domingo, 25 de abril de 2010

Colcha de Retalhos XLIV

A Marinha de Guerra Chinesa

A presença nos mares, longe dos respectivos portos, é uma das mostras típicas da afirmação de poder. É fenômeno gradual, que não ocorre, portanto, de forma imediata. Em geral, principia a entrever-se quando a potência se acredita haver ultrapassado a fase inicial, em que a preocupação de exibição se circunscreve a espaços vizinhos de sua localização geográfica.
A Alemanha do Kaiser Guilherme II tentou, através do aumento da sua marinha de guerra, encetar a contestação do domínio britânico dos mares. Esse intento não teve outra consequência senão acirrar as relações com Londres e representar causa adicional para a entente do Império inglês com a França. Sucedendo à maestria e habilidade do velho timoneiro, o Chanceler Bismarck, o Kaiser contribuía assim para o conjunto de causas que desencadearam a então chamada Grande Guerra, a primeira das hecatombes do século XX.
A União Soviética já entrara na fase dita gerontocrática, quando resolveu mostrar a bandeira de foice e martelo pelos sete mares. Se notada pelo Estados Unidos, a sua custosa afirmação desapareceria com o surpreendente desfazimento da segunda superpotência, em princípios da última década do século XX.
Às vésperas de ultrapassar a estagnada economia japonesa como a segunda mais importante, a República Popular da China ora cuida de estender a presença bem além de suas costas, assim como do estreito que a separa de Formosa.
Para defender os navios mercantes chineses, em rotas julgadas críticas para a economia da RPC, a marinha de guerra do antigo Império do Meio avança bem além de seus portos habituais. No passado mês de março, duas belonaves ancoraram em Abu Dhabi, na primeira visita da marinha chinesa ao Oriente Médio.
Por ora, não há indícios de que a marinha de guerra chinesa pretenda rivalizar com a presente hegemonia naval americana. No momento, ela não teria, de resto, condições de constituir séria ameaça. Enganam-se, no entanto, aqueles que consideram tais arreganhos de poder bélico como sinais inconsequentes.
A marinha de guerra chinesa acompanha, dessarte, o crescimento da economia nacional. Nesse sentido, dentro de poucos anos, a RPC disporá de um esquadrão de porta-aviões. Igualmente, terá flotilha de sofisticados submarinos com a missão precípua de barrar o ingresso de belonaves estrangeiras em suas águas estratégicas.
Como é bastante lato o conceito chinês de águas estratégicas – que vai bem além das águas territoriais e zonas de exploração econômicas definidas pela Convenção do Mar – tal crescente movimentação constitui motivo de preocupação para o futuro.
Tudo leva a crer que a presença chinesa nos sete mares não será assim tão efêmera...

As eleições e o futuro do Sudão

O presidente do Sudão, general Omar Hassan al-Bashir, contra quem existe mandado de prisão lançado pelo Tribunal Penal Internacional, se proclama vencedor das recentes eleições em seu país.
Da liberdade e da correção desse pleito se pode fazer ideia. O próprio General Scott Gration, enviado especial de Obama àquele país declarou que as eleições seriam “tão livres e tão justas quanto possível”. No regime do general al-Bashir, e com todas as tropelias contra os direitos humanos em Darfur, se terá consciência da legitimidade desses comícios.
Consoante se refere, o candidato Obama insistia na campanha de que os Estados Unidos deveriam exercer mais pressão sobre Cartum de modo a evitar uma catástrofe humanitária em Darfur e alhures.
Infelizmente, por enquanto, a Administração Obama vem atuando com moderação do gosto do general al-Bashir.
Para janeiro próximo está marcado referendo em que a população do Sul do Sudão decidirá sobre a secessão ou não de Cartum. A probabilidade é grande de que favoreça a independência. Como a maior parte dos recursos petrolíferos sudaneses se acham no Sul, muitos estimam como quase inevitável a eclosão de novo conflito, eis que Cartum não desejaria perder a riqueza do ouro negro.
Da reação ou não do regime militar do general al-Bashir muito depende a postura do Ocidente e em especial dos Estados Unidos. Uma posição fraca, contemporizadora, como a presente, não representaria o melhor augúrio para o eventual respeito da vontade do povo do sul.

A Economia Grega ou ‘o navio que está afundando’

É conhecida a importância da marinha para a economia da Grécia. Mesmo na antiguidade clássica, foi através da frota de suas trirremes e de suas naves mercantis que Atenas reivindicou a hegemonia sobre o recortado litoral da Hélade e da profusão de ilhas do mar Egeu.
Ao descrever a economia nacional como “um navio que está afundando”, o primeiro-ministro George Papandreou, falando em cadeia nacional da ilha de Megisti, assinalou “que chegara a hora de solicitar a nossos parceiros na União Europeia que ponham em funcionamento o mecanismo por nós formulado.”
Papandreou se reportava ao pacote especial acertado há duas semanas atrás de trinta bilhões de euros (quarenta bilhões de dólares), em empréstimos de membros da euro-zona, e cerca de quinze bilhões a serem concedidos pelo Fundo Monetário Internacional
Com o deficit orçamentário do ano passado, a dívida grega cresceu em 13,6 do PIB, o que implica em débito geral superior a cem por cento desse PIB. Em termos de mercado e sem ajudas extraordinárias, a situação financeira helênica seria insustentável.
Dado o comportamento no passado dos governos gregos, a concessão dessa ajuda da U.E. e do FMI será feita sob acrescidas exigências de austeridade e respeito às obrigações contraídas.
Como o auxílio a ser prestado pelos diversos participantes da zona euro dependerá dos legislativos nacionais, o mais provável é que Atenas receba tais aportes de forma fragmentária. Na Alemanha, que é o membro mais importante, a Chanceler Angela Merkel condicionou a concessão do empréstimo à negociação pela Grécia de um novo programa de austeridade com a U.E., o Banco Central Europeu e o F.M.I. e depois que fosse determinada a inexistência de outras opções.
Como bem sabemos, é árdua e penosa a obtenção da ajuda em divisas pelo país devedor, e a trilha costuma ser marcada por contritas promessas que nem sempre o futuro confirma...

( Fonte: International Herald Tribune )

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