Ao retomar o contato
com as notícias - oportunamente, esclarecerei os motivos do silêncio que me
trouxe a abrupta interrupção - devo
confessar ao leitor amigo que não me surpreende o início de derrocada da
Primeiro Ministra.
Indicada, ao que me consta, pelo seu
antecessor David Cameron, derrubado este por um referendo que ele próprio
ineptamente convocara, a May não tardou em impressionar pela respectiva sólida
mediocridade.
Fala-se que pretenderia convocar
novas eleições e o escambau, mas para mim - ou muito me engano - o seu baú de
truques já se encontra falto de belos tecidos e brilhantes, luzentes oferendas,
não decerto como os encontrara nas suas arcas
o velho rei Príamo, ao preparar a própria bagagem de dádivas para propiciarem
a comiseração do cruel Aquíles.
Por isso, a Primeiro Ministra
eis que se descobre como que posta em sossego, adia a votação do Brexit no Parlamento, e, em
consequência, o seu barco joga desarvorado, o velame descomposto, logo ela que,
de pronto, se vê mais agarrada, do que a empunhar o timão de tantos outros, que
ao arrostarem os mares encapelados das maiorias adversas, terão a boreste, por
cautela e providência, os refúgios que pulsos fortes e mentes claras sabem
discernir.
Seria como que o rei Príamo, na
sua jornada de dor e humilhação, não dispusesse de outro dom que a respectiva
dignidade, a par da aura das cãs que ornam o sábio soberano, que sofre a sorte
severa de ter de resgatar das mãos de Aquiles os restos de quem em vida fora
Heitor, o bravo ainda que humano campeão dos troianos.
E ao invés do soberano de
Tróia, a May tem as mãos vazias. Chamada
por outrem, que, seja por displicência, seja por afinidade, pensara nela dispor de alguém que tivesse as virtudes da
prudência, comete o erro de quem confia na própria capacidade, a May será a
enjeitada da sorte.
Não há fado mais cruel do
que aquele reservado aos que, a princípio, ignoram as respectivas deficiências,
e incorrem no destino daqueles que, ao desconhecê-las, perdem contato com a
realidade e pagam o alto preço cominado aos que se lançam por ínvias e ignotas
veredas.
O pior de tudo é que essa
gente traz consigo muito sofrimento, que sói golpear mais forte aos infelizes
que, menos por querer, são arrastados pela torpeza alheia à sorte madrasta com
quem pensavam nada terem a ver.
Chamem as carpideiras: que venham chorar
suas ressecadas lágrimas pelos pássaros das pardas penas do poleiro de Cameron
e May!
(
Fontes: Homero, llíada (livro XXIV); Luiz de Camões, Lusíadas )
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