Entra ano e sai ano, e ainda o leitor da imprensa raramente se depara com a satisfação de mudança de tendência no que concerne ao meio ambiente. Não estou, por certo, a referir-me a declarações oficiais. Se fosse por conta de promessas e de bombásticos propósitos viveríamos em um espaço panglossiano.
Infelizmente, o contrário prevalece. Tanto a credibilidade dos desígnios oficiais tende para zero, quanto o aparecimento de ‘boas notícias’ no front ambientalista permanece como aqueles pios desejos que a realidade costuma sempre adiar.
Tomemos o exemplo de Mato Grosso. Não importa se tenhamos em mente o do Norte ou o do Sul. Ambos caminham celeremente para tornar antiquada, histórica a respectiva designação.
A Folha de hoje nos informa do resultado da faina das carvoarias no Mato Grosso do Sul. Em três anos 270 mil hectares de mata nativa vira carvão. O equivalente a duas vezes a grande São Paulo.
A estimativa foi feita pelo Ibama. Assim, sempre segundo a superintendência no Estado do Instituto, entre 2007 e 2009, houve aí um movimento de 8,6 milhões de metros cúbicos de carvão vegetal. Assinala-se, por oportuno, que em função da crise financeira internacional, ocorreu queda significativa na produção em 2009: 1,2 milhão de metros cúbicos.
Como no futuro o historiador analisará o avanço do desmate e o desaparecimento das florestas de nossa terra ? Acreditará que o aparelho estatal terá sido eficaz apenas no cômputo dos estragos realizados por essa vasta coalizão de ruralistas, grileiros, carvoeiros, etc.? À sua exação na determinação dos espaços perdidos pela mata nativa corresponderia postura contemplativa em termos de qualquer esforço pró-ativo com vistas a evitar a descaracterização da paisagem natural ?
Confesso que é esta a impressão que tais informes do Ibama me passam. Em um tempo onde houve marcado progresso no potencial do Estado de combater a devastação – se até já surgiram os satélites a que as formações de nuvens não mais impedem o registro das queimadas e demais abates – a minha perplexidade com a ineficiência e a tardança dos órgãos estatais continua a crescer.
Como explicar a abulia do Estado, senão pela falta de vontade política de exercer o próprio mandato de preservar o meio ambiente?
Veja-se o avanço dessas carvoarias, desbastando o entorno do Pantanal de sua mata nativa. A transformação em carvão vegetal, manifestamente ilegal, se propõe atender à demanda da indústria siderúrgica. Conforme o Superintendente David Lourenço, a produção derivada de florestas plantadas é “praticamente nada”. “Do produzido, 99% se dá por meio de lenha de floresta nativa. Não temos dúvida em relação a isso.”
Como de hábito, o sindicato que representa a indústria carvoeira nega. A ideia de que matas nativas são derrubadas para a produção de carvão é um “equívoco”.
O observador notará que existe uma confrontação entre tendências antagônicas. No Congresso, impera o cinismo dos desmatadores e de seus afilhados políticos, enquanto o Partido Verde e os ambientalistas coletam muitas assinaturas, mas infelizmente não o número suficiente de votos para contra-arrestar a marcha do retrocesso em termos de Código Florestal e as demais medidas competentes.
Por cima disso, paira Lula-Zelig, o apóstolo do ambientalismo em Copenhague, e o promotor da MP da Grilagem e quejandos.
Ainda não é tarde para transformar o paradigma da luta pró-ecologia. Abandonar o figurino da passividade e das ações indiretas, ainda que bem intencionadas. Valer-se, ao invés,das facilidades trazidas pela multiplicada capacidade de observação no espaço e fora dele.
Se o Estado, e seus prepostos, compreenderem qual é o próprio mandato específico – proteger os recursos naturais e não chorar-lhes a perda – um grande passo será dado.
Dá para sonhar em que afinal esse jogo possa mudar de direção ? Então, o Estado pró-ambientalismo há de despojar-se da postura de carpideira, e se transformará em agente da preservação de nossas florestas, pantanal, cavernas, matas ciliares,etc. etc.
O Estado afinal é a personificação do Povo brasileiro. Não tenho dúvidas de que a grande maioria de nossa gente não quer a destruição de nossa terra.
( Fonte: Folha de S.Paulo )
segunda-feira, 5 de abril de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário