quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Mariana: vexame nacional e internacional


               

        Não há Zolas tupiniquins para servirem a seu devido tempo os próprios J'accuse,  mas é lamentável e deveras que as grandes Mineradoras, mal-escondidas sob a designação de Samarco,  tentem dissimular - e o que é muito pior - tornar na prática nulo (e sem gasto para as grandes empresas que têm culpa e muita no cartório) desviem (ou melhor, intentem desviar) qualquer increpação ou providência mais custosa para a Vale do Rio Doce e a empresa australiana que para cá veio não só poluir, mas destruir e inclusive matar pobres diabos que tenham dois grandes defeitos: sejam pobres e, por conseguinte, lhes falte a influência que em Pindorama só os ricos dispõem.
         A vergonha nacional está aí, e talvez - quem sabe? - para algo sirva, nessa terra em que esse tipo de estrago ecológico (e põe estrago nisso!) só corre risco de receber a punição que fez por merecer se em termos de imagem os efeitos tendam a tornar-se de alto risco para as mineradoras escondidas atrás do biombo Samarco.
          Digo que é vexame nacional receber uma reprimenda dessas das Nações Unidas, que seis relatores especiais da ONU critiquem as medidas adotadas pelas autoridades e pelas empresas, a suposta falta de transparência no processo de avaliação dos danos, e a limitada participação (deixando o diplomatês de lado, limitadíssima) da sociedade civil nos órgãos criados para tratar da crise.
           Ainda que o governo brasileiro haja respondido a carta, consta que a pressão será mantida nos bastidores das Nações Unidas.
            Se preciso fora, "em cinco de novembro de 2015, a barragem da Samarco rompeu e um rastro de lama desceu (bacia abaixo do Rio Doce) destruindo flora e fauna. A lama atingiu o rio Doce e alcançou o Oceano Atlântico pelo litoral do Espírito Santo, onde está a foz desse grande curso d'água, de óbvia  grande relevância para as comunidades diretamente envolvidas.
             "Gostaríamos de expressar nossa preocupação em relação à falta de progresso em remediar a situação afetada pelo desastre, que é o resultado, de certa forma, da falta de uma avaliação robusta dos dados socioambientais e socioeconômicos, incluindo as consequências sobre a saúde", alertaram na carta os relatores Léo Heller, que é brasileiro, Baskut Tuncak, David Boyd (et al.) "Estamos preocupados diante da suposta manutenção das violações de direitos humanos  das comunidades afetadas pela bacia do rio Doce.
                Outras omissões da parte das grandes empresas que comparecem sobre o prestanome de Samarco repontam no texto.  Além de o reassentamento da comunidade afetada esteja longe de ser assumido e devidamente indenizado. Na realidade, em fevereiro de 2018, as obras sequer tinham sido anunciadas.
                Na verdade, um dos questionamentos centrais dos relatores se reporta ao acordo assinado em 25 de junho de 2018, que levou à extinção de ação civil pública de R$ 20 bilhões e à suspensão da tramitação de outra, de R$ 155 bilhões, movida contra a empresa e as controladoras, a 'Vale do Rio Doce'  e anglo-australiana BHP Billiton.  Por fim, e como se não bastasse, os representantes das comunidades afetadas não estão sendo "suficientemente representados" nos órgãos que tomam as decisões na Fundação Renova.
                 E não é por acaso que essa Fundação Renova venha produzindo pareceres do gênero que as águas do Rio Doce atendem aos padrões da Agência Nacional de Águas (ANA), o que é contestado pelos relatores independentes, que citam pesquisas conduzidas pela  dita Fundação Renova, que não logrem - coitados! - identificar nas águas a jusante do Rio Doce metais pesados, com impacto para a saúde, que são de resto identificados pelos relatores sem peias das grandes multinacionais.
                   Assinale-se, portanto, que a omissão industriada pelas grandes interessadas - as multinacionais acima aludidas - está presente em todas as facetas, sempre pronta para evitar a indenização às comunidades envolvidas, que tem muito a ver com o descaso da chamada Samarco, o biombo das mineradoras para evitar a indenização, custe o que custar (ao morador inocente).
                 Não foi decerto por acaso que o sistema de aviso para o evento da "esperada calamidade" a poupadora Samarco deixara por advertência em um punhado de linhas de telefones. Nem sirene acharam oportuno dispender para os cofres da tríade das Mineradoras Internacionais !  
                 As grandes Mineradoras - que se ocultaram a princípio na prestanome Samarco, como nas velhas epopeias não cessam de assumir novas supostas identidades, na sua eterna busca de reparo e abrigo dos muitos males que a sua cupidez foi provocar.
                  Será que não há vozes nas Alterosas e outras terras à jusante que venham a defender os direitos de o que em tempos outros mais singelos se costumara chamar de flagelados?  Pois sob tal flagelo  os infelizes se encontram!  De que lhes vale ter razão - e na verdade, o que mais assusta às mineradoras - demasiada razão, o que não parece bastar, pois os males e os falsos defensores abundam!
                    Que grande crime é esse de o que ser pobre na terra de Pindorama, e na sua distante sucessora, o país que toma o nome do pau-brasil, que era para ser consumido breve e rapidamente, para sumir numa designação remanescente, que mais lembra  a profligação de que o respeito ao alheio e sobretudo àqueles  que lutam com a adversidade.
                   
                        Como os pobres são culpados no meu país  !

( Fontes: O Estado de S. Paulo, Luiz de Camões, Carlos Drummond de Andrade )

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