segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Netanyahu, lembra-te que a gente de Ghaza é pobre, mas não é dócil, como teus cães



               O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, exigiu cessar-fogo do  Hamas em Gaza.
                 "Estamos em uma campanha contra o terrorismo. Nosso pedido é claro: um cessar-fogo total. Não nos contentaremos com menos",  determina  ele em reunião com ministros.

                   Israel e Hamas, o movimento islamista que governa Gaza, protagonizaram na semana passada um dos mais graves confrontos desde 2014.

                    Netanyahu, perante o próprio gabinete ministerial, fala grosso.  Ele quer um cessar-fogo total de parte do Hamas, é lógico.  Israel, que ele pensa ter o monopólio das armas, não carece de ouvir quaisquer recomendações.

                      É o poder imperial que não se contenta com menos.  Como julga ter, em termos práticos, o monopólio das armas, julga que as suas relações com o protetorado de Ghaza deva exprimir-se dessa forma, através de imperativos.

                       Semelha muito cômodo designar toda resistência como terrorismo.  Seja a luta da parte mais fraca contra aquela poderosa,  seja a reação contra as injustiças  do imperialismo em todas as suas versões, tudo isso pode ser misturado para facilitar-lhe o esmagamento mais expedito e sem demasiadas regras, sobretudo aquelas que intentem humanizar e controlar os confrontos.

                         Não há tempo, segundo  o senhor Netanyahu, para demasiadas reflexões sobre a questão.  Na sua cabeça, há a linearidade do poder absoluto, ou que se julga absoluto, pela aparente disparidade das forças, e das vantagens consequentes.  Para esses senhores da guerra, que fazem preleções ao invés de propostas, e que se armam do velho cinismo de tantas ideologias autoritárias, que chegam a transformar os embates em campo aberto como troca preliminar de ideias, vestidos que estão de um autoritarismo que se crê superior  - quando  é inferior, e incapaz de sustentar o bom combate, que não é aquele de chefe para subalternos, como o esquelético sumário da reunião de conselho há pouco indicava, na linearidade da relação entre carrasco e servos.

                           Gaza pode ser até um inferno. Desde muito esse inferno tem atraído penas famosas, que, em traços por vezes singelos, nos ajudam a compreender os demônios que a cercam e os desafios que a sua presença possa causar.  Para os que contribuem para criar e institucionalizar locais  como estes, ele oferece um local, em meio à miséria e ao consequente desconforto, propício à meditação, e máxime  à reflexão. Ao apoiar-se no ódio e no maniqueismo, ele cria a sua própria máquina infernal, pois já dizia a sabedoria de uma outra civilização, também natural dessa terra que apesar de retorcida é  fértil, que é dando que se recebe. Se vives no opróbrio e te refestelas no mal, o que podes esperar,  infeliz ?


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