domingo, 18 de abril de 2010

Colcha de Retalhos XLIII

A Pichação do Cristo

Nos tempos que correm a metáfora da pichação do Cristo, isolado pelas avalanches, em meio aos andaimes de restauração interrompida, se afigura demasiado óbvia. E, no entanto, que outra explicação para o desrespeito da estátua-símbolo, que ora completa uma tentativa anterior que desfigurara apenas as construções de acesso.
Essa alegada arte proletária não conhece limites, porque a sua suposta realização está na contestação dos ambientes. A sua ‘beleza’ está menos no garrancho disforme ou no recado infatilóide do que no desafio da própria consumação. Quanto mais árdua ou defesa a tarefa, maior será o feito, no entendimento das mentalidades grupais que as gestam.
Assim, não hesitam os pichadores em arriscar a vida, seja nas alturas, seja em ambientes arqui-proibidos. Pois na escala dos valores, aqueles que se abalançariam a manchar e poluir obras de arte ou símbolos religiosos, somente entrevêem as respectivas manifestações gráficas, em que está inserida a tosca firma do autor da façanha.
Pobre cidade que não mais é capaz de sequer defender os próprios símbolos. Inerte, mais do que inerme, ela permite que bandos de delinquentes pichadores – como antes a vulgares larápios – invistam e profanem a seus monumentos.

A novela de Belo Monte (contd.)

Graças ao trabalho de Miriam Leitão vamos descobrindo mais sobre a cínica empulhação do zeligueano ecologista Lula da Silva.
Em blogs anteriores, me referi à fraqueza do Ministro Carlos Minc. Mais se conhece do personagem, mais se vê que seria melhor colocar no Ministério do Ambiente algum simpático ruralista, do que o senhor Minc, cuja presença apenas dá um arremedo de cobertura às ações do presidente e do seu gabinete civil, de onde, de resto, saíu a sua candidata de algibeira.
Miriam Leitão documenta na sua coluna de ontem, 17 de abril, o atropelo feito ao Ibama pelo Gabinete Civil da Presidência. Rasgando a máscara, a Casa Civil convocou reunião sobre a concessão da licença para Belo Monte e estabeleceu prazo para que fosse cumprida a exigência. Tal reunião fora precedida pelo afastamento do diretor de licenciamento do Ibama, Sebastião Custódio Pires, e do coordenador de Infraestrutura e Energia, Leonildo Tabaja.
Assim, a reunião de janeiro já se realiza com a retirada de cena dos funcionários competentes para emitir o parecer técnico. A Presidência do Senhor Lula não está interessada em tais formalidades. Quer simplesmente o carimbo do Ibama para seguir avante com Belo Monte.
O que vem depois é a confirmação da solução de força. A concessão da licença pelo Ibama foi a 1º de fevereiro. Como se verifica, no entanto, pela documentação, a concessão é forçada, e disso não deixam dúvida os despachos dos técnicos, explicitando que “não é possível atender no prazo solicitado” e que “devido ao prazo exíguo” não foi possível finalizar a elaboração das condicionantes.
Para realizar aquilo que nem o regime militar ousou, Lula da Silva não trepida em fundamentar-se sobre um não-parecer do órgão técnico, que, sob a brutal imposição, despacha o documento sem desmoralizar-se com a concessão da licença.
Agora, com a derrubada da liminar do juiz federal Antonio Carlos Almeida Campelo, de Altamira, pelo presidente do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª. Região, Jirair Aram Meguerian, o caminho parece desimpedido para a consumação da imposição ególatra de Lula.
Contudo, há sempre lugar para a esperança. O Ministerio Público Federal, que tem isso tudo documentado, poderá ainda lograr obstaculizar a farsa do leilão, previsto para terça-feira, vinte de abril corrente.
Com efeito, o procurador regional Renato Brill de Góes deve entrar com agravo interno no TRF, pedindo que o processo seja avaliado pela Corte Especial do Tribunal. Segundo a nota do Ministério Público, Góes considerou estranha a rapidez com que a decisão foi tomada: “Foge à rotina do TRF1 decidir sobre um assunto tão complexo como este em cerca de três horas”.
Auguremos, portanto, que a questão seja avaliada com o cuidado que merece, o que inviabilizaria a consecução dessa triste e megalômana empresa de destruição ambiental da região do Xingu.

( Fonte: O Globo)

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