Condenado a mais de
quarenta anos pela Lava Jato, Renato Duque, ex-diretor de Serviços da
Petrobrás declarou a três de agosto corrente ao Juiz Sérgio Moro, da 13ª
Vara Federal em Curitiba, que o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, o
ex-ministro José Dirceu e o PT dividiam dois terços da propina
arrecadada com os contratos de
plataformas para exploração de petróleo do pré-sal da Sete Brasil. Ainda
segundo Duque, a informação foi passada pelo ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.
Segundo o ex-diretor, um terço da
propina ia para a 'casa', o que designava a destinada aos executivos da Petrobrás e da Sete Brasil; os outros dois terços íam para o PT dentro da
'formula' estabelecida acima.
A motivação de Renato Duque de fazer
colaboração premiada se prende à circunstância de que teve acordos de
colaboração premiada com o Ministério Público rejeitados pelo MPF (ministério
público federal). Condenado a mais de 40 anos pela Lava Jato, Duque optou por colaborar diretamente com a Justiça.
Ao juiz Sérgio Moro, ele relatou que o
pagamento da propina "era institucionalizado". "Todos os
estaleiros pagaram", afirmou Duque. Nesse sentido, disse ele que ouviu de
Vaccari que ele era o homem do partido responsável pela arrecadação de propina de
parte política nos contratos da Sete Brasil, empresa criada em 2010 para
intermediar os contratos de plataformas, e que está em recuperação judicial.
Segundo Duque, Vaccari teria dito que o ex-ministro Antonio Palocci era o responsável
pelo acerto e dava as coordenadas de como seria distribuído. Os contratos
de plataformas feitos a partir de 2011
envolveriam, segundo ele, propina de 1%. Ao todo, eram mais de US$ 20 bilhões
em contratos.
Duque confessou ao Juiz Moro que
recebeu cerca de US$ 3,8 milhões de propina em negócio da Jurong com a Sete
Brasil. Ele relatou que o dinheiro foi
pago em conta aberta em Milão, no banco Cramer. Segundo Duque, os pagamentos da
Jurong e dos estaleiros internacionais foram destinados aos executivos da
Petrobrás e da Sete Brasil, chamado por eles de "casa". O valor dos
2/3, que, segundo Duque, eram destinados ao PT seria bancado por estaleiros
criados por empreiteiras como Odebrecht, OAS e UTC.
A par de apontar que a propina
destinada a Lula foi paga pelo estaleiro liderado pela Odebrecht, Duque relatou
que a parte destinada a Dirceu saiu do estaleiro da Engevix e o montante para o
PT saiu do estaleiro da Queiroz Galvão e Camargo Corrêa.
Na última sexta-feira, Moro ouviu
depoimentos de quatro réus do terceiro processo a ser julgado na Lava Jato,
envolvendo negócios dos 21 navios-sonda da Sete Brasil contratados pela
Petrobrás a partir de 2011. O caso é o da Jurong, que tem R$ 2,1 bilhão em
contratos com a estatal e envolveria propina de US$ 18,8 milhões.
A esse propósito, a defesa de
Vaccari disse que ele também foi interrogado por Moro nesta sexta-feira, mas
foi orientado a permanecer calado. "O tesoureiro nega no processo qualquer
envolvimento com arrecadação de propinas e ilícito." A assessoria de Lula
afirmou que "o ex-presidente teve todas as suas contas vasculhadas e
jamais recebeu valores ilegais ou teve em Palocci seu representante para
receber qualquer valor. Não vamos comentar declarações sem nenhuma prova
resos que buscam fechar acordos para obter benefícios judiciais."
Nesse contexto, a defesa do
ex-Ministro José Dirceu emitiu nota afirmando que "diante da situação em
que se encontra Renato Duque é absolutamente compreensível, que depois de anos
de prisão, diga o que seus acusadores gostariam de ouvir". O PT foi procurado pela reportagem mas não
deu retorno.
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
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