quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Do gesto extremo do Reitor Cancellier


                          
          Faz dias procuro na imprensa registro sobre a reação extrema do Reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, aproximando-se a data de dois de outubro, que marca o gesto sem volta de lançar-se naquela data do sétimo andar de um shopping de Florianópolis.
           A Folha de S. Paulo não me falha na expectativa. Aí deparo  entrevista de Acioli Antônio de Olivo a Walter Nunes. Pesquisador aposentado do INPE  (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), ele deixa sua casa em São José dos Campos para passar uns dias com o irmão em Florianópolis.
             Na verdade, não são dias quaisquer. Luiz Carlos Cancellier apresenta sinais de depressão, e tal se verifica desde a prisão por um dia na Ouvidos Moucos. Nesta operação, a Polícia Federal diz desmantelar esquema milionário de desvios de verbas de educação.
             Embora não o soubesse, Acioli seria a companhia do irmão nos seus últimos   dias. Pois, a dois de outubro, em desespero, Cancellier se joga para a morte. Leva no bolso a mensagem derra-deira,  em que culpa a operação policial.        
              A propósito, assim se manifesta o irmão Acioli Antonio: "Minha opinião de leigo é que quem matou meu irmão foi a falsa  acusação de ter desviado  R$ 80 milhões. O resto tudo ele poderia suportar." E completa: "Se ele fosse inocentado juridicamente, nunca seria  inocentado de uma mácula que jogaram contra ele."
               Na quarta-feira, dia quinze, Acioli encontrou Raul Jungmann, Ministro da Segurança Pública, e narrou sua versão do episódio e como a investigação atingira sua família.
                Assinale-se que o relatório final da Polícia Federal, segundo consta no artigo de Walter Nunes,  não apresenta provas de que Cancellier ter-se-ia beneficiado de um suposto esquema milionário de desvio de verbas da universidade.
                  Também nesse sentido, o irmão do ex-reitor faz críticas aos dois inquéritos da Polícia Federal que chamaram professores a dar explicações  após manifestações sobre a operação policial e a morte de Cancellier.
                   O Reitor da UFSC, Ubaldo Balthazar, e o chefe de gabinete da reitoria, Aureo Mafra de Moraes, acabaram denunciados à Justiça pelo Ministério Público Federal sob a acusação de ofenderem a "honra funcional" da delegada da P.F.  responsável pela Ouvidos Moucos e de terem sido omissos diante de protestos na instituição contra a ação policial.
                    A propósito, o articulista assinala: "O ministro Gilmar Mendes falou algo muito claro recentemente. Que eles (policiais federais)  não têm nenhum cuidado com a honra alheia e são tão cuidadosos quando criticamos os seus."
                     A Polícia Federal disse, em nota, que os inquéritos foram instaurados "após representação  encaminhada por servidores públicos federais que se sentiram vítimas de possíveis  crimes contra a honra diante da exposição de faixas com dizeres tidos como ofensivos nas dependências da UFSC".
                     Perguntado como surgira a conversa com o Ministro Raul Jungmann, o pesquisador Acioli Antonio de Olivo disse que participara de um evento sobre fake news em que estava também o ministro Gilmar Mendes, do STF. O ministro falou que estava muito descontente com os rumos, não só do caso do meu irmão, mas também com as questões das operações da PF. Disse que seria interessante o Ministro Jungmann  se manifestar sobre o caso da UFSC. Depois, ligou e disse que tinha falado com Jungmann e que era para que entrasse em contato com ele.
                       Indagado acerca de como tinha sido a conversa, o irmão de Cancellier disse que a conversa com Jungmann foi muito boa no aspecto que ele se solidarizou com a dor da família. Ele até disse que não tinha se inteirado completamente. Fiz um relato de como eu vi a questão da prisão, de como a imprensa e autoridades têm descrito esta questão. 
                         Acioli de Olivo reconhece não ter nenhum conhecimento jurídico, tendo feita carreira na área tecnológica. Portanto, ele reconhece não ter condições de avaliar juridicamente se o operação que prendeu seu irmão tem erros ou não."O que tenho certeza muito grande é que meu irmão morreu por não poder suportar uma acusação caluniosa de ele ser líder de uma organização criminosa que desviou R$ 80 milhões.
                          Perguntado pelo repórter sobre o que dissera a respeito o Ministro Jungmann,  Olivo respondeu que o ministro disse  que gostaria de se inteirar mais sobre tudo aquilo que falei e me pediu que eu encaminhasse um documento sobre todos os temas que tinha apresentado.
                           Indagado pelo repórter  acerca do fato de haver privado da companhia do irmão nos dias anteriores ao suicídio,  Olivo afirmou que apesar de não ser próximo do irmão - "ele morava em Santa Catarina e eu moro em São Paulo - quis o destino que eu fosse a companhia dele nos últimos sete dias de vida. Eu estava em São José dos Campos e meu irmão caçula falou: "O Cau (apelido de Cancellier) não está bem. Você pode vir e fazer companhia a ele?" Eu estava aposentado e fui para lá e fiquei na casa dele, conversei muito com ele."
                              "Senti que ele estava num processo que - obviamente que não identifiquei que era tão grave - de tristeza muito grande no sentido de toda a vida acadêmica que ele construíu tinha ido pelo ralo. Tudo que ele fez ao longo da vida, desde aluno, professor, chefe de departamento, diretor da faculdade de direito e reitor tinha sido jogado no lixo por uma acusação falsa."
                               Perguntado como se manifestava essa depressão, respondeu Olivo: "Quando cheguei lá, conversei um pouco com ele e a partir do dia seguinte fui acompanhá-lo em várias coisas. Ele precisava de documentos, ir ao médico - tinha feito uma cirurgia cardíaca seis meses antes.
                               "No primeiro dia, quando fomos pegar um táxi, senti que ao sair do apartamento ele olhava para todos os lados para ver se não era reconhecido. Então alugamos um carro para ter maior privacidade. E cada vez que eu saía com ele, ele saía do carro  e olhava para a frente e para trás. Conversamos a respeito disso. Ele sabia que isso não tinha retorno. Se ele fosse inocentado juridicamente, nunca seria inocentado de uma mácula que jogaram contra ele."
                                O jornal insere nesse contexto a seguinte observação: "A PF incriminou seu irmão por manter ou nomear professores que fariam parte de uma quadrilha." Olivo responde a respeito: "Não sei como funciona a burocracia da universidade, então contestar seria leviano de minha parte. O que eu sei e é claro no inquérito inicial é que, aos olhos de um leigo, não existe nexo causal entre as provas e evidências coletadas e as acusações. No entanto, eu devo ser muito ignorante, tendo em vista que uma juíza - qualificada que deve ser, todo juiz deve ser qualificado - acatou as acusações. Por isso eu me atenho a algo que eu entendo, que é a dor. E a dor me diz que meu irmão foi morto porque a dor dele por uma falsa acusação era maior do que tudo. O resto eu deixo para a Justiça, para os juristas, para os professores da universidade.
                                O repórter Walter Nunes então pondera:" Houve uma sindicância sobre a conduta da delegada Erika Marena, responsável pela prisão de seu irmão, e ela foi absolvida."  Responde então o irmão Acioli A. de Olivo: "Não sei se houve uma sindicância. Para ter uma sindicância deve haver uma série de formalidades. Eles se autoinvestigaram.O fato é que me pareceu que eles fizeram algo muito apressa-do, porque eles precisavam rapidamente eximir a delegada, tendo em vista que ela era nomeada para a Superintendência da PF em Sergipe."
                                 Informado de que "o caso agora está com a Procuradoria", ele  perguntou ao irmão do Reitor  "o que o sr. espera?"  "O que eu espero é que isso sirva para que as pessoas possam andar livremente, que não tenham medo de serem presos sem direito ao contraditório. O que eu quero é que o autoritarismo e as manifestações que às vezes podem ser caracterizadas como perseguição da PF aos gestores da universidade e a outras autoridades e outras pessoas acabem.
                                "Eu lembro o seguinte: e os outros professores que foram presos com o Cau? Eles estão impedidos de entrar na universidade, continuam execrados pela opinião pública. Eu espero que a universidade apóie essas pessoas no seu retorno e que toda a comunidade universitária e a sociedade tenham certeza de que foi uma injustiça que fizeram com meu irmão e com todos eles. Legalmente, eu não sei o que esperar. Eu não sou ingênuo de acreditar que o estado reconheça que eles (investigadores) erraram, mas eu espero que em vida eu possa ver os outros professores volta-rem para a universidade."

Fonte: transcrição da entrevista de Acioli A. de Olivo, dada ao reporter Walter Nunes, da Folha, referente ao irmão do Reitor da Universidade Federal  de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier de Olivo, que se suicidou.

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