segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Irresponsabilidade ?


                                            

        Drauzio Varella nos escreve sobre o crescimento da violência e da bandidagem no Brasil.  É um resumo, nada alentador porque veraz, fala de nossa sociedade como irresponsável, de o que se realizou em vinte anos - perdeu-se o controle das cadeias, o crack está em toda a parte, e se entregou os morros e as periferias ao jugo do crime organizado.
         O médico nos refere o caso da menina no Acre, que teve três episódios de malária nos últimos seis meses.  Sabedora que a entrevista iria ao ar no Fantástico, a mãe disse que não poderia assistir. Não se ligava a tevê à noite, para a luz da tela não atrair os bandidos da vizinhança.
          A violência da qual a classe média se queixa nas cidades é brincadeira de criança perto da que enfrentam os mais pobres.
           Num sistema burocratizado em que R$ 2 de cada R$ 10 destinados à educação chegam às salas de aula, e somente um em cada 27 matriculados no ensino básico entra na universidade, represamos uma massa de despreparados para  as exigências da economia moderna.
            Queremos um Brasil sem violência nem políticos ladrões. Varella acha lindo, mas com essa disparidade de renda?
             Escreve sobre a fundação bilionária fundada por Bill Gates. Ele investe pessoalmente mais do que qualquer país europeu, só perde para o governo americano. A despeito de iniciativas isoladas, o que fazem os milionários brasileiros?
              Em 1989, quando Varella começou no Carandiru, havia noventa mil presos no país. No fim deste ano, haverá oitocentos mil, quase nove vezes mais. Nossas ruas ficaram mais seguras?  Faz sentido termos a terceira população carcerária  e  17 entre as 50 cidades mais perigosas do mundo?
               Permitimos que a bandidagem se organizasse a ponto de servir de paradigma a ser seguido pelas crianças da periferia. A guerra contra o crime será longa e sofrida.

2.             Resumi as partes que mais me impactaram, mas me recuso a apontar a bandidagem como 'única possibilidade de melhorar de vida' (para as crianças da periferia). Tampouco me animo a transcrever que a guerra contra o crime além de ser longa e sofrida, será infrutífera.

                Diante das premissas colocadas pelo autor e por sua experiência nas agruras da periferia não me disponho a botar essa pedra enorme na nossa frente. O próprio Drummond ao afirmar que na sua frente havia uma pedra, não afasta a possibilidade de que de algum modo a superemos.
                   Por outro lado, foi um golpe cruel contra o Rio de Janeiro que a idéia das UPPs e da criação da favela-bairro tenha sido derrubada por um político que se deixou iludir pela suposta riqueza fácil, o que lhe  corroeu toda a mensagem do programa e o que pior é, desmoralizou tanto a ele quanto  àqueles que nele acreditaram.
                   Mas enquanto houver esperança - e gente honesta à volta - uma queda não significa que a trilha esteja cerrada, invadida pela erva ruim e as macegas do abandono. Na verdade, o poder para aqueles que não estão preparados pode  até servir-lhes como entorpecente. Mas o senhor, como médico, sabe como acabam os que cáem presa  dos encantos de uma existência fora da realidade.


(Fonte: artigo "Irresponsabilidade", de Dráuzio Varella, na Folha de S. Paulo )

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