quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Um espinho no Coturno ?


                    
       Segundo reportagem do Estadão, mais da metade dos depósitos em espécie recebidos em 2016 por Fabrício José Carlos de Queiroz, ex-chofer do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL), filho do presidente-eleito Jair Bolsonaro, aconteceu no dia do pagamento dos funcionários da Assembleia  Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) ou até três dias úteis depois.
        Nesses termos, análise do relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que apontou movimentações financeiras atípicas em contas de assessores e ex-servidores do Legislativo carioca, mostra que 34 das 59 operações financeiras seguiram padrão idêntico. O restante ocorreria  em até uma semana.
          Segundo verificado pelo Estado de S. Paulo, quinze depósitos em espécie na conta de Queiroz aconteceram nos mesmos dias de pagamento dos servidores da Alerj em 2016. Tais datas podiam variar a cada mês, e por causa da crise financeira do Rio de Janeiro, que levou a atraso nos salários, mas foram mapeadas através do cruzamento do relatório do Coaf com o cronograma de pagamentos da Assembleia fluminense. Outros dezenove depósitos na conta de Queiroz ocorreram em  até três dias úteis depois dos funcionários receberem seus vencimentos.
           Também  os valores depositados mensalmente se repetem ou são aproximados. Investigadores analisam se há um padrão nas ações, em valores ou na periodicidade.  O jornal Folha de S. Paulo publicou ontem que, logo após receber os valores, Queiroz realizou saques em espécie em quantias aproximadas àquelas que haviam entrado na sua conta.
             A coincidência das datas ocorre logo nos primeiros depósitos feitos em  2016. Em doze de janeiro, dia de pagamento na Alerj, por exemplo, o então assessor  recebeu três depósitos em espécie, nos valores de R$4.400, R$ 5.566 e R$ 1.771. Outra sequên-cia é vista em catorze e quinze de abril, dia de pagamento na Alerj. No primeiro dia, Queiroz recebeu um depósito de R$ 7.400. No seguinte, foram feitos outros dois depósitos, de R$ 1771, outro  de R$ 3.071 e um último de R$ 1.000. Um dia depois, em doze de maio, foi feito na conta outro depósito, de R$ 6.300, e no dia 16 caíu o últi- mo valor do mês, de R$ 1.160.  Os padrões se repetem em junho e em novembro. O relatório, no entanto, não reporta quem realizou os depósitos.
             No relatório preliminar da operação Furna da Onça, a delegada Xênia Ribeiro Soares chegou a citar  a suposta existência de esquema de funcionários fantasmas e auxílio alimentação, que seriam repassados pelos servidores dos gabinetes aos deputados. De acordo com a delegada, o procedimento foi mapeado no gabinete do deputado estadual Paulo Melo, preso pela operação, mas já foi "identificada em outros gabinetes e que se afigura como uma prática criminosa disseminada na Alerj".
            "As informações apresentadas são de máxima gravidade e demandam uma enérgica resposta da Justiça", reza o texto.
              O ex-motorista deve depor na próxima semana no Ministério Público do Rio, que investiga o caso. Segundo apurou o Estado as transações entre funcionários do Legislativo estão entre os motivos que levaram os bancos a classificar as movimentações como atípicas e a advertir o Coaf a seu respeito. O relatório indicou que pelo menos 9 funcionários e ex-funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro fizeram operações (depósitos ou recebimentos) na conta do ex-motorista e ex-segurança do deputado. Entre elas, estão as filhas de Queiroz, Nathalia e Evelyn Melo de Queiroz, e a sua mulher, Marcia Oliveira de Aguiar.
               Assinale-se que o próprio Coaf, em seu relatório anexado à operação Furna da Onça, que investiga corrupção no Legislativo do Rio, classificou o fluxo financeiro como atípico. Parte dos recursos depositados na conta de Queiroz por assessores do gabinete superavam o salário do servidor.
                Em nota, a assessoria de Flávio Bolsonaro ressaltou que ele não é investigado, "visto que não praticou qualquer ilícito em sua atividade parlamentar".  O texto afirma ainda que o deputado "segue à disposição para prestar esclarecimentos às autoridades, se instado for" e "esperava ver, dentro dos trâmites legais, a completa resolução  do caso pelas autoridades competentes."  Procurado, Fabrício José Carlos de Queiroz não quis se manifestar.
             Em observação, O Estado assinala que revelou o caso em tela, havendo "relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) " que apontou movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta de Fabrício Queiroz, policial militar que era lotado no gabinete do deputado estadual Flavio Bolsonaro  (PSL-RJ), filho do presidente eleito, Jair Bolsonaro.
               "Após a publicação da reportagem, Flávio e o presidente-eleito afirmaram que  é o ex-assessor que tem de explicar sobre os depósitos feitos em sua conta. O ex-juiz federal Sérgio Moro, futuro superministro (sic) da Justiça, já disse (que) defendeu investigação do Coaf, órgão que ficará sob seu controle a partir de 2019.
                  "Anteontem, a Promotoria do Rio anunciou que vai investigar as contas de Flávio Bolsonaro e de 21 deputados estaduais da Assembleia do Rio."

( Fonte: O Estado de S. Paulo )                  

Nenhum comentário: