcançado através de reuniões com os responsáveis chineses.
A esse respeito, existe a expectativa de que os próprios chineses tomem providências para dar ao renminbi cotação mais ajustada ao seu valor real.
Washington precisa da boa vontade de Beijing tanto na consideração pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas de sanções mais severas contra Teerã, quanto no que tange a pressões sobre a política nuclear da Coréia do Norte.
Mostrando flexibilidade no campo financeiro, sem acusá-la de manipulação do valor do yuan (data de 1994 a última incriminação nesse sentido), o governo americano espera contar com a boa vontade chinesa, sem descontar a possibilidade de eventual apreciação do renminbi determinada pelos chineses.
Consoante se especula, a decisão sobre o valor do renminbi seria tomada pelo próprio Presidente Hu Jintao, cotejando os pareceres antagônicos do Banco Central – pró-apreciação – e do Ministério do Comércio Exterior, que, por óbvios motivos, favorece o statu quo.

As prioridades do Coronel Hugo Chávez

Visitado no correr da passada semana pelo Primeiro Ministro Vladimir Putin, o caudilho venezuelano agraciou o Premiê russo com a máxima honraria do cerimonial bolivariano, com o colar da Ordem do Libertador, com direito a espadim e a vistosa faixa tricolor.
Segundo o noticiário, Putin declarou que a sua passagem pela Venezuela rendeu à Rússia promessas de compras de armamento que superam cinco bilhões de dólares.
A lista de compras reveladas pela agência Interfax inclui: três submarinos, 92 tanques, dezenas de blindados, dez helicópteros de combate, aviões-patrulha, lanchas-patrulha, lanchas de desembarque, lançadores de mísseis e três modernos sistemas de defesa aérea, além de um sistema móvel de artilharia costeira capaz de afundar embarcações a 130 km de distância. Igualmente se discutiu a possibilidade de construção de fábrica de metralhadoras e munição.
É uma bela encomenda. Para o Departamento de Estado, se colocam “quais necessidades de defesa legítimas a Venezuela tem.” Nesse contexto, Washington não quer “ver esse equipamento migrar para outras partes do hemisfério”. No passado, os Estados Unidos já acusaram Chávez de armar a guerrilha das Farc.
Por outro lado, a economia venezuelana se ressente da necessidade de reposição e modernização de equipamento. A situação energética, v.g., representa inegável desafio para o governo bolivariano do coronel Chávez, eis que os numerosos apagões e racionamentos tem acarretado grandes transtornos para a população em geral e para a indústria em particular.
Para quem já está há dez anos no poder, falta credibilidade imputar a governos anteriores responsabilidade pelo caos na energia. A par de acirrar as preocupações de seus vizinhos com o respectivo armamentismo, caberia perguntar qual seria o proveito auferido pelo povo venezuelano com tal descabelado armamentismo.

Relações Russo - Americanas

A assinatura em Praga, na presença dos Presidentes Barack Obama e Dmitri A. Medvedev, de Tratado de redução de armamento nuclear, denominado Novo-Start, implica em sensível melhoria nas relações entre os Estados Unidos e a Federação Russa.
Nesse aspecto, Obama assinala um novo degelo entre EUA e Rússia, conseguindo virar a página do legado de Bush jr. de um relacionamento com Moscou marcado por desinteligências (guerra da Geórgia, escudo anti-mísseis).
Além do tratado novo-Start, de controle de armas nuclear e redução do estoque estratégico, Obama e Medvedev estão igualmente de acordo sobre as providências a tomar quanto ao programa nuclear do Irã.
Entretanto, se a atmosfera entre Moscou e Washington mostra um claro progresso – com o presidente russo qualificando o tratado de “acontecimento verdadeiramente histórico”, que “abrirá uma nova página” nas relações russo-americanas – ainda subsistem algumas nuvens no vasto horizonte desse relacionamento.
A situação no Kirgizistão – onde se acha base americana de apoio para a campanha no vizinho Afeganistão – é vista de modo diverso por Moscou e Washington.
O Presidente Bakiyev foi forçado a fugir da capital, por uma sublevação popular, em que a cleptocracia e o desgoverno terão provocado o levante. Bakiyev estaria ainda no interior do país e se recusa a renunciar.
Roza Otunbayeva, antiga ministra do exterior, que está à frente das forças de oposição, tem sido contactada por Moscou e Washington, na sua disputa pela manutenção de influência junto a esse país, cuja relevância cresce pela sua localização na logística do fornecimento para a campanha afegã.
Por ora, Rússia e Estados Unidos trocariam informações acerca da situação ainda turva na república centro-asiática. Embora no jogo de influências, o contraste se afigure inevitável, por ora as eventuais diferenças são mantidas em surdina. Tudo dependerá da orientação do regime que for gestado pela revolta contra Bakiyev.
( Fontes: O Globo, Folha de S.Paulo, International Herald Tribune)

Um comentário:

lila disse...

Em relação às capitalizações do BNDES confesso que por mais esforço que faça não consigo entender AS MANOBRA da economia; não consigo entender como não devemos mais para o FMI; não consigo entender a fonte financeira do PAC I muito menos do PAC II.