Não há Zolas tupiniquins para servirem a seu devido tempo os próprios J'accuse,
mas é lamentável e deveras que as grandes Mineradoras, mal-escondidas sob a designação de Samarco, tentem dissimular - e o que é muito pior -
tornar na prática nulo (e sem gasto para as grandes empresas que têm culpa e
muita no cartório) desviem (ou melhor, intentem desviar) qualquer increpação ou
providência mais custosa para a Vale do
Rio Doce e a empresa australiana que para cá veio não só poluir, mas
destruir e inclusive matar pobres diabos que tenham dois grandes defeitos:
sejam pobres e, por conseguinte, lhes falte a influência que em Pindorama só os ricos dispõem.
A vergonha nacional está aí, e talvez
- quem sabe? - para algo sirva, nessa terra em que esse tipo de estrago
ecológico (e põe estrago nisso!) só
corre risco de receber a punição que fez por merecer se em termos de imagem os
efeitos tendam a tornar-se de alto risco para as mineradoras escondidas atrás do
biombo Samarco.
Digo que é vexame nacional receber
uma reprimenda dessas das Nações Unidas, que seis relatores especiais da ONU
critiquem as medidas adotadas pelas autoridades e pelas empresas, a suposta falta de transparência no
processo de avaliação dos danos, e a limitada participação (deixando o diplomatês de lado, limitadíssima) da
sociedade civil nos órgãos criados para tratar da crise.
Ainda que o governo brasileiro haja respondido a carta, consta que a
pressão será mantida nos bastidores das Nações Unidas.
Se
preciso fora, "em cinco de novembro de 2015, a barragem da Samarco rompeu e um rastro de lama
desceu (bacia abaixo do Rio Doce) destruindo flora e fauna. A lama atingiu o
rio Doce e alcançou o Oceano Atlântico pelo litoral do Espírito Santo, onde está
a foz desse grande curso d'água, de óbvia
grande relevância para as comunidades diretamente envolvidas.
"Gostaríamos
de expressar nossa preocupação em relação à falta de progresso em remediar a
situação afetada pelo desastre, que é o resultado, de certa forma, da falta de
uma avaliação robusta dos dados socioambientais e socioeconômicos, incluindo as
consequências sobre a saúde", alertaram na carta os relatores Léo Heller, que é brasileiro, Baskut Tuncak, David Boyd (et al.)
"Estamos preocupados diante da suposta manutenção das violações de
direitos humanos das comunidades
afetadas pela bacia do rio Doce.
Outras omissões da parte das grandes empresas que comparecem sobre o
prestanome de Samarco repontam no texto. Além de o reassentamento da comunidade afetada
esteja longe de ser assumido e devidamente indenizado. Na realidade, em
fevereiro de 2018, as obras sequer tinham sido anunciadas.
Na verdade, um dos questionamentos
centrais dos relatores se reporta ao acordo assinado em 25 de junho de 2018,
que levou à extinção de ação civil pública de R$ 20 bilhões e à suspensão da
tramitação de outra, de R$ 155 bilhões, movida contra a empresa e as
controladoras, a 'Vale do Rio Doce' e
anglo-australiana BHP Billiton. Por fim,
e como se não bastasse, os representantes das comunidades afetadas não estão
sendo "suficientemente representados" nos órgãos que tomam as
decisões na Fundação Renova.
E não é por acaso que essa Fundação Renova venha produzindo
pareceres do gênero que as águas do Rio Doce atendem aos padrões da Agência
Nacional de Águas (ANA), o que é contestado pelos relatores independentes, que
citam pesquisas conduzidas pela dita
Fundação Renova, que não logrem - coitados! - identificar nas águas a jusante
do Rio Doce metais pesados, com impacto para a saúde, que são de resto
identificados pelos relatores sem peias das grandes multinacionais.
Assinale-se, portanto, que a
omissão industriada pelas grandes interessadas - as multinacionais acima
aludidas - está presente em todas as facetas, sempre pronta para evitar a
indenização às comunidades envolvidas,
que tem muito a ver com o descaso da chamada Samarco, o biombo das mineradoras
para evitar a indenização, custe o que custar (ao morador inocente).
Não foi decerto por acaso que
o sistema de aviso para o evento da "esperada calamidade" a poupadora
Samarco deixara por advertência em um punhado de linhas de telefones. Nem
sirene acharam oportuno dispender para os cofres da tríade das Mineradoras
Internacionais !
As grandes Mineradoras - que
se ocultaram a princípio na prestanome Samarco,
como nas velhas epopeias não cessam de assumir novas supostas identidades, na
sua eterna busca de reparo e abrigo dos muitos males que a sua cupidez foi
provocar.
Será que não há vozes nas
Alterosas e outras terras à jusante que venham a defender os direitos de o que
em tempos outros mais singelos se costumara chamar de flagelados? Pois sob tal flagelo os infelizes se encontram! De que lhes vale ter razão - e na verdade, o
que mais assusta às mineradoras - demasiada
razão, o que não parece bastar, pois os males e os falsos defensores
abundam!
Que grande crime é esse de
o que ser pobre na terra de Pindorama, e na sua distante sucessora, o país que
toma o nome do pau-brasil, que era para ser consumido breve e rapidamente, para
sumir numa designação remanescente, que mais lembra a profligação de que o respeito ao alheio e
sobretudo àqueles que lutam com a
adversidade.
Como os pobres são culpados
no meu país !
(
Fontes: O Estado de S. Paulo, Luiz de Camões, Carlos Drummond de Andrade )
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