Sempre me
surpreendeu a maneira agressiva com que a Deputada Nancy Pelosi, líder da bancada democrata, tem sido tratada
pelos republicanos da Casa, e até por alguns democratas de direita.
Ficava a perguntar-me o que tinha
de ameaçador e de desagregador essa grande líder democrata. Sem saber ao certo
a motivação de tanta propaganda e de representações demoni-zantes da Pelosi,
intrigava-me tanta agressividade e, mesmo, tanta propaganda negativa dessa
importante líder do Partido Democrata.
Nesse aspecto da demonização
da grande líder da bancada ainda hoje minoritária dos democratas,
surpreendeu-me deveras que em recente bye-election para preencher cadeira
deixada vaga, o candidato democrata que se apresentou assumiu o esdrúxulo
compromisso de afastar-se da Câmara, no caso de que Nancy Pelosi fosse
eleita Speaker[1].
Já conhecia a hostilidade que
votam à Pelosi os políticos e os representantes do GOP, mas espantou-me
formulasse esse esdrúxulo compromisso em dissociar-se, por antecipação de
Madam Speaker Pelosi, um deputado da direita democrata.
Paul Krugman, conhecido
articulista do New York Times, cuidaria de afastar tal perplexidade, em artigo
de há poucos dias atrás. Com a franqueza, visão de conjunto que lhe são
características - a par de seu conhecimento de economia e de política - esse
prêmio Nobel me faria o grande obséquio de explicar as razões dessa autêntica chasse aux sorcières[2] que é empregada com comovente
pertinácia pela mídia de tendência republicana ou conservadora, como se a
grande política democrata fosse uma perigosa - e com olhos revoltos (wild-eyed) representante, que é descrita
aos conservadores republicanos como se fora quase um perigo público.
O artigo de Krugman desmonta
essas mentiras e mesmo calúnias, que são incen-tivadas pelos meios ditos conservadores
e republicanos em geral. O temor que o
Grand Old Party vota à Pelosi se deve basicamente as suas grandes qualidades
como legisladora e last but not least, enquanto Speaker - que é o termo que se atribui na Câmara de Representantes
ao Presidente da Assembleia.
A longa permanência da maioria
republicana na Câmara se deve essencialmente ao gerrymander, essa invenção americana de falsear os resultados
eleitorais para as câmaras, basicamente dividindo um estado (para a eleição dos
deputados) por dois ou três mega distritos, que congregam os votos de tendência
democrata (liberal), e dividindo os distritos restantes entre a população que
tende a votar majoritariamente pelos republicanos.
Ainda que pareça tosco, o
método é tristemente eficaz, eis que constitui deslavada fraude da vontade
popular. Por isso, tende a ser utilizado pelo GOP, na medida em que lhe
assegura bancadas que não correspondem, v.g. ao sentir político de uma comunidade
estadual, eis que mascaram as bancadas, contribuindo para inchar as republicanas
e adelgaçar as democratas. Como tal
sistema depende do desenho fraudulento dos distritos eleitorais, no âmbito
federal, ele só serve para a Câmara de
Representantes, e é por isso que, desde o segundo ano do primeiro Governo Obama,
a Câmara de Representantes tem sido presidida por Speakers do GOP, e a qualidade de o que sai dessa Assembleia tem
sofrido bastante pelos agudos males de irreparável, sólida mediocridade
política de uma artificialidade que não só contraria a vontade soberana do Povo
americano, senão contribui com mão pesada para a baixa do nível da
representação política.
Como mostra no seu
luminoso e abrangente artigo Paul Krugman, há uma comovente disparidade entre
as cavalgaduras e outras sólidas mediocridades políticas re- presentadas pelos
diversos Speakers que se sucederam à
Nancy Pelosi, depois que o jovem Obama converteu por um tempo a Casa Branca em
um local para seminários econômicos, mas um tanto afastado da realidade do
dia-a-dia estadunidense. Com o gerrymander
ocorrendo na passagem do século - e da cronologia eleitoral - compreende-se o
famoso shellacking (tunda) que sofreria o Partido Democrata. Perdida a maioria,
e com a ajuda do censo, perde a
Câmara de Representantes a presença como Speaker da excepcional Nancy Pelosi,
que nos dois aninhos que restaram aos democratas de maioria na Câmara de Representantes,
ela conseguiu fazer aprovar - sem nenhum voto do GOP - a reforma dos Bancos (que os republicanos ora já tratam de
desfigurar), dita Reforma Financeira, e a mais importante reforma, o Affordable Care Act
Além disso - e este é talvez o seu maior feito - logrou fazer
aprovar pela Câmara de Representantes a
Reforma da Saúde sem nenhum voto republicano, tal foi a radicalização
incentivada pelos petroleiros irmãos Koch (pronuncia-se Konk), que não querem saber de meio ambiente protegido, nem de
reforma sanitária.
Pelosi cresce ainda
mais se a cotejarmos com o grupelho de Speakers republicanos que a sucederam,
todos pavoneando uma patética mediocridade que Krugman no seu artigo no Times
ressalta com a precisão e cogência que lhe são peculiares. Por isso, o
Prêmio Nobel de Economia a designa com a sua escorreita precisão, como um gigante entre anões. Os anões abrangem o dito pedófilo Dennis Hastert,
John Boehner que tampouco se distinguiu por qualidades de Speaker (a sua função foi especificamente a de opor-se aos
principais projetos de Barack Obama) e, por fim, Paul Ryan,
sem presença política de relevância.
Krugman o considera flimflam[3]
e os anões obviamente sendo Dennis Hastert, John Boehner, que se distinguiu apenas em tentar contrariar todos os
planos de Obama. Assinale-se que nos
dois anos em que Nancy Pelosi permanece como Madam Speaker, ela conseguiu fazer aprovar a Reforma da Saúde (Affordable Care Act) sem um voto sequer dos
republicanos, e a importante - hoje desfigurada - reforma dos Bancos, sem
falar na Lei de Estímulo, que reativou a economia americana abalada pela crise das
hipotecas subprime.
(Fonte:
The New York Times, artigo de Paul Krugman )
[1] Speaker é o termo tradicional para
designar o Presidente da Câmara de Representantes.
[2]
Caça às feiticeiras.
[3]
uma ninharia, político de pouco valor.
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