Drauzio Varella nos
escreve sobre o crescimento da violência e da bandidagem no Brasil. É um resumo, nada alentador porque veraz,
fala de nossa sociedade como irresponsável, de o que se realizou em vinte anos
- perdeu-se o controle das cadeias, o crack
está em toda a parte, e se entregou os morros e as periferias ao jugo do
crime organizado.
O médico nos refere o caso da menina
no Acre, que teve três episódios de malária nos últimos seis meses. Sabedora que a entrevista iria ao ar no
Fantástico, a mãe disse que não poderia assistir. Não se ligava a tevê à noite,
para a luz da tela não atrair os bandidos da vizinhança.
A violência da qual a classe média se
queixa nas cidades é brincadeira de criança perto da que enfrentam os mais
pobres.
Num sistema burocratizado em que R$
2 de cada R$ 10 destinados à educação chegam às salas de aula, e somente um
em cada 27 matriculados no ensino básico entra na universidade, represamos uma
massa de despreparados para as exigências
da economia moderna.
Queremos um Brasil sem violência
nem políticos ladrões. Varella acha lindo, mas com essa disparidade de renda?
Escreve sobre a fundação
bilionária fundada por Bill Gates.
Ele investe pessoalmente mais do que qualquer país europeu, só perde para o
governo americano. A despeito de iniciativas isoladas, o que fazem os
milionários brasileiros?
Em 1989, quando Varella começou
no Carandiru, havia noventa mil presos no país. No fim deste ano, haverá
oitocentos mil, quase nove vezes mais. Nossas ruas ficaram mais seguras? Faz sentido termos a terceira população carcerária
e
17 entre as 50 cidades mais perigosas do mundo?
Permitimos que a bandidagem se
organizasse a ponto de servir de paradigma a ser seguido pelas crianças da
periferia. A guerra contra o crime será longa e sofrida.
2. Resumi as partes que mais me
impactaram, mas me recuso a apontar a bandidagem como 'única possibilidade de
melhorar de vida' (para as crianças da periferia). Tampouco me animo a
transcrever que a guerra contra o crime além de ser longa e sofrida, será infrutífera.
Diante das premissas colocadas
pelo autor e por sua experiência nas agruras da periferia não me disponho a
botar essa pedra enorme na nossa frente.
O próprio Drummond ao afirmar que na sua frente havia uma pedra, não
afasta a possibilidade de que de algum modo a superemos.
Por outro lado, foi um golpe
cruel contra o Rio de Janeiro que a idéia das UPPs e da criação da favela-bairro
tenha sido derrubada por um político que se deixou iludir pela suposta riqueza
fácil, o que lhe corroeu toda a mensagem
do programa e o que pior é, desmoralizou tanto a ele quanto àqueles que nele acreditaram.
Mas enquanto houver esperança - e gente
honesta à volta - uma queda não significa que a trilha esteja cerrada, invadida
pela erva ruim e as macegas do abandono. Na verdade, o poder para aqueles que
não estão preparados pode até servir-lhes
como entorpecente. Mas o senhor, como médico, sabe como acabam os que cáem
presa dos encantos de uma existência
fora da realidade.
(Fonte:
artigo "Irresponsabilidade", de Dráuzio Varella, na Folha de S. Paulo
)
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