'Onde está você, João Gilberto?' é um
filme que, a princípio, parece difícil de basear uma trama crível, mas que
acaba envolvendo o espectador na busca ingrata e perseverante do jornalista
alemão Marc Fischer.
È longa a procura de parte de Fischer.
O espectador brasileiro inteirado das idiossincrasias de João Gilberto há de
participar dessa busca, e custa a convencer-se de que mitos são de difícil
individualização.
Entremeado com a música e as ajudas que i cognoscenti,- aqueles que estão noutro plano, por conhecerem o
artista, ou terem parte da própria biografia entremeada com esse cantautor, nos
proporcionam - o espectador que, a princípio, sorri das bizarrices de João, vai
aos poucos sendo conduzido pela flauta desse maestro de Hamelin, e sem dar-se
conta, principia a compor uma explicação para as, por vezes, estranhas atitudes
de João, em que os ambientes de suas 'fugas', por exasperantes que sejam, vão
tecendo uma afirmação peculiar do cantautor, cujas coleantes e sobrepairantes
negativas vão aos poucos encorpando uma música e mensagem, ora repassadas por
companheiros que dele privaram, ora acenadas pela paisagem, como a Vista Chinesa, e outras mais, com as
folhas e suas sombras que podem dizer-nos mais do que nos acenam.
Para certos críticos, João Gilberto,
com as suas atitudes, a reclusão e os problemas que enfrenta, chegaria a beirar
a banalização.
Peço vênia para discordar. Há uma
ênfase na procura de Marc Fischer que não escapa ao diretor Georges Gachot.
Pela sua germânica insistência, ela ajuda o espectador a entender melhor as
peculiaridades de João. As buscas muita vez podem valer mais pela própria reiteração,
eis que elas tendem a retirar o cômico e o irrelevante de cena, para trazer
outros traços que o personagem, ao querer ocultar, contribui muita vez para
torná-los mais presentes para o espectador, ainda que em cenário de recusa e de
ausência.
(Fonte:
Onde
Está Você, João Gilberto?, direção de Georges Gachot.)
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