Jeremy
Corbyn, o líder trabalhista, preza a reserva, e de um tal
modo, que a sua bancada por vezes se incomoda com o seu excessivo silêncio.
Afinal, ele é contra ou a favor do Brexit?
Trazendo as próprias cartas muito próximo do colete, não estaria sendo
demasiado discreto, e por isso até capaz de induzir em erro a seus liderados?
Mas
a atual batalha no Parlamento inglês é uma luta renhida, e as palavras stupid woman terão sido ouvidas pela
bancada dos tories, e de imediato
atribuídas a alguma observação ferina do leader Corbyn a respeito da Primeira
Ministro.
As novas regras do convívio humano tornariam
tal comentário um anátema parlamentar a ser evitado de toda maneira. E foi o
que fez o líder Corbyn, explicando à cética Premier
que ele se reportava a women
(mulheres no plural) e que decerto não se referia à Primeira Ministra.
Merecendo ou não o apodo, os protagonistas dessa batalha originada do
plebiscito de 2006 muita vez dedicam mais atenção a questões colaterais do que
propriamente ao problema central, i.e.,
qual é o interesse do Povo inglês nessa questão ?
Os pioneiros, aqueles que por primeira vez colocaram a aspiração
britânica de integrar o Mercado Comum - e sofreram a negativa do general de
Gaulle - pensavam no essencial da questão, e por isso não alimentavam dúvidas
sobre quaisquer desvantagens que adviriam para o povo inglês, eis que se
limitavam às essências do interesse nacional, e as vantagens que lhes adviriam,
se comparadas com as da rede esparsa da Associação de Livre Comércio, um fraco
substituto para o gordo prêmio do Mercado Comum.
Já a leva seguinte - que não nutria dúvidas sobre as vantagens
comparativas - aproveitou pressurosa a oportunidade de aceder à organização de
Bruxelas. Havendo passado pelas
deficiências do substitutivo, conheciam
demasiado a questão para terem dúvidas em matéria de vantagens comparativas.
Com os anos cinzentos da planície,
a presença do Reino Unido em Bruxelas perderia com o tempo a própria
essencialidade do benefício. Ao insular
companheiro de jornada, como que recolhido na planície de uma convivência já
longa, eis que lhe tornam os românticos pensamentos dos grandes triunfos da
Álbion no passado, e o quanto agora, na companhia continental, lhes luziam com
o brilho da ascendência nos mares e dos triunfos em terra, contra aqueles
mesmos povos continentais que com ela conviviam nos grandes salões da grande
organização europeia de que hoje participavam, assim como muitos outros povos
sem história a ela comparável ?
Essa difusa insatisfação levaria ao primeiro plebiscito, que Tony Blair
convocaria. Naqueles dias não se deu muita importância a que se houvesse, por
vez primeira, considerado a consulta como necessária, a ponto de motivar
aquela pergunta sobre a saída do mercado comum europeu.Retrógrado ou não, o
desejo de secessão permanecia válido às novas gerações. Na verdade, as ilusões
das glórias passadas e de um certo magnífico isolamento do Continente
permaneciam. E de forma quase sub-reptícia, a possibilidade de reverter à
situação anterior permaneceria válida para muitos.
Por isso, aquela incrível consulta no verão de 2006 seria encenada de
novo. Os irredentos do passado, esquecidos das vantagens do intercâmbio com o
Continente, acharam natural que David
Cameron, com a mesma displicência com que cruzava os largos salões da
organização continental a que ora a velha Inglaterra pertencia, também acedesse
a organizar naquele período estival mais um referendo sobre se valeria a pena
permanecer num bloco com todos aqueles países, alguns dos quais desconhecidos
para ele ?
Parece que não se deram
conta que aquela disjuntiva - se quer permanecer (remain) ou se quer deixar (leave)
a Organização - era na verdade uma pergunta trágica, que deveria ser lida dessa
maneira: tem plena consciência das vantagens que adquiriu, e que ora concorda em
abandonar, nisso contrariando o
bom senso dos líderes do passado?
E
aquele quesito já tinha até um paraninfo - David Cameron !
(
Fontes: Folha de S. Paulo, O Estado de
S.Paulo, O Globo )
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