segunda-feira, 27 de agosto de 2018

John McCain


                                

       O Senador pelo Arizona John McCain, em época de carência de grandes vultos, sai de cena, com a discrição e a nobreza que não lhe vieram por acréscimo, mas que faziam parte da própria natureza.
        Alguém por um breve momento terá acaso trepidado diante das palavras de quem jamais lhe esteve à altura, quando ousou insinuar que bons soldados não caem prisioneiros?
         Acaso terá passado pela mente de tal pessoa que o bom soldado é aquele que está acima das contingências da sorte, e que, em qualquer circunstância, pela própria têmpera e coragem, está acima dos desafios da fortuna?
         E que em tais ocasiões confia ao silêncio a resposta devida ao falastrão?
          John McCain fará falta e muita. Não ao Partido Republicano, nem ao Democrata, embora fosse por ambos respeitado.  A sua presença cresce, como sói ocorrer aos grandes vultos. Ao invés da demagogia, ele não carece de muitas palavras para que se lhe sinta a própria falta, eis que a sua presença é feita de serena afirmação, corroborada por um passado que McCain soube trazer consigo, não carecendo nem de lisonja, nem de gratuitos louvores.
             Em momento em que muitos julgam mais oportuno recuar ou silenciar, McCain deu aos Estados Unidos o exemplo de  dedicação que se estendeu à cabeceira da própria soez enfermidade. Enquanto tantos recuam, ele optou por dar nesta hora o próprio testemunho, e como aqueles que não carecem de palavras, optou pela discrição, ao invés de túrgidas frases.
               Republicano que foi, a sua presença era grande demais para negar-se ao diálogo com os democratas.  Seria, por isso, respeitado já em vida, fenômeno raro em época em que o bipartidismo semelha algo do passado, como se a concordância nos grande temas nacionais fosse tabu aos integrantes dos dois grandes partidos.
                 Preside aos Estados Unidos alguém que tentou ofendê-lo em vida. Ledo engano! Como pode essa pessoa tentar rebaixá-lo, ele que é a própria negação deste  gigante americano?
                  Pelas suas características, pelo seu brilho, pela coragem e capacidade de transcender  às mofinas cercas das contraposições sectárias, John  McCain é personagem que os Estados Unidos devem assumir na sua luzente qualidade de unir ao invés de cindir, de enfrentar quando é preciso, e de reconhecer o que é justo, malgrado os eventuais rótulos, pois ele na sua coragem, na sua firmeza, e na respectiva e inerente justiça simboliza valores e princípios que as contingências da política jamais lograrão fazer esquecer e, pior ainda, menosprezar.

( Fonte: The New York Times )

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